Para seguir a vocação de produzir polêmicas sem compromisso com a responsabilidade, bem que a Folha poderia lançar uma campanha contra anúncios de órgãos públicos em jornais que visam o lucro. O governo economizaria muito mais do que se fechasse a única TV pública de âmbito nacional que o maior país da América Latina começa a construir, com o esforço de profissionais qualificados que a Folha desrespeitou em seu editorial.
Aziz Filho - Jornalista com diploma, gerente executivo de Jornalismo da TV Brasil no Rio de Janeiro e secretário geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
Nas mesmas páginas em que chamou de ditabranda o último regime militar, a Folha de S. Paulo defendeu recentemente em editorial o fechamento da TV Brasil, por ter investimento público e baixa audiência. É natural que os oligopólios não se simpatizem com a idéia de o Brasil seguir os países ricos e democráticos, todos eles com redes públicas nas quais a informação circula livre dos interesses empresariais. Em qualquer lugar o que se espera de um jornal, mesmo daqueles que reduzem o cidadão à dimensão de consumidor, é respeito a quem o lê. O conceito parece subjetivo ou flexível, como o de ética, mas inflexível mesmo deve ser a expectativa do leitor de que seu jornal não minta. Nem esconda verdades, o que dá no mesmo. Dizer que a TV Brasil tem baixa audiência é correto. Surrupiar do leitor o contexto da notícia é que denuncia a intenção do diário paulistano de transformar interesses provincianos em nacionais, ou pessoais em coletivos. Como, aliás, sempre fez a Folha ao atacar a exigência da qualificação acadêmica para jornalistas.
O tempo para a construção de um ente público não se conta em dias. A TV Brasil nasceu há apenas um ano e meio sob o fogo cruzado de políticos retrógrados ou identificados com o lucrativo negócio da mídia. Levará tempo para se consolidar. Se tivesse investido maciçamente em transmissão analógica em busca de audiência urgente, diriam que estaria queimando dinheiro, já que a TV analógica tende a desaparecer em cinco ou seis anos. Foram anunciados R$ 100 milhões de investimentos em equipamentos, que ainda não chegaram. A TV Brasil não pode fazer contrabando, é tudo na base da licitação. Mesmo assim, nos dias de menor audiência o Repórter Brasil, telejornal das 21h, é visto por 200 mil pessoas só no Rio de Janeiro. A audiência do telejornal começou em 0,16 de Ibope e hoje tem média de 1 a 1,2 pontos só no Rio. A Folha vende 300 mil, mas a tiragem cai ano a ano. Já vendeu mais de 1 milhão.
Por ser pública, a TV Brasil difere dos veículos que comercializam seu conteúdo - com ou sem nota fiscal. Ela não busca audiência pagando fortunas por páginas de publicidade em jornais como a Folha. Pelo compromisso visceral com o cidadão e transparência irrenunciável de suas contas, não pode contratar ou demitir ao bel prazer de seus gerentes. Nem seguir apenas as leis que forem de sua conveniência. Os controles, rigorosos, são e devem ser muitos, incluindo, evidentemente, a imprensa. Trata-se da primeira tentativa de se criar no país uma rede nacional e pública de comunicação, desvinculada de poderes comerciais ou regionais. Estará montada quando concluir o árduo processo de reunir emissoras públicas nos 27 cantos da federação e consolidar a idéia de que o investimento na informação de qualidade tem retorno garantido – não para poucos, mas para todos.
As adesões das TVs não comerciais avançam rapidamente (e talvez isso incomode), mas não se faz algo desse tamanho em tão pouco tempo. Ainda mais onde o conceito de informação pública foi deturpado por décadas de autoritarismo e governos não-republicanos. Esse obscurantismo nada “brando” enfraqueceu os meios públicos de comunicação, acorrentando-os e sucateando seus equipamentos. O investimento atual, além de recuperar um patrimônio nacional, abre às comunidades e à produção audiovisual independente um canal de valorização e respeito.
