Márcia Denser* - No último 20 de maio, li um texto memorável do Emir Sader: ele diz tudo o que eu pretendia a respeito da CPI da Petrobras. Na verdade, o primeiro pensamento que me ocorreu foi dito pelo presidente Lula, dias antes, ao embarcar para a China. Ele comentou algo como “CPI da Petrobras? Esses caras não têm mais o que fazer?”. Pois é, que merda. Esses caras não desistem: intermediar a entrega da Petrobras, como se fosse deles, para o Capital Internacional só pra ficar com um troco pela operação e a eterna gratidão do Big Brother pelos bons serviços de sempre. Só que o Big Brother já não agradece como antigamente, vide coluna Os Que Não Foram, onde comento que uma reles medalha foi tudo o que Tony Blair ganhou de Bush por ter apoiado as guerras de Washington. Mas, esta é a marca registrada do nosso subcapitalismo desigual e combinado – que combina a iniqüidade do atraso com a truculência do progresso. Sempre buscando representar o irrepresentável: a burguesia nacional que já não manda; o capital financeiro, que é o obstáculo ao desenvolvimento pois já se desligou de qualquer representação de classe, e cujos interesses promovem a exclusão – eis a contribuição genuinamente brasileira à práxis política global. A união ideal do Inútil ao Desagradável: estamos exportando entreguismo de ponta! O eterno gigante bobo adormecido com seu chocalho multinacional. Nosso sub-horizonte eleitoral “avança” em “marcha a ré para trás”, sinalizando, em 2010, com o que nos espera se ocorrer o retorno ao poder “desses caras que não têm mais o que fazer”. Mas vamos ao texto do Emir, do qual reproduzo alguns trechos:
“Dia 26 de dezembro de 2000, um dia depois do Natal, o povo brasileiro foi surpreendido por mais uma medida antinacional do governo FHC. O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, anunciou que a empresa estava mudando seu nome comercial para PetroBrax. Segundo ele, o objetivo seria “unificar a marca e facilitar seu processo de internacionalização” (sic) (FSP, 27/12/2000). Afirmou ele que “a medida ganhou na semana passada o aval do presidente Fernando Henrique Cardoso”. Segundo Alexandre Machado, consultor da presidência da Petrobras, a operação custaria à empresa 50 milhões de dólares, para realizar um projeto da agência paulista de design Und SC Litda, “contratada sem licitação”, segundo o presidente da Petrobras. “Um dos argumentos favoráveis – relata a FSP – foi que o sufixo “bras” estaria, internamente, associado à ineficiência estatal. No front externo, um dos argumentos para a mudança da marca é de tirar a associação excessiva que o nome Petrobras tem com o Brasil. Segundo Norberto Chamma, diretor da Und, que apresentou a nova marca ontem para jornalistas, a desvinculação é importante para que a empresa não seja obrigada a arcar com os ônus dessa ligação.” (sic)
Ligação com quem, cara pálida? Com o Brasil? Com os brasileiros? Ou com nossa elite política? “A direita subestimou a capacidade de resistência do povo brasileiro. Mas a operação durou apenas algumas horas. Apesar da tentativa de pegar o povo distraído entre Natal e Ano Novo, em dois dias o governo teve que retroceder da sua vergonhosa tentativa de preparar a maior empresa brasileira para “facilitar seu processo de internacionalização” – não há melhor confissão da intenção de privatizá-la do que a venda de ações na Bolsa de Nova York. O país estava submetido à nova Carta de Intenções do FMI, depois que o governo tucano de FMC e de Serra ter quebrado nossa economia pela terceira vez, havia indícios claros que a privatização da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil faziam parte das contrapartidas dos novos empréstimos que o FMI concedia ao governo de FHC. 26 de dezembro foi um dia da vergonha nacional, com essa tentativa fracassada de tirar o nome do Brasil da Petrobras, para tirar a Petrobras do Brasil. Sabemos que FHC estava totalmente de acordo.
Seria bom saber onde andavam e que atitude tomaram os que agora dizem se preocupar com a Petrobrás. Que posição teve, por exemplo, José Serra diante dessa ignominiosa atitude do governo a que ele pertenceu? E as empresas da mídia e seus funcionários colunistas? E que atitude tomaram os senadores, agora tão interessados nos destinos da Petrobras, ao subscrever o pedido da CPI, quando a existência mesma da empresa estava em jogo? O certo é que estavam centralmente ocupados em apoiar o governo que tentou privatizar a Petrobrás, - que fez um balão de ensaio no dia 26 de dezembro de 2000 - mas teve que recuar, e agora tenta voltar à carga, no momento em que se discute a nova regulamentação da exploração do petróleo e todo o processo do pré-sal. Une suas atuações um profundo sentimento de desprezo pelo que é brasileiro, pela que a Petrobrás representou e representa para o país.” (in http://www.cartamaior.com.br/) E não me venham com acusações idiotas de “nacionalismo” ou “populismo” porque estas só se aplicam às populações do Brasil ou América do Sul ou Terceiro Mundo, jamais às populações dos Estados Unidos ou Europa ou Primeiro Mundo, cujo patriotismo e protecionismo, quando não omitidos, são efusivamente elogiados. O fato é que, entre eles, “patriotismo” associa-se a “protecionismo”, mas entre nós - para as nossas elites tão originais – “patriotismo” só é bom quando associado a “entreguismo”.
