domingo, 17 de maio de 2009

DO BIOPODER À ÉTICA DO CUIDADO COM A SAÚDE

Francisco Antônio de Andrade Filho.
Na primeira entrevista exclusiva concedida a um jornal, Dilma Rousseff, anunciou que enfrentará um tratamento de câncer. Forte, otimista e cheia de fé em Deus e nela mesma, bradou: “vou vencer o inimigo”. E sem medo de ser feliz, falou: “A medicina avançou muito. Antes, o câncer não era uma doença, era uma sentença. Hoje, é tratável, curável. Eu tive a imensa sorte de ter detectado num estágio preliminar; e acho que tudo isso mostra a importância da prevenção”. Essa, a postura ética do cuidado com a saúde integral da mulher e do homem. É seu poder de vida. De cuidado com a saúde do corpo e da alma. É seu biopoder. Enquanto isso, o descaso com a saúde é treva na voz insana e irresponsável de um político. Foi em 27 de abril. Aconteceu em Ribeirão Preto/SP. Serra afirma que gripe suína é “dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram ou quando a pessoa chega perto do nariz do porco”. Essa, a expressão simbólica da vacina “serra-suína”, fabricada pelo biopoder sem a ética do cuidado com a saúde.
E questiono: por que uma filosofia da arte clínica? A saúde é um direito ou dever? Na discussão sobre bioética, a temática de equiparação entre o médico e o filósofo, da relação medicina-filosofia, na integração de seus saberes, pode, talvez, suscitar algum questionamento importante. Principalmente, quando, em nossos dias, a evolução dos aparatos médicos é tão grande, que temos, muitas vezes, vontade de superar a finitude humana e instaurar um reino de utopias, de “preocupações e razões de esperança”, no qual, pela ajuda da técnica e do desenvolvimento científico, o homem possa desafiar a morte. Provoco um debate inicial com Galeno, ao escrever: ”O melhor médico é também um filósofo”. E no encontro com Erisímaco, médico – filósofo, li seu pensamento: ”Sim, há dois Eros. Médico, eu o sei, pois ele não se ocupa apenas dos corpos, mas também das almas. Médico, porém, sei que Eros é mais vasto, que seu poder não se limita aos homens, mas estende seu império a todos os seres”. Na visão cartesiana, o corpo aparecia como uma máquina amiúde necessitada de ser reparada através de tratamentos particulares e intervenções impessoais. Na visão sistêmica, ao contrário, o corpo hoje é visto como um sistema complexo de partes interativas onde o corpo e a mente não são separáveis.
É necessário um novo modelo de empresa terapêutica, uma "medicina de relação", antes da medicina de órgãos, que recupere a totalidade do ser humano e considere o paciente como pessoa na unidade de todas as suas dimensões. É nesta "aliança terapêutica" entre médico e paciente, que pode animar uma nova cultura da saúde que evite a "coisificação" do paciente e a perda da humanidade na arte médica. O homem é corpo, psique, espírito, história, sociedade. Lembro-me ainda que, aos 2002, a Organização Mundial da Saúde redefiniu cuidados paliativos, assim: “Uma abordagem que aprimora a qualidade de vida, dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual”.
Filósofo, testemunho que o olhar desses profissionais do cuidado, se envolve com questões existenciais - a dor e o sofrimento humanos não apenas dor física -, mas a mental, social e espiritual. O ser humano como um todo, um nó de relações. É corpo. É alma. É profissional. Ama e sofre. É a mulher-mãe. É a ministra da Casa Civil, a primeira mulher presidente em 2010.

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