Gerson Camarotti - O Globo - BRASÍLIA - Depois de seis anos ausente da articulação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a surpreender os aliados mais próximos ao assumir o comando político de seu governo. Nas últimas semanas, ele colocou entre suas prioridades não só as negociações para a sucessão presidencial, mas, principalmente, as relações políticas com o Congresso Nacional, que estavam abaladas. A mudança de comportamento foi muito mais por necessidade, do que pelo desejo pessoal. O novo comportamento de Lula tem dois objetivos claros: o primeiro, o de emplacar a candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para 2010, e o segundo, para controlar a CPI da Petrobras.- É excelente que o presidente Lula comece a assumir o processo político como um assunto cotidiano. Isso ocorre porque a economia está no rumo com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do BC, Henrique Meirelles, e a administração do governo vai bem com Dilma, inclusive o PAC - observou o presidente do PT, Ricardo Berzoini, para depois completar:- Lula está vendo que chegou a hora de tomar decisões. Esse é o momento das definições políticas. Num prazo de oito meses, tem início o clima eleitoral. Por isso, o presidente sabe que precisa estar mais presente no cenário político e não apenas no governo.
O papel do governante nessas articulações é fundamental - disse Berzoini.Tudo o que o presidente não quer na reta final do seu governo é ficar refém politicamente do Senado com as investigações em cima da principal empresa do governo. Com essa atuação, Lula tenta blindar o seu mandato nesses últimos 18 meses de administração, quando normalmente os governos ficam enfraquecidos politicamente.
- É a necessidade que faz o presidente Lula estar mais em evidência. Está claro que o grande articulador político do governo é ele. É a liderança do presidente que se impõe nesses momentos _ resumiu o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, numa referência clara ao empenho pessoal de Lula para definir as indicações governistas para a CPI.
Com a base aliada rachada, principalmente por causa da disputa entre os senadores Renan Calheiros (AL), líder do PMDB, e Aloizio Mercadante (SP), líder do PT, Lula teve que agir para e evitar que o governo ficasse fragilizado na comissão de inquérito. Na terça-feira, depois de retornar de uma viagem para a Bahia, ficou até às 23h30 fazendo ligações para senadores para resolver as indicações.No dia seguinte, o presidente acordou cedo para curar as feridas. Chamou Mercadante para uma conversa, depois que ele foi excluído das indicações. O líder do PT insistia em fazer parte da CPI. Lula percebeu que isso seria comprar uma briga com o Renan, que vetava Mercadante.O maior temor do presidente era que o peemedebista colocasse exclusivamente a sua tropa de choque, já que ele resistia em incluir na CPI o nome do líder do governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Preferia nomes mais periféricos, e que ele pudesse controlar.A entrada de Jucá na CPI foi a moeda de troca para a retirada de Mercadante. O Lula ficou mais tranqüilo porque conseguiu indicar Jucá e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvati (PT-SC), e evitou um racha na base, o que seria fatal para o governo, pois enfraqueceria a posição do Planalto na CPI.A mudança de comportamento de Lula chama atenção dos aliados, principalmente por causa de sua conhecida resistência para cuidar das articulações partidárias e com o Congresso. Na eleição de 2002 e durante parte do primeiro mandato, repassou essa tarefa para o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Hoje, Lula faz avaliações reservadas que errou ao delegar para o ex-ministro tanto poder.Depois, o presidente entregou o cargo para articuladores mais pacíficos, porém com força política limitada. Por isso, nessa fase de definições ele precisou entrar em cena. Seja para negociar a CPI, seja para empurrar com a barriga a pressão do PMDB pela definição dos palanques nos estados.Foi dele a estratégia de lançar a Dilma precocemente para ganhar espaço. Agora, ele tem que acomodar a pressão dos aliados e administrar esses meses de tratamento de saúde da ministra, sem enfraquecer a candidatura dela. Lula deve, inclusive, assumir mais a agenda do Programa de Aceleração do Crescimento na ausência da chefe da Casa Civil.
- A articulação política passou a ser uma questão fundamental, já que a disputa está chegando. Por isso, Lula será uma peça decisiva na condução da candidatura da Dilma e na montagem das alianças. O presidente nunca gostou muito de articular o Congresso. Mas, agora, sabe que agora terá que estar mais presente. Até porque o cenário é muito difícil no Senado e por isso ele precisa se dedicar mais - admitiu Aloizio Mercadante. Até mesmo a oposição já reconhece que a estréia de Lula na articulação política fortalece muito o governo e que isso deve começar a desequilibrar o jogo em favor do PT. Para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi a liderança pessoal de Lula que uniu o partido em torno da candidatura de Dilma.
- A estréia de Lula nesse cargo é bom para o governo e ruim para a oposição porque ele é competente. O presidente é um articulador político de mão cheia. Unificou o partido em torno de Dilma e colocou a candidatura dela na rua. Além disso, passou a atuar com força no Congresso - observou Guerra.
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