"A direita virou agora defensora da Chesf"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que houve falhas na elaboração do projeto de reestruturação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e disse ter cobrado do ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, uma resolução para o assunto "porque é pouca coisa para a gente ficar brigando por isso". Ele acusou a "direita" do Nordeste de se apoderar do debate que envolve a suposta perda de autonomia da Chesf em favor da Eletrobras valendo-se de "erros cometidos pelos companheiros que elaboraram a portaria de regulamentação de participação das empresas". Mas Lula foi firme ao defender o fortalecimento da Eletrobras e as mudanças na estatal. As primeiras declarações públicas do presidente sobre a Chesf foram feitas em entrevista exclusiva ao Diários Associados, concedida ontem pela manhã na biblioteca do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Na conversa, que durou cerca de 1h15, Lula disse ainda ter ficado "surpreso" com a indicação do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, como candidato do PT ao Senado em Pernambuco e "mais ainda" com o relato de que houve um acordo entre Humberto e o ex-prefeito do Recife, João Paulo. Ele comentou a importância do Nordeste para a campanha da sua candidata à sucessão presidencial, a ex-ministra Dilma Rousseff (PT), e se estendeu numa análise sobre a composição partidária em Minas Gerais, Brasília e São Paulo. Falou sobre a situação de Ciro Gomes (PSB) como pré-candidato e garantiu estar convencido de que a eleição de outubro deveria ser plebiscitária.
O presidente afirmou ainda que mudou de ideia e que passou a defender a manutenção da reeleição. O comentário se deu um dia após o candidato do PSDB à presidência, o ex-governador de São Paulo José Serra, defender a ampliação do mandato para cinco anos e o fim da reeleição. Lula revelou ter sido procurado por intermediários do PSDB para avaliar um acordo em torno de um mandato maior sem reeleição e que esse encontro teria motivado a troca de opinião.
Veja abaixo trechos da entrevista:O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que houve falhas na elaboração do projeto de reestruturação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e disse ter cobrado do ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, uma resolução para o assunto "porque é pouca coisa para a gente ficar brigando por isso". Ele acusou a "direita" do Nordeste de se apoderar do debate que envolve a suposta perda de autonomia da Chesf em favor da Eletrobras valendo-se de "erros cometidos pelos companheiros que elaboraram a portaria de regulamentação de participação das empresas". Mas Lula foi firme ao defender o fortalecimento da Eletrobras e as mudanças na estatal. As primeiras declarações públicas do presidente sobre a Chesf foram feitas em entrevista exclusiva ao Diários Associados, concedida ontem pela manhã na biblioteca do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Na conversa, que durou cerca de 1h15, Lula disse ainda ter ficado "surpreso" com a indicação do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, como candidato do PT ao Senado em Pernambuco e "mais ainda" com o relato de que houve um acordo entre Humberto e o ex-prefeito do Recife, João Paulo. Ele comentou a importância do Nordeste para a campanha da sua candidata à sucessão presidencial, a ex-ministra Dilma Rousseff (PT), e se estendeu numa análise sobre a composição partidária em Minas Gerais, Brasília e São Paulo. Falou sobre a situação de Ciro Gomes (PSB) como pré-candidato e garantiu estar convencido de que a eleição de outubro deveria ser plebiscitária.
O presidente afirmou ainda que mudou de ideia e que passou a defender a manutenção da reeleição. O comentário se deu um dia após o candidato do PSDB à presidência, o ex-governador de São Paulo José Serra, defender a ampliação do mandato para cinco anos e o fim da reeleição. Lula revelou ter sido procurado por intermediários do PSDB para avaliar um acordo em torno de um mandato maior sem reeleição e que esse encontro teria motivado a troca de opinião.
Tivemos em Brasília uma eleição indireta em que o candidato indicado pelo PMDB ganhou. O senhor acha que ainda cabe a intervenção?
Essa é uma coisa que depende única e exclusivamente do Poder Judiciário. Não cabe a um presidente da República dizer se cabe ou não uma intervenção. O Poder Judiciário, em função das informações que tem, deve tomar a decisão. Se for manter como está, o governador que ganhou por 13 votos, tem mais é que tocar. Espero que, enquanto a Justiça não decide, o novo governador comece a trabalhar urgentemente para que Brasília volte à normalidade.
E com relação ao cenário em Minas, já chegou ao limite?
A política seria muito fácil se as pessoas percebessem que é como o leito de um rio: a água desce normalmente se ninguém resolver fazer um barragem. As coisas em Minas Gerais tinham tudo para acontecer normalmente, sem nenhum trauma, sentar PT e PMDB e tentar conversar. Tínhamos e temos chance de ganhar na medida em que o Aécio (Neves, ex-governador de Minas) não é candidato e ninguém pode conseguir transferir 100% dos votos. Tudo isso estava na minha conta. De repente, o PT resolve fazer uma guerra interna sem nenhuma necessidade. Essas guerras internas não resolvem o problema com facilidade. As pessoas pensam que podem fazer as guerras que quiserem, travarem os insultos, as provocações que quiserem e, depois, bota um papel em cima, acabou e volta à normalidade. No PT não volta à normalidade. Conheço esse partido. Não volta. Tem gente magoada para todos os lados. Acho que nossos companheiros, Patrus e Pimentel, vão ter que fazer um esforço incomensurável para fazer uma chapa lá. Sinceramente, não acho que a prévia resolva. Fazer uma prévia você pode ter um resultado aritmético, mas é preciso saber se há uma compatibilização do resultado aritmético com o resultado político.
Mas como faz? No momento em que escolhe um candidato a governador como é que tira?
Se o PT precipitar suas decisões, vai ficando cada vez mais num beco sem saída. Acho que é importante usar a maturidade, o conhecimento político, para se sentarem em torno de uma mesa e ver o que é possível fazer enquanto há tempo de fazer. Tem que conversar. A prévia é muito importante, mas não pode ser utilizada para resolver problemas que os dirigentes criaram e não conseguem resolver. Se eu criei uma confusão, em vez de resolver, eu falo, vamos para uma prévia? Na história do PT já tivemos quase que guerras fraticidas nessas prévias. Quando elas são feitas é para resolver problemas que os dirigentes deveriam ter resolvido. Como política não é matemática exata, é importante que tomem cuidado. Minas é um estado importante, interessa muito para o PT, para o PMDB e para o PSDB. É o segundo estado da federação e muito sofisticado, porque você tem a Minas carioca, a Minas Bahia, a Minas Brasília, a Minas São Paulo, a Minas Minas. É um estado extraordinariamente diversificado. É preciso trabalhar isso com carinho. Acho que a gente resolve muito mais isso em torno de uma mesa do que de uma prévia.
