terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Morre coronel Erasmo Dias aos 85 anos

Corpo do ex-secretário de Segurança, que comandou invasão da PUC, foi velado na Assembleia Legislativa

Fausto Macedo
Morreu ontem às 19h20 em São Paulo o coronel reformado do Exército Antonio Erasmo Dias, aos 85 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer. Deixa seis filhas.
O corpo foi velado no salão nobre da assembleia Legislativa, no Ibirapuera, e será sepultado hoje no cemitério do Paquetá, em Santos. Ele ficou famoso por sua atuação nos anos de chumbo, marcada pelo combate sem tréguas aos opositores do regime militar.
Sua missão mais polêmica foi o cerco ao câmpus da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em 22 de setembro de 1977, ocasião em que prendeu 900 estudantes e os levou para o quartel da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e para o Dops, a polícia política. Naquela noite a tropa de choque explodiu bombas incendiárias contra manifestantes que pretendiam refundar a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nascido em Paraguaçu Paulista a 2 de junho de 1924, Erasmo era formado e licenciado em História pela Universidade de São Paulo e bacharel em Direito. Ficou no Exército, de que tanto se orgulhava, por 35 anos.
Em março de 1974, no governo Emílio Garrastazu Médici, recebeu a incumbência de dirigir a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o que fez com mão de ferro ? Paulo Egydio Martins governava São Paulo.
Erasmo ficou no poder durante cinco anos, até março de 1979, período em que protagonizou ações controversas. Acusado de arbitrário e truculento, frequentemente dizia a seus interlocutores que agia amparado no sistema legal vigente. Negou violências até o fim da vida, mesmo quando as evidências eram tantas, como na invasão da PUC. "A uma ação corresponde uma reação", justificava.
Durante sua gestão, o Instituto Médico Legal braço da Segurança Pública endossou episódios sombrios dos porões. Legistas subscreveram laudos que atestavam como suicídio a morte do jornalista Vladimir Herzog e a do operário Manoel Fiel Filho, nos porões do DOI-CODI, do antigo II Exército. Foi fundador da Arena e elegeu-se deputado federal, pela primeira vez, quando deixou a Segurança Pública. Depois no PP (Partido Progressista), foi deputado estadual e vereador pela cidade de São Paulo. Abandonou a política em 2004, alegando desgosto com o Legislativo.
Nos últimos meses, a saúde precária por causa da doença que devastou seu intestino, quase 20 quilos mais magro, Erasmo vivia modestamente em um flat na alameda Jaú. Na hora do almoço, com dificuldades, caminhava pela Avenida Paulista e pela Brigadeiro Luiz Antonio. A quem o abordasse mantinha o discurso eloquente sobre os "perigos da esquerda trotskista".
Erasmo Dias era um ícone da ditadura militar. Perseguiu, prendeu, torturou, matou muitos inocentes. Já foi tarde, vai pagar seus pecados, seus crimes no fogo do inferno.

Um comentário:

Ana Quaiato disse...

Erasmo Dias, morreu, porque é a morte inexorável!
No entanto, tenho certeza que o seu corpo 'em vida' já estava putrefato, mais do que estará agora nas profundezas daquela que não recusa nenhum - a terra.
Aquele, nunca deu mostras da chama VIDA!
Portanto, inútil falar em alma! tststs
Colaborador dos crimes bárbaros e horrendos da ditadura militar, merecia ser agraciado com os métodos que aprovava por certo por achar justo - ser lançado numa vala, como indigente!
- Erasmo Dias, o mundo com certeza ficou melhor sem você!