Por Mauro Santayana
Noticiam os jornais uma romaria de políticos a Minas, com o objetivo de “convencer” o seu governador a aceitar a candidatura a vice-presidente na chapa encabeçada pelo governador de São Paulo. Se não bastassem as afirmações anteriores, anteontem, ao abrir as solenidades de homenagem a Tancredo Neves, Aécio não poderia ter sido mais claro: sendo “mestiço”, não pode aceitar compor uma chapa “puro-sangue”. Quando Aécio se identifica como “mestiço” – e em seu sangue, como de quase todos os mineiros velhos, há genes de bugres e puris – a metáfora é mais política do que biológica. Aécio deve ter pensado na Federação, que foi desouvida no processo. Por isso mesmo, ainda que sempre defendesse a ideia de uma coligação interpartidária, sugeriu o nome do senador Tasso Jereissati, do Ceará, para compor a chapa presidencial ao lado de José Serra.
Com todo o respeito pelo governador José Serra, que deve lastrear-se em respeitáveis razões para ter adiado seu anúncio como candidato, é curioso, para dizer pouco, que os tucanos de São Paulo pretendam responsabilizar o outro lado da Mantiqueira pela eventual derrota do PSDB em outubro. Aécio foi claro, desde o início. Pretendia disputar a Presidência. Como cidadão, cumpria os requisitos exigidos pela legislação eleitoral. Como homem público e governador de um estado federado (no caso, Minas, mas poderia ser o Piauí ou Pernambuco), tem credenciais obtidas pelo seu desempenho no Executivo, e em 16 anos de mandato parlamentar, dois dos quais na presidência da Câmara dos Deputados.
Membro de um partido, e defensor da descentralização nacional de decisões, propôs o óbvio: que as bases nacionais do PSDB fossem consultadas. Por mais difícil fosse a deliberação formal, havia meios de aferir a opinião dos líderes estaduais, de forma transparente. Aécio propôs que – tal como fizeram Lincoln e o Juiz Douglas, inaugurando a tradição dos debates, nas eleições para o Senado, pelo estado de Illinois, em 1858 – os dois pré-candidatos expusessem às bases suas ideias e programas.
A direção do partido, provavelmente sob o conselho de seu autoproclamado líder Fernando Henrique, não aceitou a sugestão. O ex-presidente acreditava ser possível “convencer” Aécio a ouvir e obedecer aos mais velhos, ele e Serra, e aceitar a segunda posição na chapa. Os que pensavam possível obter a obediência de Aécio desdenharam a personalidade do mineiro. Ele, desde que subiu a escada de ferro belga, que leva ao gabinete de governo do segundo andar do Palácio da Liberdade, estava consciente de que assumia o governo de Minas, com toda a sua importância real e simbólica. Deixava de ser ele mesmo, para se tornar o delegado de um povo a quem o destino histórico impusera marcas severas e criara sólida tradição cívica.
Quando ficou claro que tentavam vencê-lo pelo cansaço, depois de muita paciência de sua parte, Aécio disse que se afastava da pré-disputa. Iria cumprir sua responsabilidade para com o povo mineiro, empenhando-se em resolver os problemas do estado e se dispondo a representá-lo no Senado da República. Mesmo assim, desprezaram seu aviso. Comentaristas políticos interessados chegaram a dizer que o governador José Serra ia muito bem, obrigado, e que na hora certa colocaria o colar da Vice-Presidência no pescoço de Aécio.
O governador de Minas nada tem pessoalmente contra Serra e, sendo o paulista candidato de seu partido, irá realmente trabalhar pelo êxito eleitoral. Não acreditar na sinceridade dessas intenções de Aécio é repetir o erro cometido de não terem acreditado quando disse que ia cuidar das coisas de Minas e renunciar à pré-candidatura à Presidência da República.
Há quem admita que, hoje ou amanhã, nos encontros que os dois terão, durante as homenagens a Tancredo, José Serra venha a renunciar à candidatura presidencial, deixando o lugar a Aécio. O governador José Serra tem as próprias razões para acreditar na vitória em outubro. Dessa forma, a desistência, mais do que impossível, parece improvável. Ainda assim, na remota possibilidade de que ela venha a ser proposta, Aécio poderá, se quiser, dizer-lhe que não há mais tempo.