O senhor ficou satisfeito com a chapa dePernambuco? Essa mágoa de João Paulo, que não é candidato ao Senado, não pode ser um risco?
Pra mim, foi surpresa que o companheiro João Paulo não tenha sido escolhido senador. Mas, mais surpreso ainda fiquei com o relato do presidente do partido, de que foi um acordo entre João Paulo e Humberto Costa. Sinceramente, fiquei surpreso.
Mas gostou do resultado?
Não se trata de eu ficar ou não satisfeito, mas se trata do seguinte: o acordo foi feito porque as pessoas entendiam que era melhor para o PT de Pernambuco? Se for assim, ótimo.
E por falar em mágoas, e Ciro Gomes?
Na última conversa que tive com o presidente do PSB nos colocamos de acordo que deveríamos esperar passar o mês de março para que a gente voltasse a conversar. Estamos em abril. Sei que ele já teve a conversa com Ciro Gomes. Pretendo conversar com Ciro na medida em que a direção do PSB entenda que já é momento de conversar. Achei interessante quando transferiu o título para São Paulo porque era uma probabilidade. Ou seja, no primeiro momento houve uma certa reação do PT, depois todos os quadros mais importantes do PT passaram a admitir que era importante o Ciro ser candidato a governador de São Paulo, depois do PSB lançou o Paulo Skaf. O problema não era dentro do PT. Acho normal que o companheiro Ciro tenha interesse em ser candidato a presidente da República e disse para o Ciro que jamais pediria para uma pessoa ou partido não ter candidato a presidente da República se não tiver um argumento sólido para convencer as pessoas. Ser candidato significa a possibilidade de fortalecer os partidos, mas também significa a possibilidade de você perder uma eleição. Estou convencido de que essa deveria ser uma eleição plebiscitária. Fazer o confronto de ideias, programas, realizações. A melhor coisa do mundo, uma bela eleição do confronto de ideias, plebiscitária. Afinal de contas são dois projetos que estão disputando. Com base nisso, falei com o PSB que deveríamos esperar um pouco mais à frente para ver se seria plebiscitária ou não. A tendência que está acontecendo até agora é a de que caminhamos para uma eleição plebiscitária.
O senhor acha que houve falhas na condução desse processo?
Não acho que houve falhas. Há visões políticas explicitadas publicamente. Às vezes, você vai enxergar o erro depois que passou as eleições. Tomamos decisões em função do momento político. O momento político agora me diz que as eleições serão plebiscitárias, que dificilmente haverá espaço para uma terceira candidatura. Agora, tem gente que não acredita. A Marina Silva é candidata porque acredita que pode ganhar. O Ciro Gomes pode querer ser candidato e o PSB entender que deva ser. Agora, para ser candidato é preciso saber qual a composição que você vai fazer, qual o tempo de TV, com quem estará aliado regionalmente. Na hora que o time entra em campo, você precisa ter jogador. Eleição é difícil. No Brasil, é complicado. Na hora que o jogo começa de verdade é preciso que os times estejam em campo, que você tenha tempo de TV, seguidores, uma boa bancada. Vou dar um exemplo: Ganhamos para prefeito em São Bernardo em 1988 com doutor Maurício. De lá para cá, nunca mais ganhamos. Só na última com Marinho. Ele quebrou um negócio que se fazia contra o PT. Toda eleição, em São Bernardo, se juntavam 19 partidos contra o PT. Eram 1.700 vereadores contra 21 do PT. O Marinho habilmente fez acordo com 11 partidos.
O PT também não ganha o governo de São Paulo...
O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% dos votos em São Paulo. Precisamos arrumar os outros 20%. Eu disse a Mercadante, é preciso que você arrume o teu José Alencar. Porque o José Alencar para mim teve uma importância que não é a da quantidade de votos que ele trouxe só. É a da quantidade de preconceito que ele quebrou porque ficava explícito que tem mais de 15 mil trabalhadores na sua fábrica, a maior empresa têxtil do país, estava sendo meu vice e um cidadão que tinha dois empregados e se achava o maior empregador do mundo tinha medo do Lula. O discurso do José Alencar quebrou barragem maior do que a de Itaipu. O PTde São Paulo precisa arrumar esse José Alencar. Temos que arrumar um vice que não seja mais à esquerda que o PT, uma pessoa que fale para um segmento da sociedade.
No conceito de vice, Michel Temer não teria esse perfil para a chapa de Dilma?
Deixa eu lhe contar uma coisa: a Dilma tem cartão de crédito de oito anos de administração bem-sucedida no Brasil, da qual ela foi uma gerente excepcional. Vocês quando conversarem com a Dilma, terão a mesma surpresa que eu tive. A Dilma virou minha ministra de Minas e Energia numa reunião. O José Dirceu já tinha inclusive feito acordo com o PMDB e eu disse a ele: acabo de encontrar a minha ministra para o Ministério de Minas e Energia. Pela objetividade com que ela se comportou na reunião e pela seriedade de tratar os assuntos. Sabe, a Dilma vai ter esse cacife. O vice não dá voto, não é que o vice venha dar voto, agora o Temer acho que dará a segurança de um homem que se dedica a vida pública já há muito tempo e tem uma seriedade comprovada dentro do Congresso Nacional. Hoje está mais fortalecido dentro do PMDB e nós trabalhando olhando também o pós-eleição. Ou seja, é melhor você construir as regras do jogo antes do que você deixá-la para construir depois. Então, acho que o Temer, se for ele o indicado pelo PMDB, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade no país. Que é sempre uma coisa de muita tensão.
O senhor disse que se ressentia de não ter feito a reforma política. Serra disse que, se eleito, quer propor cinco anos de mandato sem reeleição. Como o senhor avalia isso?
