CÂNDIDO VACCAREZZA
Não temos o monopólio da verdade, mas acreditamos que nosso projeto merece continuar. E vamos lutar por isso de forma limpa
A ESTABILIDADE democrática e o aperfeiçoamento institucional são grandes conquistas nacionais, desde a Constituição de 1988.
As eleições de 2010 serão um momento importante para a renovação do pacto republicano brasileiro, hoje temperado pela certeza de que o país tem tudo para vivenciar prolongado ciclo de desenvolvimento econômico e social nas próximas décadas.
O crescimento econômico e o desenvolvimento social permitirão ao Brasil melhorar, a um só tempo, o seu Índice de Desenvolvimento Humano e a qualidade de suas instituições.
Nesse processo, é natural e desejável que haja um governo com voto e base parlamentar bem assentada, assim como uma oposição fiscalizadora e construtiva. É indispensável também a existência de instituições sociais e organizações não governamentais fortes, independentes e capazes de fazer o contrapeso institucional.
Esse amadurecimento do Brasil e o aumento de seu peso relativo no mundo tem sido reconhecido de forma crescente. Na semana passada, o presidente Lula foi agraciado em Londres com um importante prêmio por sua contribuição "à estabilidade e à integração na América Latina" e por seu papel na "resolução de crises regionais". Reconheça-se aí uma significativa premiação ao país, além da distinção ao presidente.
Se cabe aqui a paráfrase de um antigo teórico militar, no sentido de que o reconhecimento externo é a extensão do êxito interno por outros meios, não é demais registrar que tem sido muito difícil, para uma parte da elite política e midiática brasileira, conviver com o reconhecimento internacional e a popularidade interna do presidente Lula.
Em recente artigo dominical, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso termina sua peroração contra o presidente Lula tentando oferecer uma resposta para sua pergunta "Para onde vamos?". Sem saber ele próprio oferecer qualquer caminho, limita-se a dizer que "é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
O tempo passa, mas os atos falhos ficam. Em tentativa de continuísmo o ex-presidente tem doutorado. Releve-se ser ele o autor da extensão do mandato presidencial de quatro para oito anos.
Vem à mente a euforia tucana expressa pelo ex-ministro Sergio Motta, já falecido, de que o primeiro governo Fernando Henrique moldaria um projeto para durar 20 anos, pelo menos. Não se recorda, na época, de nenhum pedido de moderação aos exageros verbais dos seus. Afinal, o próprio FHC tratava de dividir o mundo em mocinhos e bandidos, entre justos e fracassomaníacos.
Agora, o ex-presidente volta a um velho e ineficiente expediente usado nos últimos sete anos -o de tentar grudar rótulos desqualificantes no governo do presidente Lula.
É triste, mas o ex-presidente resolveu partir para um autêntico vale-tudo verbal em sua busca de tanger a oposição para a disputa de 2010. Antes, houve várias teorias, como a de um suposto aparelhamento do Estado pelo PT. Tentaram também carimbar o rótulo de "governo corrupto".
Nada colou. Mas agora vêm com uma nova teoria, a de um certo "autoritarismo popular" que ressuscitaria formas políticas do autoritarismo militar, segundo o ex-presidente.
Com a muleta sociológica fora de prumo, Fernando Henrique tenta explicar. Diz tratar-se de um conluio entre sindicatos, burocracia partidária alojada no governo, fundos de pensão de origem estatal e empresários escolhidos para receber benesses. Não importa que essa salada intelectual do ex-presidente seja das mais indigestas. Releve-se a sua própria manipulação dos fundos de pensão no processo de privatizações, "no limite da irresponsabilidade", como disseram alguns dos seus na época.
Nessa nova tentativa de tentar grudar um rótulo desqualificante ao governo Lula, Fernando Henrique e outros usam e abusam daquilo que tanto acusam o PT: empregar quaisquer meios para atingir o fim de perpetuar-se no poder.
Esse vale-tudo não lhes cai bem.
Comparar o governo Lula com formas políticas do regime militar é, além de falsear grosseiramente a história, usar qualquer meio para buscar o fim almejado: voltar ao poder. Seria apenas triste se não fosse desonesto.
É duvidoso que tal tipo de argumento seja compartilhado por membros de seu próprio partido que vão à disputa de 2010. Por isso mesmo, há uma chance de que o debate se concentre em projetos para o país.
A seu tempo, em 2002, o voto popular deu um basta ao projeto de tintura neoliberal de FHC, "antes que fosse tarde". Por isso, com o governo Lula, o país teve capacidade de resistência na recente crise global e pôde se projetar como uma das economias que mais crescem no mundo.
Não temos o monopólio da verdade, mas acreditamos que nosso projeto merece continuar. Vamos lutar por isso limpamente. Esperamos que os outros também assim procedam. Quem ganhará com isso é o país.
CÂNDIDO VACCAREZZA, 54, médico, é deputado federal pelo PT-SP e líder do partido na Câmara dos Deputados.
