Para petroleiros, comissão, “seja a formação que for”, funcionará apenas como “palanque eleitoral” da direita
Eduardo Sales de Lima - da Redação“ - A atitude do bloco da minoria será de investigar sem politizar”, afirmou o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), após manifestações de movimentos sociais, ocorridas no Rio de Janeiro (RJ), contra a realização da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Não é isso, entretanto, o que pensam representantes de trabalhadores da Petrobras e boa parte da base aliada do governo. Para eles, a intenção da direita política do país é, sobretudo, politizar.“Esta CPI é só palanque eleitoral”, destaca Emanuel Cancella, da coordenação da Frente Nacional Petroleiros (FNP). A CPI da Petrobras foi instalada no dia 14 e terá a sua primeira reunião em agosto, após o recesso parlamentar. O governo conta com oito dos 11 membros da comissão. “Não vejo nenhum resultado prático, seja a formação que for”, afirma Cancella.No requerimento encaminhado pelo senador Álvaro Dias (PSDB/AM) e que a comissão terá que apurar, destacam-se os seguintes pontos a ser investigados: irregularidades em contratos de construção de plataformas, supostos desvios de dinheiro dos royalties do petróleo e denúncias de irregularidades no uso de verbas de patrocínio da estatal.Mas, diante de todas essas denúncias imprimidas por tucanos e democratas, o deputado federal Dr. Rosinha (PT/PR) reforça a opinião de Cancella. “Sou muito cético em relação à qualquer CPI”, pontua. Segundo ele, desde que a direita política nacional se tornou oposição no governo federal, “as CPIs não investigam, de fato, nada”.O deputado federal explica que as comissões “nos últimos sete anos foram perdendo o papel de investigação”, porque “a direita, junto com as grandes empresas de comunicação, têm o interesse em promover alguns deputados e senadores”. Ele conclui que a instauração da CPI da Petrobras reflete, mais uma vez, nesse tipo de movimento.AntinacionalSemelhante ao que pensa Dr. Rosinha, a realização da CPI da Petrobras dificilmente trará algo novo porque, segundo argumenta Emanuel Cancella, da FNP. “A Petrobras é bastante investigada, e isso é bom”, pondera.Em recente artigo, a socióloga e jornalista Débora Lerrer reforça o argumento de Cancella, informando que a estatal é alvo constante de auditorias. “Será justamente os holofotes de uma CPI o melhor lugar para se investigar eventuais irregularidades que possam ter ocorrido na empresa?”, questiona Lerrer. Fato é que, além de se tornar um palanque que dá visibilidade a figuras como Álvaro Dias e Agripino Maia, a recém instaurada CPI desvela objetivos de uma elite antinacional e com projetos descolados da sociedade em geral. O que os representantes de organizações sindicais apontam, como Cancella, é que o que está por trás da CPI, além da tentativa de promover os atores da direita do Congresso Nacional, a manobra política, em última instância, intenciona facilitar a transferência das riquezas em petróleo para mãos privadas e dificultar a governabilidade federal.“Eles querem dificultar as mudanças da Lei de Petróleo e facilitar a privatização”, pontua João Antônio de Moraes, da coordenação da Frente Única dos Petroleiros (FUP). Cancella inclui, dentro dos objetivos da direita, a criação de entraves em relação à governabilidade, “tendo em vista que a Petrobras é responsável por 40% dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC]”. Também desconfiada, Lerrer, escreve que “justamente quando a Petrobras está indo atrás de recursos no exterior para investir na exploração da camada pré-sal e setores da sociedade brasileira estão querendo revisar a Lei do Petróleo, tirando as empresas estrangeiras da exploração das reservas nacionais e garantindo que o destino dessa riqueza beneficie o conjunto do povo brasileiro”.Para Moraes, como a CPI já está constituída, o grande desafio dos movimentos sociais é “não permitir que a direita, junto com seus jornalões, a transformem num palco político”. A CPI vai ter 180 dias para realizar seus trabalhos, podendo ser prorrogada por igual período. Boletim Brasil de Fato.
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