Em política não vale você ficar falando para inglês ver. Sabe, a história dos cinco anos eles já tiveram. É importante ter em conta que eles reduziram o mandato de cinco para quatro anos pensando que eu ia ganhar as eleições, em 1994. Aí eles ganharam, e, em 96, aprovaram a reeleição. Aí, para tentarem convencer o Aécio a ser o vice, vieram até me propor que, se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos, sabe, seria o máximo, a gente aprovaria. Eu falei para meu companheiro interlocutor, falei "olha eu era contra a reeleição, agora eu quero que tenha a reeleição", mesmo se você ganhar porque em quatro anos você não consegue fazer nenhuma obra estruturante nesse país, nenhuma. Entre você pensar uma grande obra, fazer projeto básico, executivo, tirar licença ambiental, enfrentar o Poder Judiciário, enfrentar o Tribunal de Contas da União, e vencer todos esses obstáculos, termina o teu mandato e você não começa a obra. Sabe, então eu falei "não quero mais o fim da reeleição". Eu quero que tenha quatro anos#
Quando houve esta conversa?
Faz algum tempo, já.
Com quem foi?
Não, porque era a tese do ex-presidente para convencer o Aécio a ser vice. Então, em política não vale ingenuidade. Ou seja, ninguém vai acreditar que o mesmo partido que criou a reeleição, venha agora querer acabar com a reeleição. É promessa para quem? Ninguém está pedindo isso. Só o Aécio está pedindo.
O senhor já está trabalhando com a hipótese de o Aécio ser o vice?
Essa é uma coisa que depende única e exclusivamente do Poder Judiciário. Não cabe a um presidente da República dizer se cabe ou não uma intervenção. O Poder Judiciário, em função das informações que tem, deve tomar a decisão. Se for manter como está, o governador que ganhou por 13 votos, tem mais é que tocar. Espero que, enquanto a Justiça não decide, o novo governador comece a trabalhar urgentemente para que Brasília volte à normalidade.
E com relação ao cenário em Minas, já chegou ao limite?
A política seria muito fácil se as pessoas percebessem que é como o leito de um rio: a água desce normalmente se ninguém resolver fazer um barragem. As coisas em Minas Gerais tinham tudo para acontecer normalmente, sem nenhum trauma, sentar PT e PMDB e tentar conversar. Tínhamos e temos chance de ganhar na medida em que o Aécio (Neves, ex-governador de Minas) não é candidato e ninguém pode conseguir transferir 100% dos votos. Tudo isso estava na minha conta. De repente, o PT resolve fazer uma guerra interna sem nenhuma necessidade. Essas guerras internas não resolvem o problema com facilidade. As pessoas pensam que podem fazer as guerras que quiserem, travarem os insultos, as provocações que quiserem e, depois, bota um papel em cima, acabou e volta à normalidade. No PT não volta à normalidade. Conheço esse partido. Não volta. Tem gente magoada para todos os lados. Acho que nossos companheiros, Patrus e Pimentel, vão ter que fazer um esforço incomensurável para fazer uma chapa lá. Sinceramente, não acho que a prévia resolva. Fazer uma prévia você pode ter um resultado aritmético, mas é preciso saber se há uma compatibilização do resultado aritmético com o resultado político.
Mas como faz? No momento em que escolhe um candidato a governador como é que tira?
Se o PT precipitar suas decisões, vai ficando cada vez mais num beco sem saída. Acho que é importante usar a maturidade, o conhecimento político, para se sentarem em torno de uma mesa e ver o que é possível fazer enquanto há tempo de fazer. Tem que conversar. A prévia é muito importante, mas não pode ser utilizada para resolver problemas que os dirigentes criaram e não conseguem resolver. Se eu criei uma confusão, em vez de resolver, eu falo, vamos para uma prévia? Na história do PT já tivemos quase que guerras fraticidas nessas prévias. Quando elas são feitas é para resolver problemas que os dirigentes deveriam ter resolvido. Como política não é matemática exata, é importante que tomem cuidado. Minas é um estado importante, interessa muito para o PT, para o PMDB e para o PSDB. É o segundo estado da federação e muito sofisticado, porque você tem a Minas carioca, a Minas Bahia, a Minas Brasília, a Minas São Paulo, a Minas Minas. É um estado extraordinariamente diversificado. É preciso trabalhar isso com carinho. Acho que a gente resolve muito mais isso em torno de uma mesa do que de uma prévia.
O senhor ficou satisfeito com a chapa dePernambuco? Essa mágoa de João Paulo, que não é candidato ao Senado, não pode ser um risco?
Pra mim, foi surpresa que o companheiro João Paulo não tenha sido escolhido senador. Mas, mais surpreso ainda fiquei com o relato do presidente do partido, de que foi um acordo entre João Paulo e Humberto Costa. Sinceramente, fiquei surpreso.
Mas gostou do resultado?
Não se trata de eu ficar ou não satisfeito, mas se trata do seguinte: o acordo foi feito porque as pessoas entendiam que era melhor para o PT de Pernambuco? Se for assim, ótimo.
E por falar em mágoas, e Ciro Gomes?
Na última conversa que tive com o presidente do PSB nos colocamos de acordo que deveríamos esperar passar o mês de março para que a gente voltasse a conversar. Estamos em abril. Sei que ele já teve a conversa com Ciro Gomes. Pretendo conversar com Ciro na medida em que a direção do PSB entenda que já é momento de conversar. Achei interessante quando transferiu o título para São Paulo porque era uma probabilidade. Ou seja, no primeiro momento houve uma certa reação do PT, depois todos os quadros mais importantes do PT passaram a admitir que era importante o Ciro ser candidato a governador de São Paulo, depois do PSB lançou o Paulo Skaf. O problema não era dentro do PT. Acho normal que o companheiro Ciro tenha interesse em ser candidato a presidente da República e disse para o Ciro que jamais pediria para uma pessoa ou partido não ter candidato a presidente da República se não tiver um argumento sólido para convencer as pessoas. Ser candidato significa a possibilidade de fortalecer os partidos, mas também significa a possibilidade de você perder uma eleição. Estou convencido de que essa deveria ser uma eleição plebiscitária. Fazer o confronto de ideias, programas, realizações. A melhor coisa do mundo, uma bela eleição do confronto de ideias, plebiscitária. Afinal de contas são dois projetos que estão disputando. Com base nisso, falei com o PSB que deveríamos esperar um pouco mais à frente para ver se seria plebiscitária ou não. A tendência que está acontecendo até agora é a de que caminhamos para uma eleição plebiscitária.
