O Estado de S. Paulo - 02/03/2010
Pesquisas eleitorais são mais do que o proverbial instantâneo das preferências do público votante. Conforme as circunstâncias, os seus próprios resultados poderão influir na disputa à medida que contribuírem para fixar percepções sobre as chances dos contendores, realimentando a tendência expressa nos números. O que, por sua vez, cria fatos políticos ? em geral adversos para os candidatos "perdedores" e vice-versa. É o que deve acontecer na esteira da sondagem do instituto Datafolha, divulgada domingo. O levantamento mostra que, em relação ao anterior da mesma série, feito em meados de dezembro, o governador José Serra perdeu 5 pontos porcentuais, enquanto a ministra Dilma Rousseff cresceu outro tanto. Com isso a vantagem do tucano sobre a petista ficou reduzida a 4 pontos ? 10 a menos do que na outra rodada. Nesses dois meses, Dilma só não ocupou sozinha o espaço político na mídia porque ao lado, comandando o espetáculo, estava o seu patrono Lula, com as suas mega-senas de popularidade.
As reações no PSDB foram as que se podiam esperar: de um lado, pressionar ainda mais o seu protocandidato para que assuma de uma vez por todas a sua intenção de ir novamente à luta pelo Planalto; de outro lado, desatar o quanto antes o nó da escolha de seu companheiro de chapa. A esta altura, aliás, com a quase certa adesão do PMDB a Dilma e com o desgaste do que restava do patrimônio eleitoral do DEM, roído pelos panetones do Distrito Federal e pelas enchentes em São Paulo, o PSDB não tem outra escolha salvo a da "chapa puro-sangue". Será uma volta por cima se o governador mineiro Aécio Neves enfim decidir empenhar o seu futuro como vice de Serra. Qualquer outra alternativa parecerá uma resignação, o "não tem tu, vai tu mesmo" do léxico popular. Mas é uma simplificação explicar a alta de Dilma e a baixa de Serra apenas pela superexposição dela e o recolhimento dele.
Os ganhos da ministra acompanham o crescimento da parcela do eleitorado que tomou conhecimento de que ela é "a mulher do Lula", como já se ouviu dizer nos redutos nordestinos de ambos. Sabidamente crucial, o peso desse fator para o desfecho do pleito pode ser avaliado pelas respostas à questão que não sai da cabeça dos políticos ? a aptidão do presidente para emplacar o nome que pinçou e cultivou para suceder-lhe. Pois nada menos de 42% dos entrevistados do Datafolha disseram que votarão em quem Lula apoiar. (Em dezembro, eram 38%.) E ainda só 59% dos eleitores (52% em dezembro) sabem quem ele apoia. O entrelaçamento dessas duas ordens de dados indica sem sombra de dúvida que, enquanto se mantiverem as condições que têm favorecido a decolagem de Dilma, o céu à sua frente será de brigadeiro. Não só mais lulistas a descobrirão, como também mais não-lulistas passarão a prestar atenção na sua figura.
Indício disso são os avanços da ministra no Sudeste e no Sul, diminuindo a folga de Serra da ordem de 20 pontos em ambos os casos para 14. (No Nordeste, a diferença pró-Dilma aumentou de 3 pontos para 14 também.) Dizem os tucanos que, a partir de abril, quando Serra e Dilma tiverem descido dos seus cargos, ela deixará de ser a candidata única e terá de se haver com o desafio de provar que, jamais tendo participado de uma eleição nem tendo governado um município sequer, poderá ser uma presidente melhor do que o experimentado Serra. "Presidente melhor" querendo dizer mais qualificado para manter, aperfeiçoada, a obra lulista. Mas o efeito dessa tática poderá ser neutralizado quando Lula disser ao eleitorado que ninguém melhor do que ele sabe do que Dilma é capaz, tanto que a escolheu. O que conduz à camisa de força em que a oposição se meteu.
Além da desarticulação e dos problemas internos do PSDB, aos quais se somam as atribulações do DEM, é evidente, pelo menos até agora, que Serra só tem a oferecer ao eleitor a credencial da sua competência. Não é pouco, decerto. Afinal, Serra terá de começar a divulgar as suas ideias a respeito do futuro do País, consolidadas num programa de governo, ao passo que Dilma não tem de se dar a esse trabalho. Para ela, basta dizer que continuará fazendo tudo o que o governo Lula faz. Não bastasse, Serra precisa resolver os dilemas que tolhem sua candidatura e que o impedem de arregaçar as mangas e entrar de cabeça na campanha eleitoral. Pois o fato é que, para grande parte dos eleitores, até agora Dilma está sem adversários na corrida eleitoral.