Noticiam os jornais uma romaria de políticos a Minas, com o objetivo de “convencer” o seu governador a aceitar a candidatura a vice-presidente na chapa encabeçada pelo governador de São Paulo. Se não bastassem as afirmações anteriores, anteontem, ao abrir as solenidades de homenagem a Tancredo Neves, Aécio não poderia ter sido mais claro: sendo “mestiço”, não pode aceitar compor uma chapa “puro-sangue”. Quando Aécio se identifica como “mestiço” – e em seu sangue, como de quase todos os mineiros velhos, há genes de bugres e puris – a metáfora é mais política do que biológica. Aécio deve ter pensado na Federação, que foi desouvida no processo. Por isso mesmo, ainda que sempre defendesse a ideia de uma coligação interpartidária, sugeriu o nome do senador Tasso Jereissati, do Ceará, para compor a chapa presidencial ao lado de José Serra.
Com todo o respeito pelo governador José Serra, que deve lastrear-se em respeitáveis razões para ter adiado seu anúncio como candidato, é curioso, para dizer pouco, que os tucanos de São Paulo pretendam responsabilizar o outro lado da Mantiqueira pela eventual derrota do PSDB em outubro. Aécio foi claro, desde o início. Pretendia disputar a Presidência. Como cidadão, cumpria os requisitos exigidos pela legislação eleitoral. Como homem público e governador de um estado federado (no caso, Minas, mas poderia ser o Piauí ou Pernambuco), tem credenciais obtidas pelo seu desempenho no Executivo, e em 16 anos de mandato parlamentar, dois dos quais na presidência da Câmara dos Deputados.
Membro de um partido, e defensor da descentralização nacional de decisões, propôs o óbvio: que as bases nacionais do PSDB fossem consultadas. Por mais difícil fosse a deliberação formal, havia meios de aferir a opinião dos líderes estaduais, de forma transparente. Aécio propôs que – tal como fizeram Lincoln e o Juiz Douglas, inaugurando a tradição dos debates, nas eleições para o Senado, pelo estado de Illinois, em 1858 – os dois pré-candidatos expusessem às bases suas ideias e programas.
A direção do partido, provavelmente sob o conselho de seu autoproclamado líder Fernando Henrique, não aceitou a sugestão. O ex-presidente acreditava ser possível “convencer” Aécio a ouvir e obedecer aos mais velhos, ele e Serra, e aceitar a segunda posição na chapa. Os que pensavam possível obter a obediência de Aécio desdenharam a personalidade do mineiro. Ele, desde que subiu a escada de ferro belga, que leva ao gabinete de governo do segundo andar do Palácio da Liberdade, estava consciente de que assumia o governo de Minas, com toda a sua importância real e simbólica. Deixava de ser ele mesmo, para se tornar o delegado de um povo a quem o destino histórico impusera marcas severas e criara sólida tradição cívica.
Quando ficou claro que tentavam vencê-lo pelo cansaço, depois de muita paciência de sua parte, Aécio disse que se afastava da pré-disputa. Iria cumprir sua responsabilidade para com o povo mineiro, empenhando-se em resolver os problemas do estado e se dispondo a representá-lo no Senado da República. Mesmo assim, desprezaram seu aviso. Comentaristas políticos interessados chegaram a dizer que o governador José Serra ia muito bem, obrigado, e que na hora certa colocaria o colar da Vice-Presidência no pescoço de Aécio.
O governador de Minas nada tem pessoalmente contra Serra e, sendo o paulista candidato de seu partido, irá realmente trabalhar pelo êxito eleitoral. Não acreditar na sinceridade dessas intenções de Aécio é repetir o erro cometido de não terem acreditado quando disse que ia cuidar das coisas de Minas e renunciar à pré-candidatura à Presidência da República.
Há quem admita que, hoje ou amanhã, nos encontros que os dois terão, durante as homenagens a Tancredo, José Serra venha a renunciar à candidatura presidencial, deixando o lugar a Aécio. O governador José Serra tem as próprias razões para acreditar na vitória em outubro. Dessa forma, a desistência, mais do que impossível, parece improvável. Ainda assim, na remota possibilidade de que ela venha a ser proposta, Aécio poderá, se quiser, dizer-lhe que não há mais tempo.
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