sábado, 9 de maio de 2009

DILMA - FATOR CÂNCER - PARTE 2

Revista IstoÉ: Há exceções à regra. Moema Gramacho, prefeita reeleita de Lauro de Freitas (BA), enfrentou a campanha de 2008 com um câncer de mama e colheu dividendos eleitorais. "Tirei de letra porque tinha uma meta forte e motivadora que era vencer as eleições e dar sequência ao nosso projeto no município", conta a prefeita. Outro exemplo é o da então candidata do PFL à Presidência da República em 2002, hoje governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Antes de ser abatida pelo caso Lunus, ela teve sua popularidade ampliada, quando revelou em programa de televisão ter sido vítima de câncer.
EM CAMPANHA O governador Eduardo Braga (AM), Dilma, Lula e operários, dois dias após ela anunciar seu diagnóstico

"Já é tempo de enfrentar esse estigma", afirma o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini. "A população precisa saber que o tratamento da doença evoluiu ao longo dos últimos anos. A doença não é mais sinônimo de morte", acrescentou. Na década de 1970, segundo o Inca, seis em cada dez pacientes com câncer morriam até cinco anos depois do diagnóstico. Hoje, o quadro é exatamente o oposto: 60% a 70% superam a doença. Há 15 anos, a detecção de câncer nos testículos era uma tragédia anunciada. Agora, resulta em cura em 95% dos casos. Na política, por exemplo, são vários os casos em que o presidente de um país enfrentou o problema no exercício do mandato. O presidente da França François Mitterrand passou oito dos seus 14 anos no poder se tratando de um câncer de próstata. Só morreu depois que deixou o cargo. Ronald Reagan, presidente dos EUA nos anos 1980, também sofreu de câncer de pele durante seu mandato. Morreu bem depois, de mal de Alzheimer.

É esse o recado que o governo Lula começa a disseminar. Ou seja, o de que Dilma não terá problemas em ser a candidata. Embora tenha concordado com a divulgação da doença e dito que será preciso "orar" pela ministra, Lula suavizou o discurso no fim da semana. No Acre, disse que o pior já passou. "Agora os procedimentos são para a manutenção do seu quadro estável", acrescentou o presidente, que foi informado da existência do câncer pela ministra um dia antes de a notícia chegar ao público. Alguns integrantes do governo deixaram escapar que a superação do problema poderia ajudar a campanha de Dilma. "A ministra tem uma trajetória de luta. Imagino que ela possa se fortalecer. Ela já venceu muitos desafios", disse o ministro da Educação, Fernando Haddad. Marcos Coimbra alerta, no entanto, que não se pode confundir humanização da candidata com exploração política da doença. "Você humaniza uma candidata mostrando que ela tem sensibilidade social e preocupação com os problemas enfrentados pela população, não explorando uma doença. Senão fica apelativo e o povo percebe isso." Ainda segundo Coimbra, há o risco de a população não compreender o motivo pelo qual uma pessoa disputa a Presidência mesmo estando doente. "Vai ficar parecendo que ela quer se fazer de vítima, e isso é contraproducente."

"A doença humaniza a candidata, mas a torna mais vulnerável, porque vai sempre suscitar uma interrogação"

Antonio Lavareda, cientista político

Dilma negou que esteja havendo uma exploração do tema. Em discurso, em Manaus, na segunda-feira 27, disse que seria de mau gosto tirar vantagem do seu quadro clínico. "Não vi, até agora, nenhuma conduta exploratória por parte de ninguém. Seria de muito mau gosto tentar, de uma forma ou de outra, explorar no sentido negativo ou positivo a doença", avaliou. Por enquanto, ela tem razão. Seus potenciais adversários tucanos trataram o assunto com respeito. "Considero até indelicado dar qualquer opinião sobre envolvimento eleitoral do problema por que passa a ministra", disse o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. "Especular eleição com doença não é apropriado. Já desejei a ela pronto restabelecimento e ponto final", afirmou o governador paulista José Serra.

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