domingo, 3 de maio de 2009

Lula, Dilma e Coutinho para negociar o Pós-Kyoto

Noblat: Desde o segundo mandato de Fernando Henrique, o Brasil vem ampliando a omissão diante das negociações sobre as mudanças do clima. Pautado pelo Itamaraty, o governo Lula manteve o País longe do protagonismo positivo que marcou as primeiras discussões do Tratado de Kyoto, quando éramos reconhecidos como negociadores ativos e criativos. Deixamos de lado esse protagonismo por conta de um crescimento econômico à base do desmatamento radical, da exportação de natureza bruta e da consequente explosão das emissões de gases poluentes, que nesse período nos levaram ao insustentável posto de quarto maior poluidor mundial.
A conjuntura atual é outra e está perfeita para o Brasil retomar a importância que já teve no assunto clima. Obama sinalizou que os EUA adotarão posição diferente daquela verificada durante a tragédia da Era Bush e que podem destravar o debate sobre o Pós-Kyoto, a engenharia institucional que vigorará no clima a partir de 2012, quando termina a vigência do Tratado de Kyoto. E ainda por cima há o fato de os efeitos mais dramáticos das alterações no clima ficarem cada vez mais frequentes e visíveis. A cara estampada nos jornais dos primeiros refugiados ambientais que em várias partes do mundo são obrigados a deixar seus locais de moradia devido às mudanças no clima agora começam a mobilizar diversas autoridades.
Porém, se de fato o presidente Lula perceber a gravidade e a oportunidade do momento, e decidir aproveitar a conjuntura favorável, precisa mudar a forma como o Brasil negocia a suas posições sobre o clima. Deve assumir ele próprio a chefia da representação brasileira e readequar a equipe de negociadores. O Itamaraty precisa se limitar a orientar sobre os ritos e as formalidades diplomáticas. Mas, a lógica da negociação tem de ser assumida por aqueles que, na estrutura do governo, comandam o modelo econômico baseado na exploração massiva de natureza e que se constitui na principal causa das emissões do Brasil. Assim, a Ministra Dilma Roussef, operadora-chefe do modelo, precisa ter sua responsabilidade colocada à prova e passar a integrar o grupo de negociadores. Junto devem estar representantes do sistema financeiro estatal, que derramam rios de dinheiro em atividades econômicas destruidoras de florestas. Nesse caso, o nome mais indicado é Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Embora rejeite ter responsabilidade, seu Banco viabiliza projetos devastadores de natureza de norte a sul do País. Os Ministros do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia até poderiam compor o grupo.

Ainda há sete meses para o presidente Lula definir uma nova postura na questão do clima. É o tempo que resta até a realização da 15ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas na Dinamarca. O presidente do “nunca antes nesse País” precisa ter a generosidade, a grandeza e a ousadia de assumir as rédeas do processo, porque esta talvez seja uma das últimas oportunidades para se definir medidas concretas para diminuir as emissões de gases causadores do aumento da temperatura na Terra. Carlos Tautz é jornalista.

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