sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A corrupção intrínseca do modelo político

Luís Nassif, colunista do Último Segundo
Os episódio envolvendo o governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (DEM) completa o quadro da política brasileira. Arruda era um dos mais cotados para vice-presidente da chapa de José Serra. As empresas flagradas pela Polícia Federal com esquemas pesados de propina atuaram, antes, na Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria da Saúde – que no mesmo período (gestão Serra) terceirizou os serviços de radiologia para uma empresa sem tradição no ramo. Sem licitação.
Significa que o governo federal é diferente do governo do DF ou de São Paulo? Não, em absoluto. Significa que, no modelo político atual, todos são iguais. Nos últimos anos, o jogo de financiamento de caixa 2 concentrou-se na área de serviços. Ainda há esquemas pesados nas obras físicas, entre as empreiteiras. Os Tribunais de Contas – especialmente o da União - , no entanto, desenvolveram metodologias aprimoradas para cercar os preços das obras físicas.
A corrupção enveredou, então, pela área de serviços e de sistemas – onde há grande dose de capital intelectual, de difícil aferição. O jogo é curioso e repete, no inverso, o que ocorria antes da chegada do PT ao poder. Quem estava no Executivo – governo FHC – conseguia o financiamento de campanha em grandes contratos públicos ou nos programas de privatização. Ao PT restava os contratos com empresas de serviço municipais – lixo, ônibus etc.
Com o PT no poder, inverteu-se o jogo. O governo federal controla os grandes contratos e a oposição teve que partir para contratos miúdos que até agora só não merecem manchetes escandalosas por conta da blindagem proporcionada pela grande mídia.
O modelo de corrupção é simples. A figura central desse jogo é o que se poderia batizar de empreendedor de jogadas. É o sujeito que aprende como operar com o setor público e bancar as propinas políticas deixando o mínimo de rastro. Cada partido, em geral, trabalha com seus próprios operadores.
Depois, o know-how acumulado em um estado é exportado para estados vizinhos de governadores aliados.
As empresas envolvidas no escândalo da merenda escolar da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, aparecem no governo Yeda Crusius. A CTIS, empresa de aluguel de equipamentos de informática, surgiu em Brasília no governo passado. Hoje em dia, leva a maioria dos contratos de São Paulo.
O mesmo aconteceu com a Positivo, que se transformou no maior montador de computadores do país graças aos contratos com a área pública. Em São Paulo, a Secretaria da Educação adquiriu notebooks Positivo para venda aos professores – com sistema Office incluído. Os preços não eram muito diferentes dos de varejo, adquiridos individualmente. Nas áreas de limpeza e de terceirização de mão-de-obra estão dentre as prediletas para jogadas. Cada partido tem as empresas afilhadas cuja atuação, muitas vezes, é exportada para estados de aliados. No caso de terceirização, por exemplo, a empresa que domina os contratos de São Paulo é a Tejofran. Em Brasilia, a Capital Federal. Só que a tendência é tudo isso virar escândalo. O que obrigará, em breve, a mudanças no modelo político.

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