Por Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva
A reunião de cúpula que está ocorrendo em L'Aquila, na Itália, onde ao Grupo dos 8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia) juntaram-se a África do Sul, o Brasil, China, o Egito, a Índia e o México, será a primeira do gênero depois que percebemos a dimensão da crise financeiro e econômica que estamos enfrentando.
Luiz Inácio Lula da Silva se encontra com presidente francês, Nicolas Sarkozy (7.jun.2009)Esta crise revela o nosso grau de interdependência. Ela exige líderes que promovam uma resposta coletiva, baseada em valores e responsabilidades compartilhados. Ela também nos obriga a avaliar o desempenho das nossas instituições internacionais e a repensar as atuais estruturas globais de governança. A necessidade de reforma da governança global não é derivada da crise. Bem antes da manifestação deste problema, o sistema multilateral já se mostrava flagrantemente não representativo e incoerente. A capacidade das instituições internacionais de responder a desafios sérios às necessidades atuais do mundo precisa ser reforçada, e as atribuições dessas organizações têm que ser revistas. Isso se aplica a várias áreas, da economia à segurança, da energia ao meio ambiente. A crise expôs o fato de que nós, como líderes de países, precisamos gerenciar as reformas necessárias para a construção de um mundo mais justo, desenvolvido e sustentável. Não estamos começando da estaca zero. Algum progresso já foi alcançado. No que diz respeito a questões econômicas e financeiras, as reuniões de cúpula do G-20 em Washington e Londres contribuíram para o fortalecimento do diálogo entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Juntos, fomos capazes de alcançar resultados concretos, porque estávamos unidos. As reuniões entre o G-8 e o G-5/G-6 são mais um exemplo da necessidade de incluir países emergentes nas discussões a respeito do futuro da economia mundial e no enfrentamento dos principais desafios globais. Os países emergentes representam não apenas uma grande porção da massa terrestre e da população do planeta, mas também (e cada vez mais) do consumo e da produção globais. A cooperação internacional nunca foi tão necessária quanto neste momento.Mas agora precisamos ir além disso. As organizações financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o World Bank, precisam dar uma maior importância às economias emergentes dinâmicas nos seus processos de tomada de decisão. As decisões tomadas pelo G-20 no sentido de aprimorar a regulação e a fiscalização das finanças internacionais, de coibir a especulação, de acabar com os paraísos fiscais e os centros de lavagem de dinheiro e de promover o desenvolvimento precisam ser implementadas. Com a crise, a ameaça de protecionismo cresceu. A conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) é uma tarefa urgente, com o objetivo de chegar-se a um acordo ambicioso, abrangente e equilibrado, que beneficie especificamente os países em desenvolvimento, e particularmente aqueles mais pobres, e reforce o multilateralismo no comércio. Mas para tirarmos todas as lições possíveis desta crise, precisamos abraçar essa iniciativa e estendê-la para além das esferas econômica e financeira. Não pode haver paz sem desenvolvimento econômico e social, e também é impossível haver uma prosperidade duradoura sem estabilidade e segurança. Ocorrem com frequência crescente conflitos em países que encontram-se social e economicamente debilitados. A pobreza e a exclusão social intensificam a instabilidade no sistema internacional. Este é o momento de priorizar a dimensão social da globalização. Em todo o mundo, os trabalhadores que enfrentam a tempestade econômica estão pedindo mais justiça e maior segurança. As vozes deles precisam ser ouvidas. O impacto social desta crise precisa ser especificamente enfrentado pelas organizações internacionais. O papel da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na governança econômica global precisa ser bastante incrementado quanto a isto. A estrutura para a paz e a segurança coletiva também exigem adaptações significativas. Uma ampla reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) tem que ser implementada, com o objetivo de assegurar uma ordem internacional mais equilibrada e inclusiva. Para garantir a efetividade do conselho, este tem que refletir as realidades atuais, incluindo um papel maior para os países em desenvolvimento em todas as regiões, como o Brasil e a Índia, uma representação mais justa da África e de grandes contribuintes do sistema da ONU, como o Japão e a Alemanha. Outras ameaças também ameaçam a paz e o desenvolvimento. A mudança climática representa um grande desafio para a governança global. É preciso que haja um resultado inteligente em Copenhague, em dezembro deste ano, para que possamos atingir a nossa meta global de prevenir uma grave alteração climática e de limitar o aumento da temperatura global a dois graus centígrados. Todas as nações precisam reduzir as suas emissões de forma consistente com as recomendações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Outras desafios globais são o crime organizado e transnacional, o terrorismo, o tráfico de drogas e humano, as pandemias e a segurança alimentar. As nossas respostas a estas ameaças são frequentemente insuficientes devido à fragmentação das organizações internacionais ou à tendência de duplicação do trabalho já feito por outros. Os atuais mecanismos de governança global são inadequados para lidar com a característica sistêmica dos desafios que enfrentamos e com a interrelação da enorme quantidade desses desafios. A escala desta crise econômica representa para nós uma oportunidade única para implementarmos a reforma abrangente das instituições internacionais. O Brasil e a França desejam oferecer ao mundo a visão que compartilham de um novo multilateralismo adaptado ao nosso mundo multipolar. Nós simplesmente não podemos enfrentar os problemas do século 21 com instituições internacionais herdadas do século 20. Juntamente com outros líderes mundiais, precisamos forjar uma "Aliança para a Mudança", a fim de promovermos esta visão de um mundo mais democrático, e baseado em maior solidariedade e justiça. É isto o que os cidadãos do mundo esperam de nós. Somente desta forma nós seremos capazes de fazer frente aos desafios que afligem o nosso século.
Tradução: UOL
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