Enganam-se aqueles que enxergam no impasse envolvendo a escolha do candidato do PSDB à sucessão presidencial entre os governadores de São Paulo, José Serra, e o de Minas Gerais, Aécio Neves, o grande dilema enfrentado pelos tucanos nestes meses que antecedem a intensificação dos esforços eleitorais. A crise que hoje acomete o partido é muito mais profunda do que os meandros das táticas e negociações que definirão o postulante tucano ao Palácio do Planalto. E não pode ser sintetizada apenas no duradouro insucesso do partido na árdua tarefa de promover o enfrentamento de um governo e um presidente extremamente populares.
Para ser mais preciso, o PSDB hoje é forçado a lidar com duas crises, ligadas uma à outra de maneira umbilical. A primeira, e talvez a mais grave delas, é de legitimidade. Em outras palavras, falta ao partido, em inúmeras situações decisivas, um passado político que lhe permita fundamentar com coerência histórica as práticas e os discursos políticos do presente. Os exemplos são muitos: hoje, seus parlamentares se revoltam com o modo pelo qual a base aliada bloqueia tentativas de investigações em comissões de inquérito que guardem algum potencial de dano político ao governo, mas no passado o então presidente Fernando Henrique Cardoso, e mesmo na atualidade o próprio governador José Serra, também desenvolveram técnica própria, exercitada por diversas vezes, de enterro e controle de CPIs.
Da mesma forma, o PSDB é duro nas críticas ao PT pelo constante envolvimento do rival em denúncias de corrupção, mas algumas das figuras graúdas do partido também se encontram na mesma situação que os adversários petistas com frequência, haja vista o senador Eduardo Azeredo e o caso do suposto “mensalão mineiro”, em análise pelo Supremo Tribunal Federal, as denúncias que pesam contra a governadora Yeda Crusius, além dos mandatos cassados por motivos diversos, como o do senador Expedito Júnior (RO) e do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Assim como o partido hoje defende, sem constrangimentos, a equiparação do reajuste de aposentadorias e pensões ao do salário mínimo, apesar de o governo Fernando Henrique ser responsável por uma parcela significativa da defasagem salarial que hoje os aposentados tentam remediar, sem contar a criação de mecanismos mais diretos de ataque aos benefícios, como o fator previdenciário.
A outra crise, esta sim mais diretamente vinculada à forma pela qual o partido se relaciona com o governo Lula, é de identidade. Os tucanos claramente pisam em ovos quando tentam atacar o Palácio do Planalto em determinados pontos. E essa fragilidade gera implicações diversas para o modo pelo qual o partido se entende e é apresentado. Um exemplo ilustrativo desse tipo de fragilidade é o Programa Bolsa Família. O PSDB reivindica, com certa razão, a paternidade pela criação do que foi o embrião do programa, numa espécie de tentativa de usurpação dos benefícios políticos colhidos pelo governo que, de fato, sistematizou a concessão do benefício e o ampliou para uma escala impressionante. Ou seja, pretende disputar politicamente com Lula, em alguma medida, tentando se apropriar de uma das iniciativas de sucesso do governo petista. Uma outro aspecto dos problemas de identidade da legenda são as vigorosas críticas ao suposto viés estatizante do governo, de um lado, e a moderada e até mesmo hesitante defesa das reformas orientadas para o mercado em momentos agudos de competição eleitoral, de outro. Pode até ser que as diferenças de tom sejam apenas uma demonstração das suscetibilidades da legenda a um certo oportunismo, mas ainda assim são simbólicas de contradições não resolvidas no seio do partido.
