As “ex”, os “Ex”, as pesquisas e a Política do Futuro
A atriz Mariane Vicentini, ex-mulher do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, disse não se surpreender com as denúncias e as imagens de corrupção que colocam seu ex-marido como o chefe da quadrilha do “ Mensalão do Demo” (Porque, afinal, a imprensa insiste em falar de “Mensalão do DF? É para generalizar e despersonalizar?). “Ele se aliou a pessoas que são sujas e perigosas, e há muito mais para ser investigado”, revelou a atriz. Segundo ela, além do dinheiro entregue em espécie, o governador teria gastos pessoais pagos com dinheiro ilegal através de cartões de crédito usados por seus principais auxiliares. A ex-mulher acusa Arruda e seu grupo, ainda, de estarem usando o dinheiro arrecadado na compra de propriedades e citou um haras nos arredores de Brasília. De acordo com a moça, nem todas as propriedades do governador estão em seu nome. Embora nessa lambança toda, Mariane não tenha explicado ainda o porquê dela ter aceitado a divisão de um patrimônio ilegal e imoral? Mas, esta história fica pra depois. O importante agora é se compreender que há “ex” e “EX”..., dependendo apenas da índole do casal em questão.
Política no sentido amplo e positivo
Enquanto a ex-mulher de Arruda nesses últimos dias detonava a imagem de Arruda, o “Jornal do Comércio”, do belo estado do Rio Grande do Sul, publicava, na edição de ontem (dia 07), excelente entrevista com Carlos Araújo, ex-deputado estadual pelo PDT, que falou coisas importantes sobre o perfil da futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff, com quem foi casado por 30 anos. E falou somente coisas boas e bonitas sobre a “ex”. O aspecto mais importante foi a questão pessoal mesmo: comentários sobre a personalidade e a formação de Dilma, aspectos pouco conhecidos ainda pelo grande público. Carlos Araújo, depois de destacar a capacidade e o idealismo de candidata de Lula, ironizou aqueles que tentam estigmatizar a ministra-chefe da Casa Civil como um personagem “friamente técnico”. O argumento do “ex” é forte: "Dilma foi presa pela ditadura militar". E completa fornecendo o argumento insofismável: "A ditadura militar prenderia uma técnica?" E eu completaria: “para quê?”. Quer dizer: segundo Araújo, Dilma não é, definitivamente, apenas uma técnica: "Nunca foi. Sempre foi política. Foi presa porque era política", explica Araújo. E ironiza: "Então, o Serra é um técnico porque foi ministro da Saúde?". Uma coisa é política no sentido amplo, que o grego Aristóteles lhe atribuía, como o cidadão que participava da vida integral na polis (cidade-estado) em busca da felicidade coletiva, em todas as suas dimensões - e que se submetia as suas regras de organização.Outra coisa é a política partidária, algo muito específico, uma invenção muito recente de participação política que o iluminismo e as “Revoluções Burguesas” nos legaram. Segundo o ex-marido, Dilma se destaca tanto num aspecto quanto no outro. Aliás, fazendo "mea-culpa" e destacando o lado desprendido de Dilma , Araújo explica as razões pelas quais Dilma Rousseff nunca concorreu a um mandato: "Isso é outra coisa. Tem quem faça política sem ser candidato. Até porque eu (quando marido) era um empecilho para ela. Eu me candidatava e ela ficava colaborando. Mas tinha luz própria, sempre teve. Dilma não está aí por ser técnica, está por ser política. Desde o início, no Ministério de Minas e Energia, porque entendia do tema".
