RIO - A falta de interatividade do Blog do Planalto , que entrou no ar semana passada sem espaço para comentário de leitores , foi alvo de críticas de analistas políticos ouvidos pelo site do GLOBO, que alertaram ainda sobre um possível uso político - e não institucional - da nova mídia do governo, que já conta com um programa de rádio, uma coluna semanal publicada em diversos jornais do país e o site do Planalto . A ausência de espaço para comentar provocou até a criação de um "clone" , que reproduz os textos do blog oficial e permite aos internautas postarem comentários. ( Leia no G1 entrevista com a criadora do clone do Blog do Planalto ) Criado para divulgar ações da Presidência da República, o blog foi duramente criticado pelo cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Otaciano Nogueira pela falta de interatividade com o leitor.
- Isso (a falta dos comentários) é típico de uma autocracia stalinista. A primeira coisa que você vai fazer (ao criar um blog) é abrir para os comentários - critica Otaciano.
Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), equipe do blog é pequena e não teria condições de destacar um profissional para fazer o papel de moderador dos debates. Para a cientista política do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam) Adriane Martins, que tem pesquisas na área de internet e política, a falta de comentários abertos descaracteriza o blog como ferramenta:
- O blog pretendia ser uma ferramenta de discussão, mas o internauta não tem espaço para isso. Uma ferramenta de interatividade precisa permitir que o leitor se torne autor. Se meu comentário não está sendo postado, então não é blog. Se o leitor não tem voz, até que ponto essa ferramenta é democrática? O blog anula a pretensão de tornar a comunicação bilateral.
Já Leonardo Barreto, também da UnB, pondera:
- Isso é um desafio para a comunicação do governo. Eles vão demorar até achar o ponto ideal em termos de estilo, achar aquilo que o leitor quer. A internet exige um tipo de linguagem específica pelo perfil dos leitores. Isso significa que a linguagem não pode ser tão formal, as notícias não podem ser longas e é preciso abrir espaço para algum tipo de interatividade com o leitor.
- O governo está experimentando uma nova tecnologia. É preciso esperar um pouco para ver como vai ser recebido por todos, mas entendo que a tendência é que o blog se torne uma forma muito importante de comunicação que liga o Planalto às pessoas - disse.
Barreto acha importante a divulgação das realizações da presidência, mas alerta para o que chama de "populismo digital".
- É importante que ele sirva para divulgar realizações institucionais e não para a promoção pessoal, porque assim estaria se criando um populismo digital onde os políticos atravessariam as instituições e tentariam criar relações cada vez mais personalizadas. É preciso uma fiscalização muito forte.
Otaciano Nogueira é mais pessimista e não tem dúvida de que a nova mídia será "uma máquina de propaganda" do governo.
- É uma nova Hora do Brasil. Só uma máquina de propaganda de péssima qualidade - disse Otaciano, que acredita que o novo espaço será usado eleitoralmente.
- Eu não tenho dúvida disso. Daqui a pouco vai ter o blog da Dilma - acrescentou.
Adriane ressalta, por sua vez, que os temas abordados no blog se limitam a realizações do governo, o que pode ser visto como caráter "promocional" diante da iminência das eleições 2010.
- O blog tem uma característica promocional para a campanha de 2010. Os posts usam a estratégia de divulgar as realizações do governo nesse último ano de mandato para conquistar eleitores. O blog deixa de lado questões como a crise do Senado.
Barreto lembra ainda que o público da internet - leitor do blog - é muito mais crítico.
- O público da internet tem uma avaliação positiva do Lula, mas menos do que a encontrada entre as classes que recebem as políticas sociais. O cenário é de um público mais exigente, com mais acesso a informações e capacidade crítica maior.
Para ampliar o alcance do blog, Adriane diz que o governo terá que investir mais em redes sociais como Orkut e Twitter.
- Sem a ferramenta de comunicabilidade, as informações são transmitidas para um público mais restrito. Se ele (Lula) quer se popularizar, se inserir na internet para ter um diálogo mais próximo com a população, precisa usar pelo menos as redes sociais - acrescentou a cientista política. (Fonte: Central O Globo a serviço do Serra).
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