O senhor acha que houve falhas na condução desse processo?
Não acho que houve falhas. Há visões políticas explicitadas publicamente. Às vezes, você vai enxergar o erro depois que passou as eleições. Tomamos decisões em função do momento político. O momento político agora me diz que as eleições serão plebiscitárias, que dificilmente haverá espaço para uma terceira candidatura. Agora, tem gente que não acredita. A Marina Silva é candidata porque acredita que pode ganhar. O Ciro Gomes pode querer ser candidato e o PSB entender que deva ser. Agora, para ser candidato é preciso saber qual a composição que você vai fazer, qual o tempo de TV, com quem estará aliado regionalmente. Na hora que o time entra em campo, você precisa ter jogador. Eleição é difícil. No Brasil, é complicado. Na hora que o jogo começa de verdade é preciso que os times estejam em campo, que você tenha tempo de TV, seguidores, uma boa bancada. Vou dar um exemplo: Ganhamos para prefeito em São Bernardo em 1988 com doutor Maurício. De lá para cá, nunca mais ganhamos. Só na última com Marinho. Ele quebrou um negócio que se fazia contra o PT. Toda eleição, em São Bernardo, se juntavam 19 partidos contra o PT. Eram 1.700 vereadores contra 21 do PT. O Marinho habilmente fez acordo com 11 partidos.
O PT também não ganha o governo de São Paulo...
O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% dos votos em São Paulo. Precisamos arrumar os outros 20%. Eu disse a Mercadante, é preciso que você arrume o teu José Alencar. Porque o José Alencar para mim teve uma importância que não é a da quantidade de votos que ele trouxe só. É a da quantidade de preconceito que ele quebrou porque ficava explícito que tem mais de 15 mil trabalhadores na sua fábrica, a maior empresa têxtil do país, estava sendo meu vice e um cidadão que tinha dois empregados e se achava o maior empregador do mundo tinha medo do Lula. O discurso do José Alencar quebrou barragem maior do que a de Itaipu. O PTde São Paulo precisa arrumar esse José Alencar. Temos que arrumar um vice que não seja mais à esquerda que o PT, uma pessoa que fale para um segmento da sociedade.
No conceito de vice, Michel Temer não teria esse perfil para a chapa de Dilma?
Deixa eu lhe contar uma coisa: a Dilma tem cartão de crédito de oito anos de administração bem-sucedida no Brasil, da qual ela foi uma gerente excepcional. Vocês quando conversarem com a Dilma, terão a mesma surpresa que eu tive. A Dilma virou minha ministra de Minas e Energia numa reunião. O José Dirceu já tinha inclusive feito acordo com o PMDB e eu disse a ele: acabo de encontrar a minha ministra para o Ministério de Minas e Energia. Pela objetividade com que ela se comportou na reunião e pela seriedade de tratar os assuntos. Sabe, a Dilma vai ter esse cacife. O vice não dá voto, não é que o vice venha dar voto, agora o Temer acho que dará a segurança de um homem que se dedica a vida pública já há muito tempo e tem uma seriedade comprovada dentro do Congresso Nacional. Hoje está mais fortalecido dentro do PMDB e nós trabalhando olhando também o pós-eleição. Ou seja, é melhor você construir as regras do jogo antes do que você deixá-la para construir depois. Então, acho que o Temer, se for ele o indicado pelo PMDB, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade no país. Que é sempre uma coisa de muita tensão.
O senhor disse que se ressentia de não ter feito a reforma política. Serra disse que, se eleito, quer propor cinco anos de mandato sem reeleição. Como o senhor avalia isso?
Em política não vale você ficar falando para inglês ver. Sabe, a história dos cinco anos eles já tiveram. É importante ter em conta que eles reduziram o mandato de cinco para quatro anos pensando que eu ia ganhar as eleições, em 1994. Aí eles ganharam, e, em 96, aprovaram a reeleição. Aí, para tentarem convencer o Aécio a ser o vice, vieram até me propor que, se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos, sabe, seria o máximo, a gente aprovaria. Eu falei para meu companheiro interlocutor, falei "olha eu era contra a reeleição, agora eu quero que tenha a reeleição", mesmo se você ganhar porque em quatro anos você não consegue fazer nenhuma obra estruturante nesse país, nenhuma. Entre você pensar uma grande obra, fazer projeto básico, executivo, tirar licença ambiental, enfrentar o Poder Judiciário, enfrentar o Tribunal de Contas da União, e vencer todos esses obstáculos, termina o teu mandato e você não começa a obra. Sabe, então eu falei "não quero mais o fim da reeleição". Eu quero que tenha quatro anos#
Quando houve esta conversa?
Faz algum tempo, já.
Com quem foi?
Não, porque era a tese do ex-presidente para convencer o Aécio a ser vice. Então, em política não vale ingenuidade. Ou seja, ninguém vai acreditar que o mesmo partido que criou a reeleição, venha agora querer acabar com a reeleição. É promessa para quem? Ninguém está pedindo isso. Só o Aécio está pedindo.
O senhor já está trabalhando com a hipótese de o Aécio ser o vice?
Não, sinceramente, acho que o Aécio está qualificado politicamente para ser o que ele quiser ser. Agora, se ele for vice ele vai se desgastar muito porque é só pegar o que o Estado de Minas escreveu das divergências de Aécio com Serra, é só pegar os discursos todos feitos quando o Virgílio Guimarães era candidato a presidente da Câmara para a gente perceber que o Aécio vai colocar muita dúvida na cabeça do povo mineiro.
O senhor tem segurança grande com relação ao partido. Dilma não veio da base do PT. Será que a ministra tem condições de ter um poder sobre o partido? Não será monitorada por ele?
Não, não existe nenhuma hipótese, gente. Primeiro porque, uma coisa é a relação de respeito que você tem de ter com o partido. Não é uma relação de medo, é de respeito. Eu vou poder ajudar muito mais a Dilma dentro do PT não sendo presidente da República do que sendo presidente da República. Eu fora da presidência, estarei mais nos eventos do PT, estarei participando mais das coisas do PT.
O senhor acha que vai transferir quanto de sua popularidade para Dilma?
É engraçado porque as pessoas que acham que eu não vou transferir voto para a Dilma acham que o Aécio vai transferir para o Serra. É engraçadíssimo porque as pessoas olham o seu umbigo e dizem "o meu é o mais bonito de que todos".
