A violação do sigilo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixa lições no caminho promissor da crescente cultura da avaliação e responsabilização da vida educacional. Esforço de todos pela educação de todos, a ação da autoridade é parte inseparável dos níveis de qualidade que precisamos atingir. Da seriedade e do vigor da grande imprensa; do papel regulador do MEC e a combinação de rigor com diálogo na sua ação; do interesse de pais e alunos pelo destino educacional da juventude é que pode prosperar o ambiente nacional onde a missão de estudar seja de fato recompensada.
Um crime contra a invulnerabilidade do sistema de avaliação visa essencialmente a desmoralizar, para milhões de jovens, a boa prática que é testar, equânime e universalmente, seu conhecimento e capacidade. Pois o Enem está muito mais próximo de saber o que o estudante é do que aquilo que ele é capaz de repetir. Premiar por aprender mais do que por ensinar é dar ao mérito a nota do seu valor.
Este é o momento da sua consolidação.
Inúmeras universidades decidem prestigiá-lo integralmente usando seus resultados para enterrar de vez a lógica fotográfica do vestibular e o prejuízo que é desconsiderar o filme de uma vida escolar. Destruir a credibilidade do exame vale mais para o delito do que divulgar o conteúdo da prova. Pois é inverossímil pagar, mesmo para o hipotético caso de um consórcio de estudantes ricos e folgados, o valor da fraude para entrar na melhor universidade pública menos do que o custo do curso na mais cara instituição privada. Ainda que feito por amadores, como divulga nossa competente e às vezes abusada Polícia Federal (que se tivesse sido chamada para ser a guardiã do sigilo certamente não estaria agora diante desse inquérito). Sem desconhecer que é sempre possível induzir um amador ao crime, nesse caso profissionais não fariam melhor.
Salvo se tivessem publicado em código o gabarito no dia do exame levando ao limite a frustração dos estudantes e a desmoralização do zelo do Ministério da Educação. Um crime desmontado pela seriedade da grande imprensa, neste caso representada pelo jornal “Estado de S. Paulo”. Procurada para a cumplicidade, denunciou ao MEC a trama por reconhecer no Ministério integridade decisória, salvaguarda da lisura do exame. Exame imediatamente suspenso pelo MEC por reconhecer na grande imprensa credibilidade na divulgação dos fatos que apura. A mobilização de estudantes condenando a quebra do sigilo e o adiamento das provas demonstra o quanto o erro desorganiza, produz mal-estar e introduz injustiça na vida das pessoas. Mais ainda no esquecido e sem rosto ensino médio brasileiro.
Nada disso, porém, justifica deixar o barco do Enem no momento do confronto com o crime. Uma forma mais inteligente de usar o princípio da autonomia universitária para beneficiar alunos é esperar pelo novo exame, adiar o vestibular e considerar suas notas. Ou só greve e gripe suína são capazes de mudar o calendário acadêmico? Claro que persiste a indagação: por que na sua primeira mais robusta edição apresentou-se para sua execução apenas um consórcio, novato e negligente, em vez dos tradicionais parceiros? Mas a politização de tudo prolonga o efeito do delito. Uma raiva apropriada e uma ampla apuração ajudam a superar os estados primitivos da política, que tanto movem eleição em nosso país, mas que nada têm a ver com educação.
