Wilson Tosta
Um exame cuidadoso da última pesquisa DataFolha dá uma boa pista sobre os motivos que levam o governador José Serra (PSDB) a não sair candidato desde já à Presidência da República. Não se trata, porém, de olhar o que já aconteceu - a notável ascensão de Dilma Rousseff (PT), que em quatro meses cresceu de 16% para 23% (ainda que em cenário de candidaturas diferente do anterior). O problema está no que pode estar por vir, provável motivo de preocupação de Serra e do adiamento da sua entrada na campanha pelo Planalto.
Primeiro, é preciso uma explicação. Uma regra não escrita do jogo eleitoral diz que, quanto mais distante a data do pleito, mais a pesquisa mede conhecimento de nome e menos avalia intenção de voto. Em um cenário assim, quem é mais conhecido leva vantagem, o que faz políticos que disputaram eleições recentes terem bom desempenho, com lideranças folgadas no início da campanha, por causa do recall, recordação do pleito anterior. O problema é sustentar a dianteira, o que nem sempre é possível.
No início de 1994, por exemplo, o recall de 1989 dava a Luiz Inácio Lula da Silva a primeira colocação absoluta nas sondagens da disputa presidencial, com 45%. Fernando Henrique Cardoso amargava metade disso, mais ou menos. Alguns meses depois, deu-se a virada. E FHC venceu no primeiro turno, cavalgando o Plano Real no auge do sucesso.
Outro esclarecimento: é regra entre políticos experientes que quem lidera pesquisas muito antes da eleição joga para esfriar a campanha. Interessa-lhe prolongar ao máximo a situação em que seu nome, mais conhecido, lidera. Fazer campanha, portanto, é obrigação de quem está atrás na corrida.
Com essas duas premissas, examinemos duas sondagens do DataFolha, feitas de 14 a 18 de dezembro e divulgadas dia 21. Uma estudou a popularidade de Lula, que obteve 72% de bom e ótimo como avaliação de governo. Alguns dados: o presidente conseguiu seus melhores números dessa avaliação na faixa de 25 a 34 anos (76%), entre quem tem até o nível fundamental de educação (74%) e quem ganha até cinco salários mínimos de renda familiar (73%).
Já a candidata de Lula, Dilma Rousseff, no cenário mais provável (no qual disputaria com Serra, Ciro Gomes e Marina Silva) tem índices bem diferentes. Entre quem tem 25 a 34 anos, obteve 25% de votos, 1/3 da avaliação do presidente na faixa. No eleitorado com até o ensino fundamental completo, teve 21%, quase 1/4 da popularidade de Lula no mesmo grupo.
O desempenho de Dilma melhora à medida em que aumenta o número de anos de estudo dos eleitores (25% entre quem tem até o ensino médio completo e 29% entre quem tem até o superior completo). Na renda, Dilma tem 23% entre quem ganha até cinco mínimos, mas no grupo de cinco a dez salários vai a 24% ; no com mais de dez, 30%.
Mais um dado a ser considerado: do total dos eleitores, 41% dizem só conhecer a ministra de ouvir falar, e outros 20% afirmam não conhecê-la. Já Serra é mais conhecido: 33% dizem apenas ter ouvido falar do governador e apenas 7% admitem que não o conhecem.
Algumas conclusões são possíveis. Uma é que Dilma cresceu em todas as faixas, mas avançou mais na elite mais escolarizada e com melhor renda - portanto, mais informada. Isso dá à ministra uma boa plataforma de largada entre os formadores de opinião, que pode lhe ser útil no futuro. Mas nas classes mais pobres e menos educadas, com menos acesso à informação e para quem a eleição ainda é algo distante, Dilma cresceu menos, provavelmente por ser menos conhecida.
Agora, com todos os dados, pensemos em Serra. Interessa-lhe adiar ao máximo o início da campanha porque, uma vez iniciada, ela desencadeará na maioria do eleitorado mais pobre o impulso por procurar um candidato. Isso diminuirá o peso do conhecimento do nome, que beneficia o governador; as pessoas tenderão a prestar atenção ao processo para escolher em quem votar. E, como Lula é muito popular entre os mais pobres, o movimento natural é que esse eleitorado procure o postulante de seu governo à sucessão e encontre Dilma.
Tudo isso torna pouco provável que, antes de deixar o cargo em abril, o governador de São Paulo saia da toca para, na caravana dos sonhos tucanos, pedir apoios pelo País, iniciando sua campanha, como quer o PSDB. Para Serra, interessa prolongar ao máximo o momento em que se mede mais o conhecimento de nome, para depois tentar se manter na frente e vencer.
Até agora, a estratégia deu certo: Serra lidera, com 37% no DataFolha, apesar da ascensão de Dilma. Resta saber se ou até quando essa situação se sustentará, ante o crescimento potencial da ministra.
