domingo, 17 de agosto de 2014

Os amigos do “Blue”

Por Darío Gomel - Jornalista Buenos Aires/Argentina - dariogomel@gmail.com
Na semana passada num programa de TV do grupo Clarim (canal 13), atravessaram todas as barreiras do senso comum (ainda que o senso comum seja, para alguns, o senso das maiorias, mas esse é outro debate). O dólar “blue”, novo fetiche dos “gurués” econômicos, conquistou um lugar que tivesse sido impossível se não posse pelo debate mídia-governo
Que é o “dólar blue”? É o dólar informal, o que não está registrado no mercado de capitais.  Devido às políticas de proteção da moeda nacional (Peso) o governo argentino adotou um plano protecionista para se alguém desejar adquirir a nota dos Estados Unidos deverá atravessar certos prazos legais. Então, como agora os “Franklins” são mais difíceis de conseguir, este dólar “blue” é mais caro do que dólar oficial. Si algum cidadão argentino o turista quisesse consegui-lo, pode fazê-lo nas chamadas “covas”; lugares não registrados onde também dizem que se conseguem reais
Por que esse fanatismo pelos dólares? O que o brasileiro tem que saber é que, até hoje, os argentinos utilizamos para fazer algumas trocas, dólares. O caso mais extremo e a compra-venda imobiliária. Ou seja, uma casa no típico bairro de Flores na cidade de Buenos Aires, ou em frente da Casa Rosada, custa em dólares. Este pensamento de poupar em alguma moeda internacional não e novo. Acontecia antes da chamada hiperinflação na volta á democracia, na crise, institucional de 2001, etc., Sobretudo, na década neoliberal, quando um peso era o mesmo que um dólar (O que significou a morte da indústria nacional).
Voltando ao show da tarde, o fato foi o seguinte: Uma jornalista contou que algumas covas agora também trabalham pela noite, pero que era inconveniente chegar até lá quando já está escuro pela... Inseguridade. Sim, isso aconteceu uma tarde tranqüila em Buenos Aires, enquanto falavam da economia doméstica
  Livremente, ela deu conselhos para fazer da melhor maneira as compras, como se as financeiras fosse uma cadeia de roupa ou a padaria. Também aproveitou e fez referencia á inseguridade, outra ponta de lança do jornalismo liberal. E quando já parecia que não era possível dizer uma coisa dessas características, justificaram a não compra de divisas de maneira legal porque quase com certeza alguém baterá um pau na cabeça para pegar o dinheiro do comprador.
O comércio do “blue” é um delito. Não é discutível. Falar dele só produze o desespero da gente e corridas bancarias quase estúpidas num sistema capitalista que se projeta como maduro. 
Depois, no show, o debate mudou e eles esqueceram o tema. Já não era importante. Porém, sabem que são formadores de opinião. Ainda não sejam os repórteres mais conhecidos, pero a audiência da tarde agora sabe que pode conseguir notas americanas pela noite e que é melhor ir acompanhados. Uma situação surreal, delitiva, aceitada e divulgada.
É justo explicar que agora, quando se anuncia de que forma fechou o dólar na semana, também falam do blue, por exemplo, os respeitados economistas (ou abutres locais em muitos casos)
As reflexões podem ser várias, e a mais comum é que isso que dizem não é jornalismo; é outra coisa. A pergunta é... O que eles estão fazendo?

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