Reproduzido da CartaCapital: Investigada pela Polícia Civil por suposto superfaturamento num jogo “festivo” entre Brasil e Portugal, em 2008, a empresa Ailanto Marketing funcionou durante meses numa fazenda de propriedade do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. A polícia descobriu também cheques de 10 mil reais em nome do dirigente emitidos por Vanessa Precht, uma das sócias da empresa. As informações foram reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo.
As denúncias contra o dirigente máximo do futebol brasileiro, que sempre negou vínculo com a companhia, podem ter tornado sua permanência insustentável no comando da CBF. Segundo o blog do jornalista Juca Kfouri, Teixeira deve postar no site da CBF sua renúncia nesta quinta-feira 16.
Os cheques foram encontrados, de acordo com o jornal, em uma busca e apreensão feita no apartamento de Precht em 2011. A polícia também possui um contrato de março de 2009 entre os dois, cerca de quatro meses após jogo, para o arrendamento da fazenda de Teixeira por cinco anos no valor total de 600 mil reais.
A Ailanto pertence também ao presidente do Barcelona, Sandro Rosell – ex-executivo da Nike no Brasil e amigo de Teixeira há pelo menos uma década. Para realizar o amistoso, que marcou a reinauguração do estádio Bezerrão, a empresa cobrou 9 milhões de reais do governo do Distrito Federal, à época governado por José Roberto Arruda – preso e cassado em meio ao chamado “mensalão do DEM”. Os indícios de superfaturamento e irregularidades levaram o Ministério Público do Distrito Federal a mover, em 2009, uma ação de improbidade administrativa contra Arruda e o então secretário de Esportes, Aguinaldo de Jesus.
Com a revelação, o enredo repleto de denúncias e obscuridades de Ricardo Teixeira à frente da CBF tem mais um capítulo. Um documento obtido pela Folha de S. Paulo comprova que, por 26 meses, a Ailanto foi dona da empresa VSV Agropecuária Empreendimentos Ltda, sediada na fazenda de Teixeira em Piraí, a 80 km do Rio.
A narrativa se associa a Teixeira quando os sócios da VSV são revelados: Sandro Rosell, dono da Alianto, amigo de Teixeira e sócio da mulher do mandatário em outra empresa, e Vanessa Precht, secretária de Rossel.
Vanessa já havia aparecido em investigações da Polícia Civil de Brasília, quando descobriu-se que o apartamento dela constava como sede da Ailanto em 2008. Contudo, desde 2010, a Polícia Civil do Distrito Federal apura suposto superfaturamento em gastos da Ailanto no jogo.
A partir de agora, a história muda. O ocaso do manda-chuva do futebol brasileiro ficou mais nítido. Em outubro, o jornalista investigativo Andrew Jennings, autor do livro Jogo Sujo – O Mundo Secreto da Fifa (Panda Books, 351 págs., R$ 49,90), que denuncia um suposto esquema de corrupção na Federação Internacional de Futebol (Fifa) envolvendo Teixeira, disse à emissora de tevê ESPN Brasil que quer ver o cartola na cadeia. O britânico participou como convidado da Comissão de Educação, Cultura e Esporte no Senado nesta quarta-feira 26.
O jornalista da rede britânica de rádio e televisão BBC afirmou que Teixeira teria recebido nos anos 1990 cerca de 9,5 milhões de dólares e João Havelange, ex-presidente da Fifa, 1 milhão de dólares de propina via uma empresa de Liechtenstein. A companhia seria parceira da ISL, firma ligada à entidade máxima do futebol e responsável pelo marketing esportivo e negociações de transmissões de jogos na televisão. A companhia faliu em 2001.
Na audiência, Jennings apontou que a dupla brasileira foi investigada pelo governo suíço e Teixeira teria admitido os pagamentos irregulares. No entanto, a Fifa, segundo o jornalista, conseguiu embargar na Justiça da Suíça a divulgação do documento. “Blatter insulta a todos ao dizer que o relatório é legalmente muito complexo. Coloque o documento na internet agora, pois temos advogados que podem nos ajudar a compreendê-lo”, disse.
Apesar das evidências, Teixeira se safou de uma penalidade maior. Resta saber se sobreviverá à nova acusação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário