Em 4 de março de 2009, a Folha publicou – numa seqüência de exemplares da mesma artilharia pesada - um artigo criticando de forma agressiva a pressão do governador mineiro Aécio Neves pela realização de prévias democráticas no PSDB para a escolha do postulante à Presidência da República. Àquela altura, segundo a sempre oportuna prontidão do Datafolha, Serra teria 45% das intenções de voto, contra apenas 17% de Aécio Neves que mal disfarçava o propósito de implodir a blindagem em torno do rival paulista levando a disputa para fora do jogo de cartas marcadas arbitrado pela endogamia entre a cúpula tucana e a mídia do Sudeste. Os xiliques de Serra e a agressividade dos recados emitidos pela Folha demonstravam que nem um, nem outro, confiavam de fato nos confortáveis índices oferecidos à opinião pública interna e externa pelo instituto de pesquisas que ancora manchetes emergenciais do jornal da família Frias. É nessa linha de tensão que surge o artigo cujo título trazia uma insinuação cifrada de represália sem limite contra o mineiro, caso insistisse em se colocar na disputa contra o tucano paulista: “Pó pará, governador ?” era a chamada enigmática para alguns, mas inteligível para os círculos que já ouviram insinuações sobre o uso de drogas aspiráveis pelo governador de Minas Gerais.
A sombra da represália, na forma de munição ainda mais pesada, ficava explícita no parágrafo final do artigo-recado. Depois de denunciar o controle do mineiro sobre a imprensa do Estado [ ‘ em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos], o texto concluía com uma ameaça nada velada: ‘Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário. E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?’.
É desse campo minado por uma luta que dificilmente fará de Aécio um cabo eleitoral mais que formal de José Serra, que explodiu o resultado de anos de trabalho de um dos mais premiados jornalistas investigativos do país. A coleção de dados e cifras envolvendo a família, os amigos, assessores de confiança de José Serra, suas ligações societárias e eleitorais com a família de Daniel Dantas, o envolvimento do conjunto com privatizações e movimentos milionários de dólares dentro e fora do país em empresas de fachada – esse latejante paiol de nitroglicerina pura forma hoje um livro sucinto de 14 capítulos. A edição e possível veiculação do petardo depois da Copa do Mundo deixa o insone confesso José Serra cada vez mais distante de uma noite de sono dos justos. Pior que isso: torna mais improvável ainda que ela ocorra um dia na cama do Palácio do Planalto.
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