Mas seria transferência automática?
Não, não é automática. Não existe um automaticismo em política.
E o que lhe dá tanta segurança?
O que me dá uma segurança é que o mesmo povo que me dá o voto de confiança há sete anos vou pedir para dar um voto de confiança para Dilma. Eu vou fazer campanha. Não pensem que vou ficar parado vendo a banda passar. Eu quero estar junto da banda, até porque acho que a campanha da Dilma é parte do meu programa de governo para dar continuidade às coisas que nós precisamos fazer no Brasil.
Mas somente uma parte do eleitorado sabe que sua candidata é Dilma...
Gente, política é uma coisa fantástica. Eu conheço político importante que achava que era muito conhecido. Você sai para andar nas ruas e as pessoas não conhecem. Políticos que estão aí há 20, 25 anos. Às vezes a pessoa é conhecida na rua onde mora, no seu estado. O que é a campanha majoritária e a televisão? É a possibilidade de os candidatos ficarem conhecidos. Você pega o Aécio - o governador mais bem avaliado do Brasil - qual é o conhecimento que as pessoas têm dele no Brasil? Raríssimo. A Dilma tem pouco tempo na política.
Ainda há tempo para torná-la conhecida em alguns lugares do país como os grotões do Nordeste?
Há tempo suficiente. É lá que eu vou chegar. Lá eu não vou nem chegar, lá eles são Lula. Lá eu estou representado, lá eles são eu. Eu quero ir é nos lugares onde estou...
O Nordeste, então, não lhe preocupa?
Lógico que me preocupa porque não existe eleição ganha antes do dia da apuração. Mas o carinho que o povo nordestino e do Norte têm por mim é de relação humana muito forte. Vou pedir o apoio desses companheiros para a minha candidata e vou trabalhar muitoem outros estados. O meu trabalhar é o sinal mais forte que posso dar para a sociedade brasileira que não estou pensando em 2014. Quando o político é canalha, ele não quer eleger o seu sucessor. O velhaco quer voltar. Indica alguém que não pode ser candidato em 2014 e alguém que ele sabe que é fraco. Eu não. Estou indicando o que tenho de melhor. Para ganhar. E , se ganhar, ter o direito de governar mais quatro anos.
O senhor será o âncora dos programas?
Não. Sou presidente da República. Não posso ser âncora. Espero ser âncora de algum programa de televisão depois que eu deixar a presidência.
Essa eleição da Dilma, parece que o senhor tem a mesma garra com a campanha dela do que com a sua reeleição#É uma questão de honra eleger a Dilma?
Em política não se coloca questão de honra. É de pragmatismo político. E você tem razão. Estou muito mais animado com a campanha da Dilma do que com a minha. Eu passei muito tempo relutando contra o segundo mandato. O PAC surgiu justamente por conta da minha preocupaçãocom o segundo mandato. Qual era? Se eu chegar no segundo mandato e ficar como alguns que só iam trabalhar de tarde e repetir a mesmice do primeiro seria uma coisa enfadonha. Pensei o PAC em outubro de 2006. Não utilizei na campanha porque chegamos a conclusão que não era necessário. Lançamos em fevereiro de 2007. Ele é que me deu gás de ver as coisas, de andar pelo Brasil. Meu governo já foi avaliado com a minha reeleição. Ele será bi-avaliado se eleger a Dilma. Daí, a minha responsabilidade com a eleição da Dilma. É que ela será a continuidade do nosso governo, aperfeiçoando, fazendo mais, fazendo coisas novas. Vamos para as cabeças, entusiasmados, sempre sabendo que eleição não se ganha na véspera, se ganha no dia.
O senhor acha que será decidida no primeiro turno?
Não acho nem que sim, nem que não. Vamos trabalhar para ter o máximo. Um estudante só vence na vida se a média que ele tem que ter na escola é cinco, ele tem que trabalhar para ter dez. Se ficar trabalhando só na média pode ter 4,8. Vamos trabalhar, colher o que for preciso. A única coisa que não quero é que tenha terceiro turno. E que quem perca, exerça a democracia acatando o resultado eleitoral. E não tente dar golpe, como tentaram me dar em 2005.
Qual é sua opinião com relação às mudanças na Chesf? No Nordeste, há uma polêmica grande porque a Chesf impulsiona muitos projetos. Muitos acham que a Chesf irá perder autonomia e haverá prejuízo para a região...
Deixa eu lhe contar uma coisa: Eu chamei o ministro de Minas e Energia (Márcio Zimmermann) sexta-feira para saber o que estava acontecendo na Chesf. Ele me contou o que estava acontecendo, que tinha recebido uma carta da direção da Eletrobras e eu disse para o ministro que ele tem de resolver esta semana este assunto porque é pouca coisa para a gente ficar brigando por isso. O que é engraçado é que as pessoas que trabalharam para destruir o sistema elétrico brasileiro, e por isso privatizaram a Celpe - que é a empresa que cobra mais caro a energia no país - agora viraram todos defensores da nossa querida Chesf. É a direita que não tinha discurso que resolve então se apoderar de um dilema e, na minha opinião, de erros cometidos pelos companheiros que elaboraram a portaria de regulamentação de participação das empresas. Qual era a decisão do governo federal: eu quero a Eletrobras forte. Eu quero a Eletrobras - é importante lembrar que, quando eu cheguei ao governo, as empresas públicas não podiam participar de leilões de energia. E eu quero a Eletrobras forte porque nós temos que fazer muita coisa de energia, eu quero uma empresa com capacidade de construir parcerias internacionais, de pegar empréstimo internacional, e não uma empresa falida, apenas uma cartorial. Então, nós já fizemos. Aprovamos no Congresso, a Eletrobras como uma holding forte. Como holding, essa empresa tem de coordenar suas afiliadas, a Chesf, Furnas, a Eletronorte, a Eletrosul. O que não pode é tirar a autonomia das empresas, como as empresas da Petrobras. A BR tem autonomia, mas tem os interesses maiores da Petrobras que são discutidos estrategicamente dentro do Conselho da Petrobras. O que queremos é o mesmo. A mesma coisa. É engraçado que as pessoas que estão no debate lá não falam que nós capitalizamos a Chesf com R$ 3,5 bilhões. Não falam. Não falam que a Chesf está participando de licitações que jamais ela participaria porque não tinha condições financeiras. Então, queremos a Chesf forte, a Eletronorte forte, a Eletrosul forte, queremos Furnas forte e não queremos que nenhuma tenha supremacia sobre a outra. O que queremos é que o controlador de todas seja o governo federal através da Eletrobras.