Um exame cuidadoso da última pesquisa DataFolha dá uma boa pista sobre os motivos que levam o governador José Serra (PSDB) a não sair candidato desde já à Presidência da República. Não se trata, porém, de olhar o que já aconteceu - a notável ascensão de Dilma Rousseff (PT), que em quatro meses cresceu de 16% para 23% (ainda que em cenário de candidaturas diferente do anterior). O problema está no que pode estar por vir, provável motivo de preocupação de Serra e do adiamento da sua entrada na campanha pelo Planalto.
Primeiro, é preciso uma explicação. Uma regra não escrita do jogo eleitoral diz que, quanto mais distante a data do pleito, mais a pesquisa mede conhecimento de nome e menos avalia intenção de voto. Em um cenário assim, quem é mais conhecido leva vantagem, o que faz políticos que disputaram eleições recentes terem bom desempenho, com lideranças folgadas no início da campanha, por causa do recall, recordação do pleito anterior. O problema é sustentar a dianteira, o que nem sempre é possível.
No início de 1994, por exemplo, o recall de 1989 dava a Luiz Inácio Lula da Silva a primeira colocação absoluta nas sondagens da disputa presidencial, com 45%. Fernando Henrique Cardoso amargava metade disso, mais ou menos. Alguns meses depois, deu-se a virada. E FHC venceu no primeiro turno, cavalgando o Plano Real no auge do sucesso.
Outro esclarecimento: é regra entre políticos experientes que quem lidera pesquisas muito antes da eleição joga para esfriar a campanha. Interessa-lhe prolongar ao máximo a situação em que seu nome, mais conhecido, lidera. Fazer campanha, portanto, é obrigação de quem está atrás na corrida.
Com essas duas premissas, examinemos duas sondagens do DataFolha, feitas de 14 a 18 de dezembro e divulgadas dia 21. Uma estudou a popularidade de Lula, que obteve 72% de bom e ótimo como avaliação de governo. Alguns dados: o presidente conseguiu seus melhores números dessa avaliação na faixa de 25 a 34 anos (76%), entre quem tem até o nível fundamental de educação (74%) e quem ganha até cinco salários mínimos de renda familiar (73%).
Já a candidata de Lula, Dilma Rousseff, no cenário mais provável (no qual disputaria com Serra, Ciro Gomes e Marina Silva) tem índices bem diferentes. Entre quem tem 25 a 34 anos, obteve 25% de votos, 1/3 da avaliação do presidente na faixa. No eleitorado com até o ensino fundamental completo, teve 21%, quase 1/4 da popularidade de Lula no mesmo grupo.
O desempenho de Dilma melhora à medida em que aumenta o número de anos de estudo dos eleitores (25% entre quem tem até o ensino médio completo e 29% entre quem tem até o superior completo). Na renda, Dilma tem 23% entre quem ganha até cinco mínimos, mas no grupo de cinco a dez salários vai a 24% ; no com mais de dez, 30%.
Mais um dado a ser considerado: do total dos eleitores, 41% dizem só conhecer a ministra de ouvir falar, e outros 20% afirmam não conhecê-la. Já Serra é mais conhecido: 33% dizem apenas ter ouvido falar do governador e apenas 7% admitem que não o conhecem.
Algumas conclusões são possíveis. Uma é que Dilma cresceu em todas as faixas, mas avançou mais na elite mais escolarizada e com melhor renda - portanto, mais informada. Isso dá à ministra uma boa plataforma de largada entre os formadores de opinião, que pode lhe ser útil no futuro. Mas nas classes mais pobres e menos educadas, com menos acesso à informação e para quem a eleição ainda é algo distante, Dilma cresceu menos, provavelmente por ser menos conhecida.
Agora, com todos os dados, pensemos em Serra. Interessa-lhe adiar ao máximo o início da campanha porque, uma vez iniciada, ela desencadeará na maioria do eleitorado mais pobre o impulso por procurar um candidato. Isso diminuirá o peso do conhecimento do nome, que beneficia o governador; as pessoas tenderão a prestar atenção ao processo para escolher em quem votar. E, como Lula é muito popular entre os mais pobres, o movimento natural é que esse eleitorado procure o postulante de seu governo à sucessão e encontre Dilma.
Tudo isso torna pouco provável que, antes de deixar o cargo em abril, o governador de São Paulo saia da toca para, na caravana dos sonhos tucanos, pedir apoios pelo País, iniciando sua campanha, como quer o PSDB. Para Serra, interessa prolongar ao máximo o momento em que se mede mais o conhecimento de nome, para depois tentar se manter na frente e vencer.
Até agora, a estratégia deu certo: Serra lidera, com 37% no DataFolha, apesar da ascensão de Dilma. Resta saber se ou até quando essa situação se sustentará, ante o crescimento potencial da ministra.
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