Dilma será a cara do PT em 2010. Mas como será a cara de Dilma?
Por Gustavo Krieger - Correio Braziliense
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O PT já se conformou em ter a ministra Dilma Rousseff como candidata à Presidência da República em 2010. O termo que descreve o sentimento da legenda é esse. Não se encontra na direção do partido nenhum defensor apaixonado da idéia. No governo, a candidatura da ministra da Casa Civil provoca muito resmungo. Mas ela tem o único voto de que precisa por enquanto: o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele ungiu Dilma e, diante da relação de dependência que o partido estabeleceu com o presidente, ninguém vai desafiá-lo. As questões que ocupam as principais cabeças petistas são outras: qual será o caráter da candidatura de Dilma? Ela tem chances de vencer os candidatos tucanos, que aparecem mais bem colocados nas pesquisas? E o que acontecerá ao PT depois de 2010, vencendo ou perdendo as eleições presidenciais?
Ninguém tem as respostas. Dilma pilota hoje uma não candidatura. Sabe que um dos motivos que levaram o presidente a escolhê-la foi a lealdade absoluta que sempre demonstrou. Lula acredita, com toda a razão, que seu mandato começa a acabar no dia em que a sucessão começar. Por isso, adia o quanto pode seus movimentos. Além disso, a ministra não tem conselheiros políticos. Continua a agir dentro do governo como uma grande gerente. Discute programas do governo, mas nada que se assemelhe a desenhar um projeto político.
Não que ela deixe de ser política. Ao contrário. Dilma é uma militante. Sempre foi. Tem posições políticas pessoais firmes e estabelecidas. Mas uma candidatura presume um programa construído coletivamente. E isso ela não faz. É um erro imaginar que, se for presidente, ela será uma mera continuidade de Lula. Quem conhece os bastidores do governo sabe que, apesar de todo o seu poder, Dilma foi voto vencido em muitas questões importantes. Questões onde a opinião dela não fechava com a do presidente. Nesses casos, a disciplina falou mais forte e ela não externou as divergências. Mas elas existem. E nem Lula acredita que ela poderá ser teleguiada se ocupar o principal gabinete do Palácio do Planalto. Mas se Dilma não é Lula, quem ela seria como presidente? Essa é uma das questões que inquietam os petistas, inclusive dentro do governo. Uma candidatura implica programa, compromissos. E isso precisa ser negociado com os aliados. No momento, os petistas não se sentem protagonistas desse processo.
Para complicar, o PT terá de se reinventar nas eleições de 2010. Para o bem e para o mal, a experiência do governo Lula esgotou o modelo construído pelo PT. De um lado, os escândalos políticos e os acordos construídos retiraram do partido o discurso udenista que marcou parte sua história. Por outro, boa parte das propostas da legenda se tornaram realidade, como os programas sociais e a redução das desigualdades. Como os tucanos descobriram, depois de algum tempo, as conquistas e benefícios sociais passam a ser contabilizados como direitos adquiridos e deixam de ser elementos definidores de voto. O controle da inflação foi suficiente para reeleger Fernando Henrique em 1998, mas não deu a vitória a José Serra em 2002. O Bolsa Família e o crescimento econômico reconduziram Lula em 2006, mas podem ser pouco para eleger Dilma.
Até porque os dois presidenciáveis tucanos, Serra e Aécio Neves, já deixaram claro que não farão campanha contra o governo Lula. Pretendem olhar para frente, no melhor estilo Obama. Se quiser vencer, o PT terá de apresentar uma perspectiva de futuro. E hoje o partido não sabe qual é. Dilma será a cara do PT em 2010. Mas como será a cara de Dilma? Será a primeira vez que o PT disputará uma eleição presidencial sem Lula à frente da chapa. Supostamente, seria um momento em que as forças internas se agitariam na luta para definir como será o partido no pós-Lula. Até aqui, poucos se dispuseram a esse movimento. A maioria continua presa a uma lógica meramente eleitoral, preocupados em saber quantos pontos a candidata escolhida pelo presidente consegue nas pesquisas. Se o partido não se repensar, será refém do resultado eleitoral. Se a aposta de Lula der certo e Dilma tornar-se presidente, o PT continuará a tirar sua força da máquina estatal. Mas, e se ela perder?
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