quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

José Graziano: Com fome não haverá um futuro sustentável

Quando se coloca na balança uma criança subnutrida, o que está sendo pesado na verdade não é apenas um organismo enfraquecido, mas a síntese de uma lógica tão nefasta quanto a que derruba florestas, sopra destruição e exclui a possibilidade de vida digna a bilhões de pessoas em todo o mundo. A consciência do século XXI não pode mais negligenciar que, enquanto houver fome no mundo, não haverá futuro sustentável.
Nada que se confunda com a produção sistemática de excluídos resultará em equilíbrio duradouro. As respostas aos desafios que ameaçam a humanidade não podem mais repetir o enfoque segmentado predominante no padrão de desenvolvimento do século XX que nos deixou como legado impasses sociais e ambientais. Elas dependem, necessariamente, do diálogo entre as demandas sociais, econômicas e ambientais.
A mudança climática atinge populações pobres, institucionalmente desamparadas e com menor capacidade de reagir a eventos desestabilizadores. Enquadram-se aí, por exemplo, os contingentes excluídos do mercado e os pequenos produtores rurais. Em quase todas as regiões do mundo, populações encurraladas pela fome e a pobreza ocupam áreas de risco e figuram entre as principais vítimas de desastres ambientais acentuados por fenômenos como o El Niño e La Niña.
A mudança climática também aumenta a intensidade e imprevisibilidade de desastres climáticos. As consequências já são visíveis, por exemplo, no aumento do custo de seguros agrícolas e na escassez de água que afeta algumas regiões do mundo e se torna a principal limitante à expansão agrícola. Ademais, a incerteza relacionada ao clima contribui para a volatilidade dos preços dos alimentos.
Para 2050, a FAO prevê que a produção agrícola dos países em desenvolvimento caia entre 9% e 21% por conta do aquecimento global. Mesmo um aumento relativamente pequeno da temperatura média global pode ter impactos significativos na segurança alimentar mundial porque causaria uma queda de produtividade e inutilizaria até 110 milhões de hectares de terra, principalmente nas zonas mais próximas à linha do Equador, onde estão a maioria dos países em desenvolvimento.
Por outro lado, a população mundial cresce o equivalente a uma Etiópia por ano (80 milhões de pessoas). Em 2050, a humanidade somará 9 bilhões de bocas. Para garantir seu abastecimento, a FAO prevê a necessidade de se agregar uma Austrália agrícola à oferta mundial de alimentos a cada ano. Não há, portanto, nenhum malthusianismo em reconhecer que a mudança climática pode ameaçar a segurança alimentar. No entanto, há terra suficiente, bem como tecnologia e conhecimento disponíveis para aumentar a produção e alimentar todos os habitantes do planeta hoje. E será possível alimentar a população mundial em 2050 praticamente sem expandir a fronteira agrícola: a FAO estima que 90% do aumento da produção necessária para alimentar o mundo em 2050 virá de ganhos de produtividade e apenas 10% do aumento da área plantada. Leia matéria completa

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