Evidentemente, isso não significa que o PSDB está à beira da implosão. Mas indica que a experiência de ser oposição revelou-se um processo doloroso para o partido, forçado a se adaptar a novas condições do jogo de poder, bem menos maleáveis do que quando um ilustre sociólogo ocupava o Palácio do Planalto, e a ter que lidar com comparações antes inexistentes. Para os tucanos, fazer com que o PSDB renasça dessas transformações fortalecido é o verdadeiro desafio. No longo prazo, maior, até mesmo, do que a escolha entre um ou outro nome para representá-lo em determinada eleição, por mais decisiva que seja. JB ONLINE
Para ser mais preciso, o PSDB hoje é forçado a lidar com duas crises, ligadas uma à outra de maneira umbilical. A primeira, e talvez a mais grave delas, é de legitimidade. Em outras palavras, falta ao partido, em inúmeras situações decisivas, um passado político que lhe permita fundamentar com coerência histórica as práticas e os discursos políticos do presente. Os exemplos são muitos: hoje, seus parlamentares se revoltam com o modo pelo qual a base aliada bloqueia tentativas de investigações em comissões de inquérito que guardem algum potencial de dano político ao governo, mas no passado o então presidente Fernando Henrique Cardoso, e mesmo na atualidade o próprio governador José Serra, também desenvolveram técnica própria, exercitada por diversas vezes, de enterro e controle de CPIs.
Da mesma forma, o PSDB é duro nas críticas ao PT pelo constante envolvimento do rival em denúncias de corrupção, mas algumas das figuras graúdas do partido também se encontram na mesma situação que os adversários petistas com frequência, haja vista o senador Eduardo Azeredo e o caso do suposto “mensalão mineiro”, em análise pelo Supremo Tribunal Federal, as denúncias que pesam contra a governadora Yeda Crusius, além dos mandatos cassados por motivos diversos, como o do senador Expedito Júnior (RO) e do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Assim como o partido hoje defende, sem constrangimentos, a equiparação do reajuste de aposentadorias e pensões ao do salário mínimo, apesar de o governo Fernando Henrique ser responsável por uma parcela significativa da defasagem salarial que hoje os aposentados tentam remediar, sem contar a criação de mecanismos mais diretos de ataque aos benefícios, como o fator previdenciário.
A outra crise, esta sim mais diretamente vinculada à forma pela qual o partido se relaciona com o governo Lula, é de identidade. Os tucanos claramente pisam em ovos quando tentam atacar o Palácio do Planalto em determinados pontos. E essa fragilidade gera implicações diversas para o modo pelo qual o partido se entende e é apresentado. Um exemplo ilustrativo desse tipo de fragilidade é o Programa Bolsa Família. O PSDB reivindica, com certa razão, a paternidade pela criação do que foi o embrião do programa, numa espécie de tentativa de usurpação dos benefícios políticos colhidos pelo governo que, de fato, sistematizou a concessão do benefício e o ampliou para uma escala impressionante. Ou seja, pretende disputar politicamente com Lula, em alguma medida, tentando se apropriar de uma das iniciativas de sucesso do governo petista. Uma outro aspecto dos problemas de identidade da legenda são as vigorosas críticas ao suposto viés estatizante do governo, de um lado, e a moderada e até mesmo hesitante defesa das reformas orientadas para o mercado em momentos agudos de competição eleitoral, de outro. Pode até ser que as diferenças de tom sejam apenas uma demonstração das suscetibilidades da legenda a um certo oportunismo, mas ainda assim são simbólicas de contradições não resolvidas no seio do partido.
Evidentemente, isso não significa que o PSDB está à beira da implosão. Mas indica que a experiência de ser oposição revelou-se um processo doloroso para o partido, forçado a se adaptar a novas condições do jogo de poder, bem menos maleáveis do que quando um ilustre sociólogo ocupava o Palácio do Planalto, e a ter que lidar com comparações antes inexistentes. Para os tucanos, fazer com que o PSDB renasça dessas transformações fortalecido é o verdadeiro desafio. No longo prazo, maior, até mesmo, do que a escolha entre um ou outro nome para representá-lo em determinada eleição, por mais decisiva que seja. JB ONLINE
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