Pesquisas eleitorais são mais do que o proverbial instantâneo das preferências do público votante. Conforme as circunstâncias, os seus próprios resultados poderão influir na disputa à medida que contribuírem para fixar percepções sobre as chances dos contendores, realimentando a tendência expressa nos números. O que, por sua vez, cria fatos políticos ? em geral adversos para os candidatos "perdedores" e vice-versa. É o que deve acontecer na esteira da sondagem do instituto Datafolha, divulgada domingo. O levantamento mostra que, em relação ao anterior da mesma série, feito em meados de dezembro, o governador José Serra perdeu 5 pontos porcentuais, enquanto a ministra Dilma Rousseff cresceu outro tanto. Com isso a vantagem do tucano sobre a petista ficou reduzida a 4 pontos ? 10 a menos do que na outra rodada. Nesses dois meses, Dilma só não ocupou sozinha o espaço político na mídia porque ao lado, comandando o espetáculo, estava o seu patrono Lula, com as suas mega-senas de popularidade.
As reações no PSDB foram as que se podiam esperar: de um lado, pressionar ainda mais o seu protocandidato para que assuma de uma vez por todas a sua intenção de ir novamente à luta pelo Planalto; de outro lado, desatar o quanto antes o nó da escolha de seu companheiro de chapa. A esta altura, aliás, com a quase certa adesão do PMDB a Dilma e com o desgaste do que restava do patrimônio eleitoral do DEM, roído pelos panetones do Distrito Federal e pelas enchentes em São Paulo, o PSDB não tem outra escolha salvo a da "chapa puro-sangue". Será uma volta por cima se o governador mineiro Aécio Neves enfim decidir empenhar o seu futuro como vice de Serra. Qualquer outra alternativa parecerá uma resignação, o "não tem tu, vai tu mesmo" do léxico popular. Mas é uma simplificação explicar a alta de Dilma e a baixa de Serra apenas pela superexposição dela e o recolhimento dele.
Os ganhos da ministra acompanham o crescimento da parcela do eleitorado que tomou conhecimento de que ela é "a mulher do Lula", como já se ouviu dizer nos redutos nordestinos de ambos. Sabidamente crucial, o peso desse fator para o desfecho do pleito pode ser avaliado pelas respostas à questão que não sai da cabeça dos políticos ? a aptidão do presidente para emplacar o nome que pinçou e cultivou para suceder-lhe. Pois nada menos de 42% dos entrevistados do Datafolha disseram que votarão em quem Lula apoiar. (Em dezembro, eram 38%.) E ainda só 59% dos eleitores (52% em dezembro) sabem quem ele apoia. O entrelaçamento dessas duas ordens de dados indica sem sombra de dúvida que, enquanto se mantiverem as condições que têm favorecido a decolagem de Dilma, o céu à sua frente será de brigadeiro. Não só mais lulistas a descobrirão, como também mais não-lulistas passarão a prestar atenção na sua figura.
Indício disso são os avanços da ministra no Sudeste e no Sul, diminuindo a folga de Serra da ordem de 20 pontos em ambos os casos para 14. (No Nordeste, a diferença pró-Dilma aumentou de 3 pontos para 14 também.) Dizem os tucanos que, a partir de abril, quando Serra e Dilma tiverem descido dos seus cargos, ela deixará de ser a candidata única e terá de se haver com o desafio de provar que, jamais tendo participado de uma eleição nem tendo governado um município sequer, poderá ser uma presidente melhor do que o experimentado Serra. "Presidente melhor" querendo dizer mais qualificado para manter, aperfeiçoada, a obra lulista. Mas o efeito dessa tática poderá ser neutralizado quando Lula disser ao eleitorado que ninguém melhor do que ele sabe do que Dilma é capaz, tanto que a escolheu. O que conduz à camisa de força em que a oposição se meteu.
Além da desarticulação e dos problemas internos do PSDB, aos quais se somam as atribulações do DEM, é evidente, pelo menos até agora, que Serra só tem a oferecer ao eleitor a credencial da sua competência. Não é pouco, decerto. Afinal, Serra terá de começar a divulgar as suas ideias a respeito do futuro do País, consolidadas num programa de governo, ao passo que Dilma não tem de se dar a esse trabalho. Para ela, basta dizer que continuará fazendo tudo o que o governo Lula faz. Não bastasse, Serra precisa resolver os dilemas que tolhem sua candidatura e que o impedem de arregaçar as mangas e entrar de cabeça na campanha eleitoral. Pois o fato é que, para grande parte dos eleitores, até agora Dilma está sem adversários na corrida eleitoral.
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