“Dia 26 de dezembro de 2000, um dia depois do Natal, o povo brasileiro foi surpreendido por mais uma medida antinacional do governo FHC. O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, anunciou que a empresa estava mudando seu nome comercial para PetroBrax. Segundo ele, o objetivo seria “unificar a marca e facilitar seu processo de internacionalização” (sic) (FSP, 27/12/2000). Afirmou ele que “a medida ganhou na semana passada o aval do presidente Fernando Henrique Cardoso”. Segundo Alexandre Machado, consultor da presidência da Petrobras, a operação custaria à empresa 50 milhões de dólares, para realizar um projeto da agência paulista de design Und SC Litda, “contratada sem licitação”, segundo o presidente da Petrobras. “Um dos argumentos favoráveis – relata a FSP – foi que o sufixo “bras” estaria, internamente, associado à ineficiência estatal. No front externo, um dos argumentos para a mudança da marca é de tirar a associação excessiva que o nome Petrobras tem com o Brasil. Segundo Norberto Chamma, diretor da Und, que apresentou a nova marca ontem para jornalistas, a desvinculação é importante para que a empresa não seja obrigada a arcar com os ônus dessa ligação.” (sic)
Ligação com quem, cara pálida? Com o Brasil? Com os brasileiros? Ou com nossa elite política? “A direita subestimou a capacidade de resistência do povo brasileiro. Mas a operação durou apenas algumas horas. Apesar da tentativa de pegar o povo distraído entre Natal e Ano Novo, em dois dias o governo teve que retroceder da sua vergonhosa tentativa de preparar a maior empresa brasileira para “facilitar seu processo de internacionalização” – não há melhor confissão da intenção de privatizá-la do que a venda de ações na Bolsa de Nova York. O país estava submetido à nova Carta de Intenções do FMI, depois que o governo tucano de FMC e de Serra ter quebrado nossa economia pela terceira vez, havia indícios claros que a privatização da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil faziam parte das contrapartidas dos novos empréstimos que o FMI concedia ao governo de FHC. 26 de dezembro foi um dia da vergonha nacional, com essa tentativa fracassada de tirar o nome do Brasil da Petrobras, para tirar a Petrobras do Brasil. Sabemos que FHC estava totalmente de acordo.
Seria bom saber onde andavam e que atitude tomaram os que agora dizem se preocupar com a Petrobrás. Que posição teve, por exemplo, José Serra diante dessa ignominiosa atitude do governo a que ele pertenceu? E as empresas da mídia e seus funcionários colunistas? E que atitude tomaram os senadores, agora tão interessados nos destinos da Petrobras, ao subscrever o pedido da CPI, quando a existência mesma da empresa estava em jogo? O certo é que estavam centralmente ocupados em apoiar o governo que tentou privatizar a Petrobrás, - que fez um balão de ensaio no dia 26 de dezembro de 2000 - mas teve que recuar, e agora tenta voltar à carga, no momento em que se discute a nova regulamentação da exploração do petróleo e todo o processo do pré-sal. Une suas atuações um profundo sentimento de desprezo pelo que é brasileiro, pela que a Petrobrás representou e representa para o país.” (in http://www.cartamaior.com.br/) E não me venham com acusações idiotas de “nacionalismo” ou “populismo” porque estas só se aplicam às populações do Brasil ou América do Sul ou Terceiro Mundo, jamais às populações dos Estados Unidos ou Europa ou Primeiro Mundo, cujo patriotismo e protecionismo, quando não omitidos, são efusivamente elogiados. O fato é que, entre eles, “patriotismo” associa-se a “protecionismo”, mas entre nós - para as nossas elites tão originais – “patriotismo” só é bom quando associado a “entreguismo”.
Portanto: seja patriota, entregue logo a Petrobras.
*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), Toda Prosa (2002) e Caim (2006). Participou de várias antologias importantes no Brasil e no exterior. Organizou três delas - uma das quais, Contos eróticos femininos, editada na Alemanha. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.
*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), Toda Prosa (2002) e Caim (2006). Participou de várias antologias importantes no Brasil e no exterior. Organizou três delas - uma das quais, Contos eróticos femininos, editada na Alemanha. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura brasileira contemporânea, jornalista e publicitária.
Artigo publicado no Congresso em Foco
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