Especialmente porque nenhum governo sozinho e ao seu tempo romperá nosso secular atraso, ou deve pretender-se totalmente original. Aliás, tem sido cooperativo, cumulativo, evolutivo e permanente o esforço pela melhoria de nosso padrão educacional. E hoje, numa de suas melhores gestões, o MEC inova, renova, continua e aperfeiçoa programas e projetos de vários governos. Aqui também é o filme, mais do que a fotografia, que conta. Educação, enfim, jamais será reduzida a bom desempenho em prova. É sempre o jeito de ser e se comportar de uma nação. Área intermediária da realidade de onde brota a ilusão e se vislumbra uma escada por onde se sobe, sólido, ao conhecimento e à verdade. Paulo Delgado é deputado federal (PT-MG). Artigo Publicado Originalmente No Jornal O Globo Do Dia 11/10/2009
Um crime contra a invulnerabilidade do sistema de avaliação visa essencialmente a desmoralizar, para milhões de jovens, a boa prática que é testar, equânime e universalmente, seu conhecimento e capacidade. Pois o Enem está muito mais próximo de saber o que o estudante é do que aquilo que ele é capaz de repetir. Premiar por aprender mais do que por ensinar é dar ao mérito a nota do seu valor.
Este é o momento da sua consolidação.
Inúmeras universidades decidem prestigiá-lo integralmente usando seus resultados para enterrar de vez a lógica fotográfica do vestibular e o prejuízo que é desconsiderar o filme de uma vida escolar. Destruir a credibilidade do exame vale mais para o delito do que divulgar o conteúdo da prova. Pois é inverossímil pagar, mesmo para o hipotético caso de um consórcio de estudantes ricos e folgados, o valor da fraude para entrar na melhor universidade pública menos do que o custo do curso na mais cara instituição privada. Ainda que feito por amadores, como divulga nossa competente e às vezes abusada Polícia Federal (que se tivesse sido chamada para ser a guardiã do sigilo certamente não estaria agora diante desse inquérito). Sem desconhecer que é sempre possível induzir um amador ao crime, nesse caso profissionais não fariam melhor.
Salvo se tivessem publicado em código o gabarito no dia do exame levando ao limite a frustração dos estudantes e a desmoralização do zelo do Ministério da Educação. Um crime desmontado pela seriedade da grande imprensa, neste caso representada pelo jornal “Estado de S. Paulo”. Procurada para a cumplicidade, denunciou ao MEC a trama por reconhecer no Ministério integridade decisória, salvaguarda da lisura do exame. Exame imediatamente suspenso pelo MEC por reconhecer na grande imprensa credibilidade na divulgação dos fatos que apura. A mobilização de estudantes condenando a quebra do sigilo e o adiamento das provas demonstra o quanto o erro desorganiza, produz mal-estar e introduz injustiça na vida das pessoas. Mais ainda no esquecido e sem rosto ensino médio brasileiro.
Nada disso, porém, justifica deixar o barco do Enem no momento do confronto com o crime. Uma forma mais inteligente de usar o princípio da autonomia universitária para beneficiar alunos é esperar pelo novo exame, adiar o vestibular e considerar suas notas. Ou só greve e gripe suína são capazes de mudar o calendário acadêmico? Claro que persiste a indagação: por que na sua primeira mais robusta edição apresentou-se para sua execução apenas um consórcio, novato e negligente, em vez dos tradicionais parceiros? Mas a politização de tudo prolonga o efeito do delito. Uma raiva apropriada e uma ampla apuração ajudam a superar os estados primitivos da política, que tanto movem eleição em nosso país, mas que nada têm a ver com educação.
Especialmente porque nenhum governo sozinho e ao seu tempo romperá nosso secular atraso, ou deve pretender-se totalmente original. Aliás, tem sido cooperativo, cumulativo, evolutivo e permanente o esforço pela melhoria de nosso padrão educacional. E hoje, numa de suas melhores gestões, o MEC inova, renova, continua e aperfeiçoa programas e projetos de vários governos. Aqui também é o filme, mais do que a fotografia, que conta. Educação, enfim, jamais será reduzida a bom desempenho em prova. É sempre o jeito de ser e se comportar de uma nação. Área intermediária da realidade de onde brota a ilusão e se vislumbra uma escada por onde se sobe, sólido, ao conhecimento e à verdade. Paulo Delgado é deputado federal (PT-MG). Artigo Publicado Originalmente No Jornal O Globo Do Dia 11/10/2009
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