domingo, 2 de maio de 2010

Embrapa cai no mundo

Embrapa cai no mundo (artigo resumido e publicado no extinto www.nominimo.com.br) – matéria de 2005.
Cristiane Barbieri

O principal centro de pesquisa agrícola de Moçambique foi batizado de Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIA), mas poucas pessoas no país usam esse nome para se referir a ele. Pesquisadores, agricultores e funcionários do próprio governo costumam chamar o lugar pelo diminutivo de uma sigla bem brasileira: Embrapinha. Não é para menos. Referência mundial em desenvolvimento de produtos agrícolas para países tropicais, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) serviu de modelo e prestou consultoria para o planejamento do INIA. Num próximo passo, treinará o corpo técnico, trazendo 22 pesquisadores para o Brasil e enviando 15 cientistas brasileiros para treinar os moçambicanos em áreas específicas. “Ficamos lisonjeados porque eles nos têm como modelo”, diz Claudio Bragantini, pesquisador na área de tecnologia de sementes, que acaba de voltar de uma temporada de seis semanas em Moçambique.
A fama da Embrapa se expandiu, nos últimos anos, na mesma proporção em que o agronegócio brasileiro avançou no mercado internacional. Incensado ainda mais pela política de relações exteriores do governo Lula, que coloca representantes da empresa a seu lado em muitas viagens ao exterior, o nome da Embrapa foi às alturas. O resultado é que, praticamente todas as semanas, alguns dos 37 centros de pesquisa da Embrapa recebem pesquisadores de países como Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Namíbia e Nigéria. Além deles, apenas em 2005, a empresa recebeu a visita de 12 presidentes, ministros de Ciência e Tecnologia, Agricultura e Negócios Exteriores.
Segundo Bragantini, a estratégia é fazer com que o pequeno agricultor consiga produzir itens de maior valor agregado, como frutas tropicais, por exemplo. Com a proximidade de mercados como Oriente Médio, Ásia e África do Sul, seria a oportunidade de os pequenos ganharem dinheiro. “É um modo de sair da visão de curto prazo, pensando apenas em matar a fome, para se olhar mais longe”, afirma Bragantini.
Na verdade, as visitas e as viagens dos técnicos são pagas pelos países contratantes, na maioria das vezes subsidiados por algum programa de investimento do Banco Mundial, do BID ou da Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica). Em outros casos, parte dos recursos sai da Agência Brasileira de Cooperação, ligada ao Itamaraty.
Mas, ao ceder seus conhecimentos tecnológicos a países com clima semelhante ao Brasil, não estaria a Embrapa alimentando futuros e potenciais concorrentes? (comentário: olha o caráter economicista e mesquinho que permeou a política externa de FHC contida na pergunta!!!). Certamente. “Pensando-se friamente, quanto mais países forem competitivos, mais difícil será conquistar os mercados”, afirma Bragantini. “Mas seria uma mesquinhez gigantesca não dividir esse conhecimento porque a tecnologia tem prazo de validade e, ser competitivo, é sempre estar à frente e dar o passo seguinte.”
Enviado pelo correspondente AMORIM- São Paulo/SP

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