Possivelmente o comentário mais correto entre os jornalistas que analisaram a pesquisa Datafolha divulgada pela Folha de S. Paulo neste domingo, veio de onde menos se esperava, da jornalista Eliana Cantanhede em seu artigo 'Serra e seus múltiplos adversários'. Parte dele reproduzi na nova seção, 'Essa ninguém me contou', no primeiro post.
Na espontânea, quando o pesquisado pode chutar o nome que bem entender para presidente, Lula é o grande vencedor, com 20%, deixando os dois reais candidatos empatados em 8%. Excluída a chance de citar Lula, o resultado é significativo. Serra tem 8%, concorrendo com dois adversários: Dilma, com 10%, e o "candidato do Lula", com 8%. Faça a conta de somar. Agora, subtraia: muitos acham que Serra é o candidato do Lula, mas um dia vão parar de achar.
A reconhecida má vontade da 'colonista' com o governo Lula e com o PT dão um pouco mais de credibilidade ao comentário. Uma pesquisa pode ser questionada, alguns só acreditam em pesquisas favoráveis para seus candidatos, outros não acreditam em nenhuma, outros, entre os quais me incluo, acreditam que as diferentes metodologias das diferentes pesquisas, deveriam ser mais bem divulgadas. Por exemplo, em 2006 comentei com o então jornalista da Rede Bandeirantes, Franklin Martins, que havia uma enorme diferença na amostragem da população por renda entre o Vox Populi e o Ibope. Acredito que suficiente para alterar os resultados. Todos devem se lembrar que o instituto mineiro erroU feio no primeiro turno. Era o único que apontava uma vantagem pra lá confortável para Lula.
Hoje Gunter, comentarista no blog do Luis Nassif, escreveu que ...
... "dizer 'se a eleição ocorresse hoje…' é sofisma, pois não existem eleições sem que antes tenha havido campanha na mídia e/ou palanques de 2 a 4 meses. E ambos podem mudar significativamente a posição não só dos indecisos, mas inclusive de alguns decididos."
Por concordar com o comentarista, afirmo que só se pode dizer, a 10 meses das eleições, que o pesquisado está realmente 'decidido', pela pesquisa espontânea. Ela é que mede o voto consolidado. Não se trata apenas de recall, mas de opinião formada. Diante dessa premissa, a tabela reproduzida abaixo mostra bem o desafio das oposições. Com ou sem Lula, a vantagem dos candidatos ligados diretamente ao governo é bastante significativa (28X8 ou 18X8). Em dezembro de 2002, para os menos fanáticos, Fernando Henrique Cardoso e Serra não somavam mais do que 8% na pesquisa espontânea.
... "dizer 'se a eleição ocorresse hoje…' é sofisma, pois não existem eleições sem que antes tenha havido campanha na mídia e/ou palanques de 2 a 4 meses. E ambos podem mudar significativamente a posição não só dos indecisos, mas inclusive de alguns decididos."
Por concordar com o comentarista, afirmo que só se pode dizer, a 10 meses das eleições, que o pesquisado está realmente 'decidido', pela pesquisa espontânea. Ela é que mede o voto consolidado. Não se trata apenas de recall, mas de opinião formada. Diante dessa premissa, a tabela reproduzida abaixo mostra bem o desafio das oposições. Com ou sem Lula, a vantagem dos candidatos ligados diretamente ao governo é bastante significativa (28X8 ou 18X8). Em dezembro de 2002, para os menos fanáticos, Fernando Henrique Cardoso e Serra não somavam mais do que 8% na pesquisa espontânea.
Calculo que para chegar aos dados da última coluna (dezembro sem Lula), o entrevistador informou ao entrevistado que escolheu espontaneamente o presidente, que ele não pode ser o candidato, oferecendo então a oportunidade para uma segunda resposta. O também jornalista da Folha, Fernando Rodrigues, escreveu em seu blog que ....
... a pesquisa Datafolha realizada de 14 a 18 de dezembro trouxe só boas notícias (e nenhuma ruim) apenas para Dilma Rousseff (PT):
a) ela se consolidou isoladamente em segundo lugar, sendo a principal herdeira dos votos de Heloísa Helena (PSOL), que saiu da disputa;
b) reduziu sua distância em um terço em relação a José Serra (PSDB); os dois estavam separados por 21 pontos em agosto e essa distância caiu agora para 14 pontos;
c) a petista lidera em todos os cenários possíveis quando o governador de São Paulo não está no páreo (teria 31% contra apenas 19% de Aécio Neves, se este último fosse o candidato tucano);
d) sua rejeição é igual à obtida pelos seus principais adversários (na casa dos 20%);
e) por fim, Dilma conseguiu tudo isso sem ser candidata. Apenas apareceu ao lado de Lula o tempo todo e estrelou propagandas do PT como a ministra que ajuda a administrar o governo. ...