É louvável o debate sobre os erros e descaminhos na construção de uma TV que, por decisão do Congresso, representante do povo, é financiada por dinheiro público. O debate deve continuar a ser feito para que o Brasil construa sua TV pública, como a maioria dos países democráticos. Mas não é essa a intenção da Folha. Tampouco convence a “preocupação cívica” do diário com os gastos públicos. Para seguir a vocação de produzir polêmicas sem compromisso com a responsabilidade, bem que a Folha poderia lançar uma campanha contra anúncios de órgãos públicos em jornais que visam o lucro. O governo economizaria muito mais do que se fechasse a única TV pública de âmbito nacional que o maior país da América Latina começa a construir, com o esforço de profissionais qualificados que a Folha desrespeitou em seu editorial. Aliás, a Folha faz cada uma nesse editorial…
Aziz Filho - Jornalista com diploma, gerente executivo de Jornalismo da TV Brasil no Rio de Janeiro e secretário geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
Nas mesmas páginas em que chamou de ditabranda o último regime militar, a Folha de S. Paulo defendeu recentemente em editorial o fechamento da TV Brasil, por ter investimento público e baixa audiência. É natural que os oligopólios não se simpatizem com a idéia de o Brasil seguir os países ricos e democráticos, todos eles com redes públicas nas quais a informação circula livre dos interesses empresariais. Em qualquer lugar o que se espera de um jornal, mesmo daqueles que reduzem o cidadão à dimensão de consumidor, é respeito a quem o lê. O conceito parece subjetivo ou flexível, como o de ética, mas inflexível mesmo deve ser a expectativa do leitor de que seu jornal não minta. Nem esconda verdades, o que dá no mesmo. Dizer que a TV Brasil tem baixa audiência é correto. Surrupiar do leitor o contexto da notícia é que denuncia a intenção do diário paulistano de transformar interesses provincianos em nacionais, ou pessoais em coletivos. Como, aliás, sempre fez a Folha ao atacar a exigência da qualificação acadêmica para jornalistas.
O tempo para a construção de um ente público não se conta em dias. A TV Brasil nasceu há apenas um ano e meio sob o fogo cruzado de políticos retrógrados ou identificados com o lucrativo negócio da mídia. Levará tempo para se consolidar. Se tivesse investido maciçamente em transmissão analógica em busca de audiência urgente, diriam que estaria queimando dinheiro, já que a TV analógica tende a desaparecer em cinco ou seis anos. Foram anunciados R$ 100 milhões de investimentos em equipamentos, que ainda não chegaram. A TV Brasil não pode fazer contrabando, é tudo na base da licitação. Mesmo assim, nos dias de menor audiência o Repórter Brasil, telejornal das 21h, é visto por 200 mil pessoas só no Rio de Janeiro. A audiência do telejornal começou em 0,16 de Ibope e hoje tem média de 1 a 1,2 pontos só no Rio. A Folha vende 300 mil, mas a tiragem cai ano a ano. Já vendeu mais de 1 milhão.
Por ser pública, a TV Brasil difere dos veículos que comercializam seu conteúdo - com ou sem nota fiscal. Ela não busca audiência pagando fortunas por páginas de publicidade em jornais como a Folha. Pelo compromisso visceral com o cidadão e transparência irrenunciável de suas contas, não pode contratar ou demitir ao bel prazer de seus gerentes. Nem seguir apenas as leis que forem de sua conveniência. Os controles, rigorosos, são e devem ser muitos, incluindo, evidentemente, a imprensa. Trata-se da primeira tentativa de se criar no país uma rede nacional e pública de comunicação, desvinculada de poderes comerciais ou regionais. Estará montada quando concluir o árduo processo de reunir emissoras públicas nos 27 cantos da federação e consolidar a idéia de que o investimento na informação de qualidade tem retorno garantido – não para poucos, mas para todos.
As adesões das TVs não comerciais avançam rapidamente (e talvez isso incomode), mas não se faz algo desse tamanho em tão pouco tempo. Ainda mais onde o conceito de informação pública foi deturpado por décadas de autoritarismo e governos não-republicanos. Esse obscurantismo nada “brando” enfraqueceu os meios públicos de comunicação, acorrentando-os e sucateando seus equipamentos. O investimento atual, além de recuperar um patrimônio nacional, abre às comunidades e à produção audiovisual independente um canal de valorização e respeito.
É louvável o debate sobre os erros e descaminhos na construção de uma TV que, por decisão do Congresso, representante do povo, é financiada por dinheiro público. O debate deve continuar a ser feito para que o Brasil construa sua TV pública, como a maioria dos países democráticos. Mas não é essa a intenção da Folha. Tampouco convence a “preocupação cívica” do diário com os gastos públicos. Para seguir a vocação de produzir polêmicas sem compromisso com a responsabilidade, bem que a Folha poderia lançar uma campanha contra anúncios de órgãos públicos em jornais que visam o lucro. O governo economizaria muito mais do que se fechasse a única TV pública de âmbito nacional que o maior país da América Latina começa a construir, com o esforço de profissionais qualificados que a Folha desrespeitou em seu editorial. Aliás, a Folha faz cada uma nesse editorial…
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