sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Escolhida por Lula, Dilma ainda tem desafios até 2010

Por Raymond Colitt: Dilma Rousseff, a ministra-chefe da Casa Civil e a escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo no cargo, está intensificando sua campanha para a disputa de 2010, inaugurando projetos de obras públicas, participando de reuniões do PT e até mesmo de desfiles do Carnaval. Apelidada de "Dama de Ferro" pela mídia, a ex-guerrilheira de esquerda recebeu o apoio do PT este mês para ser a candidata do partido no ano que vem. Mas Dilma, que nas pesquisas de opinião aparece quase 30 pontos percentuais atrás de seu provável rival, não tem o carisma e as admiráveis habilidades políticas que fizeram de Lula o presidente brasileiro mais popular talvez de todos os tempos. Enquanto ela promete manter as políticas de centro-esquerda de Lula, analistas dizem que ela poderá ser mais rigorosa na condução da economia que Lula.
"Ela acredita em governo forte", disse Ricardo Ribeiro, analista da empresa de consultoria MCM. "Temo que ela não aceite a independência do Banco Central como Lula o fez --os mercados financeiros não vão gostar disso." A interferência na política monetária não seria bem recebida pelos bancos, que registraram lucros recordes nos anos recentes, em parte porque o Banco Central insiste em altas taxas de juros para conter a inflação. Mesmo assim, muitos empresários gostam de Dilma, filha de um advogado e empresário de origem búlgara, que supervisiona um amplo plano de obras que os beneficia. Ela apoiou medidas recentes para fortalecer os bancos estatais e insistiu para que a Petrobras explore grandes reservas de petróleo apesar da atual crise financeira. Dilma, que tem 61 anos e que no passado participou ativamente de grupos de guerrilha urbana que lutaram contra a ditadura militar entre 1964 e 1985, também defende um maior controle por parte do governo sobre órgãos reguladores da indústria.
Economista que estreou na política no Rio Grande do Sul, ela é vista mesmo por políticos da oposição como uma administradora eficiente. "Ela é uma executora e sabe como as coisas funcionam neste país e isso só pode ser bom", disse Gilmar Eldo de Andrade, prefeito de Abreulândia, no Tocantins, pelo oposicionista DEM. Presa e torturada durante o governo militar, Rousseff é persistente e centraliza a tomada de decisões, dizem assessores de Lula. "Ela coloca a sua caneta vermelha em quase o tudo o que passa por aqui", disse à Reuters um assessor presidencial.

HABILIDADES POLÍTICAS EM XEQUE - Analistas, no entanto, questionam se Rousseff tem as habilidades para lidar com deputados e senadores e manter unida uma coalizão tão diversa como a de Lula, com 11 partidos. "As habilidades políticas dela são uma incógnita", disse Ribeiro. No ano passado, o PMDB, que então buscava mais cargos nas empresas estatais, deu-lhe de presente um bambolê como uma indicação de que ela precisava ter mais flexibilidade ao negociar com os aliados do governo. Numa convenção recente do PT, a sua defesa da política econômica deveria sobrepujar os críticos que compartilham dúvidas como essa e ainda a vêem como uma 'outsider' proveniente de outro partido de esquerda, dez anos depois. Apesar de ter sido bastante aplaudida na convenção, alguns líderes do partido não pareciam inteiramente convencidos de sua candidatura. "Estamos em paz --é Dilma. O presidente avaliou e ela teve seu espaço", disse Candido Vaccarezza, líder do PT na Câmara dos Deputados. As pesquisas de opinião mostram Dilma atrás do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por quase 30 pontos percentuais. Ambos esperam a indicação formal dos partidos nos próximos meses. Serra, de 66 anos, que é de centro-esquerda, perdeu a eleição para Lula em 2002, mas ganhou prestígio desde que se tornou governador no começo de 2007. Assessores de Dilma acreditam que ela será ajudada pela exposição crescente na mídia assim que for confirmada como candidata do partido e a campanha obtiver maior apoio. Lula participará da campanha e o forte apoio de eleitoras querendo uma mulher na Presidência deverá reduzir essa diferença, afirmam. Aconselhada a suavizar sua fala e o visual de tecnocrata, Rousseff recentemente se submeteu a uma cirurgia plástica facial, tem feito mais aparições públicas e se misturou à multidão durante o Carnaval em Pernambuco. Diferentemente de Lula, porém, que com freqüência é festejado como um astro do rock em todo o país, a ministra ainda parece cerimoniosa e tem dificuldade para se conectar com o público. Felizmente para ela, Serra, seu provável rival, também é visto por muitos como um burocrata insípido. (Reportagem adicional de Fernando Exman e Ana Paula Paiva).

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