As pesquisas eleitorais: ascensões e quedas
Enquanto tudo isso acontecia, as pesquisas afloravam. Por mais que tentem nos ludibriar, os números mostram que a candidatura de Dilma é consistente e em plena ascensão, mesmo diante das sabotagens dos poderosos. Em pesquisa feita justamente no momento em que havia uma superexposição do candidato Serra em relação aos demais, quando seu partido fazia inserções na TV (coincidência?), o governador de São Paulo subiu de pífios 35% para 38% (quer dizer, uma clara estagnação técnica de dois pontos pra mais e pra menos), segundo pesquisa CNI/Ibope. Na verdade oscilou dentro da margem de erro, mas de qualquer forma, mostra uma tendência de estagnação sem potencial algum, pois é figura manjada pelo eleitorado, principalmente se se considerar o índice de rejeição. Há muito vem se expondo na mídia, foi ministro de Estado, é um governador de um estado poderoso e já participou de campanhas presidenciais anteriores. E Serra fez, dias antes da pesquisa, uma maratona na TV, apareceu em programas do Ratinho, Hebe, Luciana Gimenez, tudo num esforço desesperado para tentar ser simpático (sua maior dificuldade...) e alavancar sua candidatura. A pesquisa, claro!, foi feita sem se levar em consideração as últimas notícias sobre o afundamento absoluto de seus aliados “democratas” diante da catástrofe de Arruda, nem muito menos os últimos comentários desagregadores do tucanato de Aécio sobre a sucessão. A verdade é que a pesquisa foi muito ruim para quem já é muito conhecido como Serra, principalmente se considerando a superexposição verificada na mídia. O recado dos pesquisados foi muito claro: “candidatura ruim de voto”. A situação fica ainda mais calamitosa para Serra, quando se observa que as pesquisas vêm mostrando a consolidação da aceitação popular ao governo Lula, que, além de umbilicalmente ligado à candidatura Dilma, está, conforme o próprio Ibope, nas alturas (83% de aprovação). Por sua vez, a ministra, sem ter participado de eleições anteriores e sem ser identificada com os políticos tradicionais (algo que, pelo que se vê com relação ao que é veiculado sobre a categoria, seria até positivo), cresceu dois pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Ciro perdeu a vice-liderança e tem agora 13%, quatro pontos a menos que na sondagem realizada em setembro. Dilma passou Ciro Gomes e está em ascensão. Serra aparece com 38% das intenções de voto em novembro, contra 35% no levantamento anterior, de setembro. A petista subiu de 15% para 17%, enquanto Ciro baixou de 17% para 13%. Quer dizer, Serra está estacionário, o que já se esperava. E os demais candidatos montados, como Ciro e Marina, não possuem condições mínimas e murcham.
Divisor de águas: começa agiora a escalada rumo ao Planalto
Daí para frente, Dilma terá que mostrar ao grande público o lado político que seu “ex” se referi. As pessoas pobres já sabem que Dilma é uma “gerentona” do PAC, do Bolsa Família e tudo mais, mas pessoas das classes “C” e “D” não lêm jornais, não dão bola para os colunistas e articulistas, não querem saber de devaneios ideológicos. Querem sim, simpatia e carisma. E Dilma parece estar de soltando. Vem fazendo comentários importantes com relação a isso. Vem se expondo mais e falando do que interessa: como presidente, irá manter ou não as políticas de proteção social de Lula? Haverá ou não o perigo de se voltar à selvageria do “deixe fazer” e “deixe passar” neoliberalóide do tucanado? É isso que o povo teme, desesperadamente. Não é por outro motivo que dona Dilma Rousseff, logo depois de anunciadas as pesquisas, criticou nesta segunda-feira (7) o governo anterior ao mostrar que eles “viraram as costas” para as questões sociais. Dilma falou durante a 8ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília. Segundo ela, o atual governo já investiu mais de R$ 357 bilhões na área social. “Percebemos que nós mudamos profundamente o que se fazia no Brasil durante o governo passado. Nós destinamos uma quantidade significativa de recursos para a política social. E isso resultou agora em que nós estejamos aplicando mais de R$ 357 bilhões em políticas sociais. Coisa que no passado viraram as costas, diziam que não era importante investir no social, que o mercado daria conta disso”, desmascarou a ministra. E num é que ela está certa. Este comentário, para qualquer analista político menos amestrado, é um divisor de águas na candidatura Dilma. Daqui por diante, a massa, o povão, terá oportunidade de conhecer não apenas a competente, determinada e íntegra técnica, mas também aquela moça determinada e politizada muito bem lembrada pelo ex-companheiro Carlos Araújo. É isso.... Agora é esperar para os debates começarem e os dados aparecerem...
Por Said B. Dib, historiador, analista político em Brasília
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