quarta-feira, 3 de março de 2010

Serra joga parado, mas quer preferência

Elio Gaspari
O PSDB quer o pós-Lula, mas como não o explica, pode estar criando o pré-Dilma
JOSÉ SERRA e o PSDB precisam se lembrar das palavras do técnico de futebol Gentil Cardoso: "Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". O governador de São Paulo e o tucanato não se deslocam e não pedem, mas querem a preferência da patuleia. O resultado está aí: seis meses antes do início do horário gratuito de televisão, Dilma Rousseff, o poste de Lula, encostou no grão-tucano.
O PSDB está preso numa armadilha que construiu com nervos de aço e cérebros de Bombril. Tem um candidato que não diz que é candidato, mas também não se animou a disputar prévias contra Aécio Neves que, por sua vez, também não insistiu muito no assunto.
Habitualmente, os candidatos negam suas pretensões para esconder o jogo. Esse não parece ser o caso de Serra. É provável que ele esteja em dúvida e o precedente histórico leva água para essa hipótese. Em 2006, ficou a impressão de que ele se afastou da disputa porque a candidatura de Geraldo Alckmin dividia o partido, mas o principal motivo de seu recuo foi o medo de trocar uma provável eleição para o governo de São Paulo por uma segunda derrota na disputa pelo Planalto.
Em dezembro de 2008, Serra tinha entre 41% e 47% das preferências no Datafolha e Dilma, no máximo, 11%. Contrariando as melhores expectativas do tucanato, a candidata de Nosso Guia chegou a 28% e Serra caiu para 32%. A ascensão do poste deve-se exclusivamente ao patrocínio de Lula e ao julgamento favorável que a opinião pública faz de seu governo. Quem acha que essa afirmação é exagerada pode enumerar três ideias próprias da candidata. Conseguindo, ganha uma viagem a Cuba. Durante a campanha, seus adversários enumerarão as leviandades e malfeitorias encontradas nos projetos do trem-bala (antes de ser entregue ao BNDES) e da banda larga para a internet, mas essa discussão mal começou.
A pergunta de R$ 1 milhão continua no ar: admitindo-se que Serra queira ser presidente, o que é que ele pretende fazer? Ou ainda, o que é que o tucanato tem a oferecer? Alguém lembra o que Alckmin propunha? Detestar Nosso Guia ou ter horror ao PT e aos seus mensaleiros pode ser um desabafo, mas não é uma solução. Se o PSDB acha que pode disputar uma eleição presidencial denunciando o contubérnio nuclear de Lula com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, problema dele. Como ensinava Ulysses Guimarães: "O Itamaraty só dá (ou tira) voto no Burundi".
A voz mais articulada e insistente do oposicionismo tucano é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua corte reúne sábios de agenda vencida, como os marqueses do Império que se reuniam em Paris para falar mal do marechal Floriano Peixoto.
Sete anos depois de ter saído do Planalto, falta ao PSDB uma crítica propositiva do mandarinato petista. Agenda negativa, o tucanato teve, mas enferrujou. O mensalão rendeu, até o momento em que arranhou as contas da campanha do senador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido. Passaram-se cinco anos e o encosto reapareceu na administração de seu aliado José Roberto Arruda. Aécio Neves chegou a criar a expressão "pós-Lula", mas ninguém sabe o que isso significa em termos de salários, saúde, segurança e educação. Desse jeito, quando o PSDB acordar, descobrirá que criou o pré-Dilma.


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