Então, o molde que foi...
Então, nós estamos vendo. Eu disse para o ministro, que esteve conversando com os deputados e com Eduardo Campos (o governador), para dar uma olhada porque essa coisa é assim: você pega um funcionário não sei de que escalão para fazer uma portaria# sabe, talvez ele tenha colocado coisas exageradamente lá que não precisava ter. Mas isso, da nossa parte, nós vamos resolver porque o que eu quero é que nós tenhamos todas as filiais fortes e a Eletrobras muito mais forte ainda. Até porque nós temos muita importância no mundo. Nós vamos fazer uma hidroelétrica na Nicarágua, em vários países africanos. O Brasil precisa aproveitar o conhecimento de engenharia que tem nessa área e virar um senhor da situação. Não é apenas ficar disputando aqui dentro, não. Agora nessa licitação de Belo Monte eu disse aos empresários: "Se vocês não quiserem participar, nós vamos fazer sozinhos. Nós vamos provar que não vamos ficar reféns de nenhum empresário. Queremos construir parcerias juntas, mas não ficaremos reféns.
Nestes oito anos, o que o senhor pensou: que pena que eu não fiz isso?
O senhor tem segurança grande com relação ao partido. Dilma não veio da base do PT. Será que a ministra tem condições de ter um poder sobre o partido? Não será monitorada por ele?
Não, não existe nenhuma hipótese, gente. Primeiro porque, uma coisa é a relação de respeito que você tem de ter com o partido. Não é uma relação de medo, é de respeito. Eu vou poder ajudar muito mais a Dilma dentro do PT não sendo presidente da República do que sendo presidente da República. Eu fora da presidência, estarei mais nos eventos do PT, estarei participando mais das coisas do PT.
O senhor acha que vai transferir quanto de sua popularidade para Dilma?
É engraçado porque as pessoas que acham que eu não vou transferir voto para a Dilma acham que o Aécio vai transferir para o Serra. É engraçadíssimo porque as pessoas olham o seu umbigo e dizem "o meu é o mais bonito de que todos".
Mas seria transferência automática?
Não, não é automática. Não existe um automaticismo em política.
E o que lhe dá tanta segurança?
O que me dá uma segurança é que o mesmo povo que me dá o voto de confiança há sete anos vou pedir para dar um voto de confiança para Dilma. Eu vou fazer campanha. Não pensem que vou ficar parado vendo a banda passar. Eu quero estar junto da banda, até porque acho que a campanha da Dilma é parte do meu programa de governo para dar continuidade às coisas que nós precisamos fazer no Brasil.
Mas somente uma parte do eleitorado sabe que sua candidata é Dilma...
Gente, política é uma coisa fantástica. Eu conheço político importante que achava que era muito conhecido. Você sai para andar nas ruas e as pessoas não conhecem. Políticos que estão aí há 20, 25 anos. Às vezes a pessoa é conhecida na rua onde mora, no seu estado. O que é a campanha majoritária e a televisão? É a possibilidade de os candidatos ficarem conhecidos. Você pega o Aécio - o governador mais bem avaliado do Brasil - qual é o conhecimento que as pessoas têm dele no Brasil? Raríssimo. A Dilma tem pouco tempo na política.
Ainda há tempo para torná-la conhecida em alguns lugares do país como os grotões do Nordeste?
Há tempo suficiente. É lá que eu vou chegar. Lá eu não vou nem chegar, lá eles são Lula. Lá eu estou representado, lá eles são eu. Eu quero ir é nos lugares onde estou...
O Nordeste, então, não lhe preocupa?
Lógico que me preocupa porque não existe eleição ganha antes do dia da apuração. Mas o carinho que o povo nordestino e do Norte têm por mim é de relação humana muito forte. Vou pedir o apoio desses companheiros para a minha candidata e vou trabalhar muitoem outros estados. O meu trabalhar é o sinal mais forte que posso dar para a sociedade brasileira que não estou pensando em 2014. Quando o político é canalha, ele não quer eleger o seu sucessor. O velhaco quer voltar. Indica alguém que não pode ser candidato em 2014 e alguém que ele sabe que é fraco. Eu não. Estou indicando o que tenho de melhor. Para ganhar. E , se ganhar, ter o direito de governar mais quatro anos.
O senhor será o âncora dos programas?
Não. Sou presidente da República. Não posso ser âncora. Espero ser âncora de algum programa de televisão depois que eu deixar a presidência.
Essa eleição da Dilma, parece que o senhor tem a mesma garra com a campanha dela do que com a sua reeleição#É uma questão de honra eleger a Dilma?
Em política não se coloca questão de honra. É de pragmatismo político. E você tem razão. Estou muito mais animado com a campanha da Dilma do que com a minha. Eu passei muito tempo relutando contra o segundo mandato. O PAC surgiu justamente por conta da minha preocupaçãocom o segundo mandato. Qual era? Se eu chegar no segundo mandato e ficar como alguns que só iam trabalhar de tarde e repetir a mesmice do primeiro seria uma coisa enfadonha. Pensei o PAC em outubro de 2006. Não utilizei na campanha porque chegamos a conclusão que não era necessário. Lançamos em fevereiro de 2007. Ele é que me deu gás de ver as coisas, de andar pelo Brasil. Meu governo já foi avaliado com a minha reeleição. Ele será bi-avaliado se eleger a Dilma. Daí, a minha responsabilidade com a eleição da Dilma. É que ela será a continuidade do nosso governo, aperfeiçoando, fazendo mais, fazendo coisas novas. Vamos para as cabeças, entusiasmados, sempre sabendo que eleição não se ganha na véspera, se ganha no dia.
O senhor acha que será decidida no primeiro turno?
Não acho nem que sim, nem que não. Vamos trabalhar para ter o máximo. Um estudante só vence na vida se a média que ele tem que ter na escola é cinco, ele tem que trabalhar para ter dez. Se ficar trabalhando só na média pode ter 4,8. Vamos trabalhar, colher o que for preciso. A única coisa que não quero é que tenha terceiro turno. E que quem perca, exerça a democracia acatando o resultado eleitoral. E não tente dar golpe, como tentaram me dar em 2005.
