A sucessão de regimes repressivos na América Latina ainda não foi tratada de forma sistemática pelos regimes democráticos vigentes. É perceptível todo um manto ideológico que se ocupa em promover um trabalho persistente de desmoralização dos ideais da esquerda, com a tentativa de anulação do valor humano e político daqueles que resistiram e, por isso, foram perseguidos, mortos ou torturados.
Há uma ideologização direitista da memória que, na verdade, impede um pacto de conciliação, porque o impõe a partir dos valores que são aceitos exclusivamente pelos que eram beneficiários do autoritarismo. A memória imposta quer cristalizar os valores da dominação do Estado de Exceção.
Isso ocorre também na narrativa que justifica o Golpe de 1964, como simples reação ao um suposto estado de “caos e desgoverno político” vigente, ameaçador da propriedade privada, das liberdades públicas, dos valores da família, sintetizando tudo no combate à “ameaça comunista”. Nesta visão, a história somente pode ser contada de uma única maneira: a de que o regime ditatorial foi uma etapa de paz civil e avanços econômicos onde se localiza as bases da ordem e da democracia atual. Tenta fixar-se um pacto de silêncio, sob a falácia de que não se deve olhar para o passado e abrir as suas feridas. Há um uso político da memória para coincidí-la com a hermenêutica dos dominadores da época e isto, em verdade, constitui-se em uma não-memória, pois impede desvelar o tipo de ordem jurídica e política que instrumentalizou os homens para transformá-los em máquinas de destruição dos seus semelhantes, fazendos-os retroceder ao estágio de uma sociedade sem contrato e transformação de monopólio estatal do uso legítimo da força (conquista da modernidade democrática) para uma repressão instrumental de dominação pela coerção. A história dominante, já dizia Walter Benjamin[1], fecha-se em uma lógica linear que pisoteia os perseguidos, que os ignora sob o cortejo triunfante do progresso. Leia na íntegra acessando o site do PT.
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