... Um fato porém é inescapável: cumpriu-se a profecia lulista segundo a qual Dilma Rousseff seria uma candidata competitiva em dezembro de 2009 (tese sempre repelida por tucanos). Mas é agora que o jogo começa de fato.
Muitos analistas costumam minimizar a possível transferência de votos de Lula para a sua candidata, dizendo que 'carisma não se transfere'. De fato não, mas estes minimizam o fato de que o carisma do presidente está em grande parte relacionado a aprovação das políticas de seu governo. Se a gestão Lula não fosse tão bem avaliada, não haveria carisma capaz de sustentar tão alta avaliação pessoal.
E é esta a avaliação que deve, em minha opinião, facilitar a transferência. Afinal, carisma por carisma, o candidato das oposições não causa inveja em ninguém. Todas as pesquisas apontavam até há alguns meses, quando essa ainda era juridicamente uma possibilidade, que a população aprovaria um terceiro mandato. E este será um mote inevitável, com o qual lutará a candidatura de oposição.
Em Recife, em 2008, havia um desconhecido João da Costa, técnico e candidato apoiado por João Paulo, o bem avaliado prefeito da capital pernambucana, enfrentando vários candidatos competitivos, mas principalmente o favorito ex-governador Mendonça Filho. Em dezembro do ano anterior, Costa não tinha mais do que 3% nas pesquisas. Vários analistas experientes acreditaram que os eleitores que aprovavam em massa a gestão de João Paulo (na casa dos 70%) poderiam votar no candidato da oposição.
O resultado das urnas 'surpreendeu' muita gente boa. Não a mim.
... a pesquisa Datafolha realizada de 14 a 18 de dezembro trouxe só boas notícias (e nenhuma ruim) apenas para Dilma Rousseff (PT):
a) ela se consolidou isoladamente em segundo lugar, sendo a principal herdeira dos votos de Heloísa Helena (PSOL), que saiu da disputa;
b) reduziu sua distância em um terço em relação a José Serra (PSDB); os dois estavam separados por 21 pontos em agosto e essa distância caiu agora para 14 pontos;
c) a petista lidera em todos os cenários possíveis quando o governador de São Paulo não está no páreo (teria 31% contra apenas 19% de Aécio Neves, se este último fosse o candidato tucano);
d) sua rejeição é igual à obtida pelos seus principais adversários (na casa dos 20%);
e) por fim, Dilma conseguiu tudo isso sem ser candidata. Apenas apareceu ao lado de Lula o tempo todo e estrelou propagandas do PT como a ministra que ajuda a administrar o governo. ...
... Um fato porém é inescapável: cumpriu-se a profecia lulista segundo a qual Dilma Rousseff seria uma candidata competitiva em dezembro de 2009 (tese sempre repelida por tucanos). Mas é agora que o jogo começa de fato.
Muitos analistas costumam minimizar a possível transferência de votos de Lula para a sua candidata, dizendo que 'carisma não se transfere'. De fato não, mas estes minimizam o fato de que o carisma do presidente está em grande parte relacionado a aprovação das políticas de seu governo. Se a gestão Lula não fosse tão bem avaliada, não haveria carisma capaz de sustentar tão alta avaliação pessoal.
E é esta a avaliação que deve, em minha opinião, facilitar a transferência. Afinal, carisma por carisma, o candidato das oposições não causa inveja em ninguém. Todas as pesquisas apontavam até há alguns meses, quando essa ainda era juridicamente uma possibilidade, que a população aprovaria um terceiro mandato. E este será um mote inevitável, com o qual lutará a candidatura de oposição.
Em Recife, em 2008, havia um desconhecido João da Costa, técnico e candidato apoiado por João Paulo, o bem avaliado prefeito da capital pernambucana, enfrentando vários candidatos competitivos, mas principalmente o favorito ex-governador Mendonça Filho. Em dezembro do ano anterior, Costa não tinha mais do que 3% nas pesquisas. Vários analistas experientes acreditaram que os eleitores que aprovavam em massa a gestão de João Paulo (na casa dos 70%) poderiam votar no candidato da oposição.
O resultado das urnas 'surpreendeu' muita gente boa. Não a mim.
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