Não temos o monopólio da verdade, mas acreditamos que nosso projeto merece continuar. E vamos lutar por isso de forma limpa
A ESTABILIDADE democrática e o aperfeiçoamento institucional são grandes conquistas nacionais, desde a Constituição de 1988.
As eleições de 2010 serão um momento importante para a renovação do pacto republicano brasileiro, hoje temperado pela certeza de que o país tem tudo para vivenciar prolongado ciclo de desenvolvimento econômico e social nas próximas décadas.
O crescimento econômico e o desenvolvimento social permitirão ao Brasil melhorar, a um só tempo, o seu Índice de Desenvolvimento Humano e a qualidade de suas instituições.
Nesse processo, é natural e desejável que haja um governo com voto e base parlamentar bem assentada, assim como uma oposição fiscalizadora e construtiva. É indispensável também a existência de instituições sociais e organizações não governamentais fortes, independentes e capazes de fazer o contrapeso institucional.
Esse amadurecimento do Brasil e o aumento de seu peso relativo no mundo tem sido reconhecido de forma crescente. Na semana passada, o presidente Lula foi agraciado em Londres com um importante prêmio por sua contribuição "à estabilidade e à integração na América Latina" e por seu papel na "resolução de crises regionais". Reconheça-se aí uma significativa premiação ao país, além da distinção ao presidente.
Se cabe aqui a paráfrase de um antigo teórico militar, no sentido de que o reconhecimento externo é a extensão do êxito interno por outros meios, não é demais registrar que tem sido muito difícil, para uma parte da elite política e midiática brasileira, conviver com o reconhecimento internacional e a popularidade interna do presidente Lula.
Em recente artigo dominical, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso termina sua peroração contra o presidente Lula tentando oferecer uma resposta para sua pergunta "Para onde vamos?". Sem saber ele próprio oferecer qualquer caminho, limita-se a dizer que "é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".
O tempo passa, mas os atos falhos ficam. Em tentativa de continuísmo o ex-presidente tem doutorado. Releve-se ser ele o autor da extensão do mandato presidencial de quatro para oito anos.
Vem à mente a euforia tucana expressa pelo ex-ministro Sergio Motta, já falecido, de que o primeiro governo Fernando Henrique moldaria um projeto para durar 20 anos, pelo menos. Não se recorda, na época, de nenhum pedido de moderação aos exageros verbais dos seus. Afinal, o próprio FHC tratava de dividir o mundo em mocinhos e bandidos, entre justos e fracassomaníacos.
Agora, o ex-presidente volta a um velho e ineficiente expediente usado nos últimos sete anos -o de tentar grudar rótulos desqualificantes no governo do presidente Lula.
É triste, mas o ex-presidente resolveu partir para um autêntico vale-tudo verbal em sua busca de tanger a oposição para a disputa de 2010. Antes, houve várias teorias, como a de um suposto aparelhamento do Estado pelo PT. Tentaram também carimbar o rótulo de "governo corrupto".
Nada colou. Mas agora vêm com uma nova teoria, a de um certo "autoritarismo popular" que ressuscitaria formas políticas do autoritarismo militar, segundo o ex-presidente.
Com a muleta sociológica fora de prumo, Fernando Henrique tenta explicar. Diz tratar-se de um conluio entre sindicatos, burocracia partidária alojada no governo, fundos de pensão de origem estatal e empresários escolhidos para receber benesses. Não importa que essa salada intelectual do ex-presidente seja das mais indigestas. Releve-se a sua própria manipulação dos fundos de pensão no processo de privatizações, "no limite da irresponsabilidade", como disseram alguns dos seus na época.
Nessa nova tentativa de tentar grudar um rótulo desqualificante ao governo Lula, Fernando Henrique e outros usam e abusam daquilo que tanto acusam o PT: empregar quaisquer meios para atingir o fim de perpetuar-se no poder.
Esse vale-tudo não lhes cai bem.
Comparar o governo Lula com formas políticas do regime militar é, além de falsear grosseiramente a história, usar qualquer meio para buscar o fim almejado: voltar ao poder. Seria apenas triste se não fosse desonesto.
É duvidoso que tal tipo de argumento seja compartilhado por membros de seu próprio partido que vão à disputa de 2010. Por isso mesmo, há uma chance de que o debate se concentre em projetos para o país.
A seu tempo, em 2002, o voto popular deu um basta ao projeto de tintura neoliberal de FHC, "antes que fosse tarde". Por isso, com o governo Lula, o país teve capacidade de resistência na recente crise global e pôde se projetar como uma das economias que mais crescem no mundo.
Não temos o monopólio da verdade, mas acreditamos que nosso projeto merece continuar. Vamos lutar por isso limpamente. Esperamos que os outros também assim procedam. Quem ganhará com isso é o país.
CÂNDIDO VACCAREZZA, 54, médico, é deputado federal pelo PT-SP e líder do partido na Câmara dos Deputados.
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