O Pai da Nova República com a Colcha de Retalhos da Velha.
O neoliberal conservador estava em Vitória do Espírito Santo. Foi em 1985. Vi de perto. Na sua habilidade carismática, própria dos autocratas, Tancredo de Almeida Neves decidiu, projetou e sutilmente anunciou “a construção de uma Nova República [...] a grande oportunidade de nosso povo”. E no espelho da multidão, tornou-se o Pai da Nova República do Brasil com a colcha de retalhos da Velha. Foi nessa capital capixaba que Tancredo Neves percebeu a ação das massas. Com sua retórica verbal, o pai se transforma para elas no símbolo de emancipação humana, num herói de guerra sem combate; num protagonista da história de escravos; no reprodutor da Nova República. Embora não repetido, essa criação política tornou-se sinônimo de Estado Novo de Getúlio Vargas, com traços novos construídos pelo trabalho humano.
De um lado, o mérito do genitor desse novo tempo, se resume na astúcia de ouvir a voz do povo, de tramar mecanismos para controlar as mesmas massas. De outro, domesticá-las, com a linguagem de um novo discurso ideológico – a mentira maquiavélica -, como se fosse capaz de realizar a felicidade do povo. E revestido com o manto sagrado da política – todavia profanado com remendos falseadores da velha -, Tancredo afirma: “Temos um povo com a consciência de uma força e de seu destino. Os duros sacrifícios transformaram-se, pelo milagre da fé, na impetuosidade cívica dos últimos meses. Não há quem possa fazer recuar”. E com gesto ameaçador, grita para as multidões: “Ai dos que pretenderem violar esta unidade, manchar esta bandeira de esperança”. Além disso, mais ingredientes ideológicos são colocados pelo mineiro de São João Del Rei, na construção da Nova República do Brasil. Desta vez, é a participação popular que deve ser respeitada no sentimento de solidariedade da cidadania, de sua consciência política. Porém, sua preocupação central, é a tarefa de mandar nas massas, sem deixar de fermentá-las para atingir outros objetivos, outras metas.
Para ele, os problemas graves são aqueles que ferem o povo no que ele tem de essencial, nos anseios de profundas transformações sociais e econômicas, de demandas da sociedade civil. E qual Messias, numa paródia do profeta Isaias, Tancredo adverte: ”Chega de proclamarmos, para aplacar a consciência, o direito de todos ao trabalho. É hora de transformar tais intenções em fatos concretos. E é hora também de pagar salários justos aos que produzem”. É tempo de edificar um Estado brasileiro - pensa ainda o Tancredo da Imaginária Nova República -, não outorgado pelas elites do poder, mas que erga da consciência coletiva, como resposta a anseios e necessidades. De leis que sejam a organização social da liberdade, a solução dos problemas do povo. De normas e leis exigidas pela moralidade e eticidade da sociedade humana. Esse agir do pai da Nova República merece ser comentado pelos internautas dos blogs Desabafo e Dilma, entre outros. A parte dois, discutida aqui, sugere trilhas em busca da tarefa ideológica do neoliberal Tancredo de Almeida Neves:
- Desta vez, percebe-se que a voz do genitor da Nova República teme as massas. Com Elias Canetti, reconhece a impetuosidade das massas em silencio, no primeiro momento; e com ruídos, no segundo passo. Caminha ou corre. Para as massas, não existem “portas fechadas”. Ataca a todos. E “destrói uma hierarquia que deixou de ser aceita”.
- Parecia ser a massa cansada de “apenas contemplar o Brasil do “milagre econômico”. Mesmo sem as reais condições históricas,, queria “transformá-lo”. E, assim, “de todos os lados, pessoas começam a afluir como se todas as ruas tivessem uma mesma direção”.
- É a massa que se abre, porque “quer crescer até o infinito”, mas por outro, se fecha, porque encontra obstáculos internos e externos. É sua fraqueza na força,, a calma na violência de massas.
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