terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dilma e Lula acreditam em acordo climático

Um dia depois de EUA e China dizerem que não haverá tratado em Copenhague, Lula e Dilma mostram otimismo

Andrei Netto, ROMA;

Afra Balazina
O governo brasileiro demonstrou ontem que ainda acredita em um possível acordo global na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), que será em Copenhague no mês que vem. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ao Estado ainda ter esperanças. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que participará do evento, já que "nesse momento só a presença dos líderes pode mudar alguma coisa".

As declarações foram uma reação à posição anunciada anteontem pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e por chefes de Estado asiáticos, de que não será possível chegar a um acordo final sobre redução de emissões em Copenhague. "Mas ter esperança não significa deitar em berço esplêndido", disse Dilma, por telefone, de Copenhague, onde apresentou em uma reunião de ministros do meio ambiente as metas brasileiras para controlar emissões de gases do efeito estufa.

Para ela, ainda existe "a possibilidade de acordo". Além de Lula, do presidente francês Nicolas Sarkozy e do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, Dilma acredita que diversos líderes devem ir a Copenhague. "Com a presença deles, é mais fácil um acordo. O grau de liberdade de embaixadores e ministros é mais estreito."

De forma exaltada, falando com o dedo em riste - tom não usual para questões diplomáticas -, Lula disse, em Roma, que o tratado climático pode até ser adiado para 2010, mas que os EUA e a China não vão escapar de apresentar metas de redução das emissões de CO2 na atmosfera. "O dado concreto é que não têm como escapar. Todos terão de apresentar números, inclusive o presidente (Barack) Obama, o presidente Hu Jintao e todos os outros."

Para Lula, EUA e China têm estratégia comum para solapar o acordo na COP-15. "Estamos percebendo há meses que a China joga a culpa nos EUA, os EUA jogam a culpa na China. E a nossa preocupação é de que um possa utilizar o outro como escudo para justificar a não apresentação de números."
Apesar de mostrar irritação, Lula deu a entender que um "acordo político", como o defendido por Obama e Jintao, pode ser aceito. "Se todos não conseguirem colocar números e não estabelecer metas, nós poderemos pelo menos assinar um documento político que se comprometa com um calendário para resolver a questão." Para Dilma, é difícil ter um acordo "em cima de princípios", sem definições mais concretas. "É possível que não se complete o acordo em Copenhague, mas é preciso saber a direção, o rumo da estrada", disse a ministra - que até recentemente era contra a adoção de metas pelo Brasil.
Lula disse que telefonará hoje para Obama e Jintao para convocá-los a participar das negociações. Em Brasília, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lembrou que China e os EUA juntos "são responsáveis por 50% das emissões de gases do planeta". "Sem eles, não há acordo consistente, mas vamos forçar até o último minuto."
A ministra dinamarquesa do Clima e da Energia, Connie Hedegaard, disse que pode levar um ano para se concluir os detalhes do acordo. Mas afirma que um prazo precisa ser colocado no tratado político que deverá ser fechado em Copenhague.
Dilma apresentou ontem em Copenhague o compromisso do País de reduzir entre 36,1% a 38,9% as emissões de gases-estufa até 2020, em relação ao que seria emitido se nada fosse feito. Segundo ela, Noruega, países europeus, asiáticos e africanos elogiaram a iniciativa. E Índia e China ficaram especialmente interessadas nos detalhes da proposta. "Não somos obrigados a ter compromissos, mas vivemos no mesmo planeta", disse Dilma.

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