Mauricio Dias - Em março de 2009, quando já se percebia que a crise internacional tinha cruzado o Atlântico e chegado ao Brasil, o presidente Lula surfou no otimismo e disse que, por aqui, o problema não passaria de “uma marolinha”. Caíram no pelo do presidente. De fato, foi mais que uma marolinha, mas, também, foi muito menos do que a gigantesca onda que os economistas previam e pela qual a oposição torcia. Houve danos em alguns setores da economia e núcleos da população sofreram mais. Os pobres, no entanto, surfaram na marolinha. Números do IBGE coligidos e comentados por Marcio Pochmann, presidente do Ipea, estabelecem com segurança a relação entre a crise econômica e a pobreza, e projetam, como ele diz, “uma trajetória distinta da verificada em outras circunstâncias de crise econômica” no País. “Com os sinais de internalização da crise internacional no Brasil desde outubro de 2008, observa-se que não houve, até o mês de março de 2009, interrupção no movimento de queda da taxa de pobreza nas seis principais regiões metropolitanas”, afirma Pochmann. A taxa de pobreza de 30,7% de março de 2009 foi 1,7% menor que a de março de 2008. Isso significou uma redução de 670 mil pessoas na faixa de pobreza. Uma queda geral de 4,5% no número de pobres. Mesmo entre os desempregados pobres o impacto foi menor. De janeiro de 2005 a março de 2009, a taxa de pobreza entre os desempregados caiu 16,3%, enquanto o contingente total de desempregados diminuiu somente 5,5%. Segundo Pochmann, de outubro de 2008 a março de 2009, a taxa de pobreza entre os desempregados teve queda de 2,5%, enquanto o número de desempregados aumentou 16,5%. “A elevação do valor real do salário mínimo e a existência de uma rede de garantia de renda aos pobres devem estar contribuindo decisivamente para que a base da pirâmide social não seja a mais atingida.” Essa é a diferença básica de outros períodos de crise, quando o pobre pagava o pato. -Pochmann lembra que, nas últimas três décadas, a economia brasileira cruzou com quatro crises econômicas, com forte impacto na produção, no consumo, no investimento, no emprego e na renda. “No início das décadas de 1980 e 1990, o Brasil conviveu com a recessão. Entre 1981 e 1983, houve a crise da dívida externa, enquanto, durante os anos de 1990 e 1992, a queda da produção ocorreu devido à adoção de programas de combate à inflação e abertura comercial.” Nesses três momentos os pobres foram os mais atingidos. Somente agora (2008-2009) o valor real do salário mínimo se manteve superior (8%). O estudo feito pelo presidente do Ipea mostra que, entre os anos de 1998-1999, o mínimo perdeu 3,1% do poder aquisitivo. Na recessão de 1989-1990, o valor real do mínimo caiu 33,6%, enquanto, entre 1982-1983, a perda do poder de compra do mínimo foi de 8,2%. Na crise de agora, que ainda deixa marcas na economia, o salário mínimo manteve o poder de compra e, ao lado de outras ações de garantia de renda dos pobres, manteve intacta a base da pirâmide social. Milagre? Não. Políticas públicas. Fonte:CartaCapital
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