Qual é sua opinião com relação às mudanças na Chesf? No Nordeste, há uma polêmica grande porque a Chesf impulsiona muitos projetos. Muitos acham que a Chesf irá perder autonomia e haverá prejuízo para a região...
Deixa eu lhe contar uma coisa: Eu chamei o ministro de Minas e Energia (Márcio Zimmermann) sexta-feira para saber o que estava acontecendo na Chesf. Ele me contou o que estava acontecendo, que tinha recebido uma carta da direção da Eletrobras e eu disse para o ministro que ele tem de resolver esta semana este assunto porque é pouca coisa para a gente ficar brigando por isso. O que é engraçado é que as pessoas que trabalharam para destruir o sistema elétrico brasileiro, e por isso privatizaram a Celpe - que é a empresa que cobra mais caro a energia no país - agora viraram todos defensores da nossa querida Chesf. É a direita que não tinha discurso que resolve então se apoderar de um dilema e, na minha opinião, de erros cometidos pelos companheiros que elaboraram a portaria de regulamentação de participação das empresas. Qual era a decisão do governo federal: eu quero a Eletrobras forte. Eu quero a Eletrobras - é importante lembrar que, quando eu cheguei ao governo, as empresas públicas não podiam participar de leilões de energia. E eu quero a Eletrobras forte porque nós temos que fazer muita coisa de energia, eu quero uma empresa com capacidade de construir parcerias internacionais, de pegar empréstimo internacional, e não uma empresa falida, apenas uma cartorial. Então, nós já fizemos. Aprovamos no Congresso, a Eletrobras como uma holding forte. Como holding, essa empresa tem de coordenar suas afiliadas, a Chesf, Furnas, a Eletronorte, a Eletrosul. O que não pode é tirar a autonomia das empresas, como as empresas da Petrobras. A BR tem autonomia, mas tem os interesses maiores da Petrobras que são discutidos estrategicamente dentro do Conselho da Petrobras. O que queremos é o mesmo. A mesma coisa. É engraçado que as pessoas que estão no debate lá não falam que nós capitalizamos a Chesf com R$ 3,5 bilhões. Não falam. Não falam que a Chesf está participando de licitações que jamais ela participaria porque não tinha condições financeiras. Então, queremos a Chesf forte, a Eletronorte forte, a Eletrosul forte, queremos Furnas forte e não queremos que nenhuma tenha supremacia sobre a outra. O que queremos é que o controlador de todas seja o governo federal através da Eletrobras.
Então, o molde que foi...
Então, nós estamos vendo. Eu disse para o ministro, que esteve conversando com os deputados e com Eduardo Campos (o governador), para dar uma olhada porque essa coisa é assim: você pega um funcionário não sei de que escalão para fazer uma portaria# sabe, talvez ele tenha colocado coisas exageradamente lá que não precisava ter. Mas isso, da nossa parte, nós vamos resolver porque o que eu quero é que nós tenhamos todas as filiais fortes e a Eletrobras muito mais forte ainda. Até porque nós temos muita importância no mundo. Nós vamos fazer uma hidroelétrica na Nicarágua, em vários países africanos. O Brasil precisa aproveitar o conhecimento de engenharia que tem nessa área e virar um senhor da situação. Não é apenas ficar disputando aqui dentro, não. Agora nessa licitação de Belo Monte eu disse aos empresários: "Se vocês não quiserem participar, nós vamos fazer sozinhos. Nós vamos provar que não vamos ficar reféns de nenhum empresário. Queremos construir parcerias juntas, mas não ficaremos reféns.
Nestes oito anos, o que o senhor pensou: que pena que eu não fiz isso?
Certamente, você sempre vai se queixar porque não fez mais. Eu nunca vou me contentar com o que fiz. Quando eu for prestar contas do governo, aí vai ficar mais visível para mim o que fiz e o que não fiz. Eu acho que nós temos que fazer a reforma política. Ela não depende do governo federal. Na verdade, o governo federal tinha que ser o indutor, mas o que noto é que os partidos políticos não querem - nem o meu demonstra interesse. Parece que as pessoas preferem o que está aí. Eu acho que tem de fazer reforma política no país, tem de fazer reforma tributária. Eu mandei dois projetos de reforma tributária, nenhum foi votado no Congresso Nacional. Eu penso que, se a gente tivesse reforma política, se tivesse os partidos funcionando mais corretamente, se a gente tivesse os partidos que decidissem e a base cumprisse a fidelidade partidária, teria uma chance de fazer um acordo entre os partidos e aprovar as coisas, mas agora não. Agora, não. Já não é mais os partidos, já não é mais as lideranças, agora são os grupos dentro de cada bancada. Isso é uma coisa que eu tenho a frustração de não ter feito a reforma política. Tenho duas propostas nossas no Congresso Nacional, mas essa é uma coisa que depende do partido. Uma coisa eu digo: quando eu deixar a presidência, eu vou ser uma pedra no calcanhar do PT para que o PT coloque a reforma política como prioridade sua, com 365 dias por ano falando de reforma política, procurando aliado para a gente fazer porque não é possível. Sobretudo porque eu acho que o fundo público para financiar as eleições, com a proibição de dinheiro privado seria uma possibilidade que a gente teria de moralizar o país.
Qual a quarentena que o senhor dará para o futuro governo?
Não tem quarentena. Pretendo não dar palpite no próximo governo. Se pedirem alguma opinião (falava de uma suposta vitória de Dilma), eu sinceramente acho que quem for eleito tem o direito de governar e de fazer o que entender o que deva ser feito. Depois vai ser julgado. Não cabe a mim julgamento e ficar cobrando, como se fosse ex-marido ou ex-mulher, dizendo como o outro tem de ficar vivendo. Rei morto, rei posto, como se fala.
Em relação ao seu projeto internacional?
