Norma Moura, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - O governo nega. O PT nega. Mas a oposição garante que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não perde uma oportunidade para catapultar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República em 2010. A prova seria a “onipresença” da ministra no fim de semana de perambulações por obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), além de sua presença no Fórum Social Mundial em Belém, quando o PT organizou uma mesa para debater, justamente, a situação das mulheres nos espaços de poder. O Planalto bate na tecla da necessidade de maior representatividade feminina no poder, algo ainda incipiente, como mostra a pesquisa do Ibope sobre o tema divulgada nesta segunda-feira. E o discurso cai como uma luva para a ministra de maior destaque no governo, que tem contado até com a forcinha da agenda presidencial. Sem desprezar esse poderoso gancho, o presidente Lula marcou presença nesta segunda em Brasília no seminário Mais mulheres no poder: uma questão de democracia. Enquanto o presidente aproveita sua popularidade para emprestar carisma à imagem da pré-candidata do PT à disputa eleitoral do próximo ano, a oposição vocifera contra o que classifica como campanha eleitoral antecipada.
– É ilegal o que está sendo feito. É campanha eleitoral, nada a ver com gestão – protesta o líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal. – Vamos saber se essas viagens em jatos da FAB para obras do PAC serviram também para comemorações do Dia Internacional da Mulher e agenda política. Caso isso tenha acontecido, ela terá de devolver o dinheiro – anuncia Aníbal.
O partido da ministra devolve as acusações de campanha fora de hora.
– Quem está fazendo campanha antecipada é o PSDB – acusa o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vacarezza, referindo-se à disputa entre os governadores José Serra e Aécio Neves para a escolha do candidato tucano à presidência. – É natural que a ministra mais importante do governo viaje para fiscalizar as obras – defende o petista.
A oposição discorda e acusa o governo de usar o PAC para fazer promoção ilegal.
– Afora a propaganda, não sobrou nada dos cerca de R$ 22 bilhões do programa. Apenas 0,6% do orçamento do PAC foi executado até agora – dispara Aníbal.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, toda a movimentação dos últimos meses tem mesmo forte característica eleitoral.
– A Dilma é uma primeira-ministra do governo. Tudo o que puder ser faturado em nome dela será feito pelo PT e o governo – avalia Barreto. – Ela vai aproveitar o fato de ser mulher para levantar a bandeira do woman power, seguindo o movimento ocorrido na Argentina e no Chile, e também nos Estados Unidos, com a força demonstrada por Hillary Clinton – conjetura o cientista político.
Discurso e ação - Apesar do alinhamento de discursos do PT e do presidente Lula sobre a necessidade de corrigir a real desigualdade de poder entre homens e mulheres na esfera política, o empenho que tem servido à ministra Dilma Rousseff praticamente desaparece quando o assunto é reforma política. Ainda que a ministra trilhe um percurso de impacto rumo à presidência, a questão da representatividade feminina na política deve continuar em segundo plano, ao menos no que depender da proposta de reforma política enviado pelo governo ao Congresso.
– De fato, a proposta não traz nenhuma ação afirmativa nesse sentido, mas esse é um debate necessário, que deve ser feito mais à frente – admite Vacarezza.
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