Não existe. Esse negócio da ONU, vamos ter claro o seguinte: A ONU não pode ter como secretário geral um político. Tem que ter um burocrata do sistema porque, caso contrário você entra em confronto com os outros presidentes. Vamos melhorar a ONU, mas acho que a burocracia tem de continuar existindo para continuar mantendo uma certa harmonia. Eu tenho muita vontade de trabalhar um pouco a experiência acumulada no Brasil tanto para a África quanto para a América Latina. Não tenho projetos. Só penso agora em terminar o mandato e animar os meus ministros porque vai chegando o final do mandato e, sabe aquele negócio, vai dando 2h da manhã você está num baile e já começa a procurar uma cadeira para sentar#eu quero que todo mundo continue animado e dançando porque eu quero continuar muito bem até 31 de dezembro. A imagem que eu quero deixar minha no governo é de que trabalhamos até a véspera do minuto do dia primeiro. Vou sair do governo com a consciência tranquila, vou continuar andando pelo país muito, vou continuar visitando o país, vou ver o que fiz o que não fiz.
E 2014 está aí, presidente...
Eu não trabalho com essa hipótese. Em política, é ruim porque nem posso discordar e nem posso dizer#eu diria que a probabilidade é de não existir 2014 porque quero que minha candidata ganhe. E, se eu quero que ela ganhe, ela tem direito à reeleição. O país está vivendo um momento glorioso, estamos longe de ter um país dos nossos sonhos, mas estamos vivendo um país que há muitas décadas não vivíamos. Só quero que as coisas melhorem. Eu vou mostrar que um ex-presidente não pode ser mesquinho. Não pode ficar torcendo pelo fracasso do outro, não pode ficar dando palpite.
O senhor fala de Fernando Henrique?Qual a quarentena que o senhor dará para o futuro governo?
Não tem quarentena. Pretendo não dar palpite no próximo governo. Se pedirem alguma opinião (falava de uma suposta vitória de Dilma), eu sinceramente acho que quem for eleito tem o direito de governar e de fazer o que entender o que deva ser feito. Depois vai ser julgado. Não cabe a mim julgamento e ficar cobrando, como se fosse ex-marido ou ex-mulher, dizendo como o outro tem de ficar vivendo. Rei morto, rei posto, como se fala.
Em relação ao seu projeto internacional?
Não existe. Esse negócio da ONU, vamos ter claro o seguinte: A ONU não pode ter como secretário geral um político. Tem que ter um burocrata do sistema porque, caso contrário você entra em confronto com os outros presidentes. Vamos melhorar a ONU, mas acho que a burocracia tem de continuar existindo para continuar mantendo uma certa harmonia. Eu tenho muita vontade de trabalhar um pouco a experiência acumulada no Brasil tanto para a África quanto para a América Latina. Não tenho projetos. Só penso agora em terminar o mandato e animar os meus ministros porque vai chegando o final do mandato e, sabe aquele negócio, vai dando 2h da manhã você está num baile e já começa a procurar uma cadeira para sentar#eu quero que todo mundo continue animado e dançando porque eu quero continuar muito bem até 31 de dezembro. A imagem que eu quero deixar minha no governo é de que trabalhamos até a véspera do minuto do dia primeiro. Vou sair do governo com a consciência tranquila, vou continuar andando pelo país muito, vou continuar visitando o país, vou ver o que fiz o que não fiz.
E 2014 está aí, presidente...
Eu não trabalho com essa hipótese. Em política, é ruim porque nem posso discordar e nem posso dizer#eu diria que a probabilidade é de não existir 2014 porque quero que minha candidata ganhe. E, se eu quero que ela ganhe, ela tem direito à reeleição. O país está vivendo um momento glorioso, estamos longe de ter um país dos nossos sonhos, mas estamos vivendo um país que há muitas décadas não vivíamos. Só quero que as coisas melhorem. Eu vou mostrar que um ex-presidente não pode ser mesquinho. Não pode ficar torcendo pelo fracasso do outro, não pode ficar dando palpite.
Tomei como decisão fazer comparação, tinha que ter uma referência. Qual era minha referência? Era tudo que encontrei. Aí, obviamente, ele deve ter se incomodado demais.
E o PAC 2 não vai dar tempo de ser iniciado nesse mandato, presidente...
O PAC 2 não foi lançado para se fazer nesse governo. Eu estava vendo alguns governos dizer, eu vi até o Aécio dizendo, que as obras prioritárias de Minas vou passar para o Serra (José Serra), veja: as obras prioritárias de cada estado serão definidas por cada estado. Não éo governo quem vai decidir qual é a rodovia, qual é a ferrovia. Por que eu tive que fazer o PAC 2? Para facilitar a vida de quem vai entrar depois de mim. Se não quiser fazer, não faça. Foi eleito presidente, tem o direito de pegar tudo rasgar e não fazer. O que eu quero? Quero deixar uma prateleira de projetos que não recebi. Quis deixar a estrutura semeada. O PAC vai ser construído com os prefeitos e vamos colocar mais dinheiro nas periferias para evitar as coisas que aconteceram no Rio de Janeiro, porque a gente fica culpando a chuva, mas quem era administrador há 20, 30 anos quando deixou as pessoas irem morar no lixão? Quem eram os senhores governantes nesse país? A gente culpa a chuva, mas todo mundo sabe que quem está morando na beira do córrego vai sofrer mais, alguém na beira do morro vai ter desmoronamento. Será que ninguém viu? Diario de Pernambuco.
E o PAC 2 não vai dar tempo de ser iniciado nesse mandato, presidente...
O PAC 2 não foi lançado para se fazer nesse governo. Eu estava vendo alguns governos dizer, eu vi até o Aécio dizendo, que as obras prioritárias de Minas vou passar para o Serra (José Serra), veja: as obras prioritárias de cada estado serão definidas por cada estado. Não éo governo quem vai decidir qual é a rodovia, qual é a ferrovia. Por que eu tive que fazer o PAC 2? Para facilitar a vida de quem vai entrar depois de mim. Se não quiser fazer, não faça. Foi eleito presidente, tem o direito de pegar tudo rasgar e não fazer. O que eu quero? Quero deixar uma prateleira de projetos que não recebi. Quis deixar a estrutura semeada. O PAC vai ser construído com os prefeitos e vamos colocar mais dinheiro nas periferias para evitar as coisas que aconteceram no Rio de Janeiro, porque a gente fica culpando a chuva, mas quem era administrador há 20, 30 anos quando deixou as pessoas irem morar no lixão? Quem eram os senhores governantes nesse país? A gente culpa a chuva, mas todo mundo sabe que quem está morando na beira do córrego vai sofrer mais, alguém na beira do morro vai ter desmoronamento. Será que ninguém viu? Diario de Pernambuco.
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