quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lula sobre acordo com Irã: fizemos o que os EUA queriam fazer


Os presidentes Lula e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, comemoram, com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o
acordo nuclear que estabelece troca de urânio entre Irã e Turquia
Foto: AFP
Lúcia Müzell
Direto de Madri
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumentou, para uma plateia de empresários e personalidades espanholas nesta quarta-feira, em Madri, que o acordo obtido por ele e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad previa "exatamente" o que os Estados Unidos desejavam há seis meses, em uma proposta que foi inclusive explicitada ao Brasil em carta enviada pela Casa Branca em abril.
"Vocês sabem bem que nós fizemos exatamente o que os Estados Unidos queriam fazer há cinco ou seis meses atrás. Qual era o grande problema do Irã? Era que ninguém conseguia fazer o Irã sentar à mesa para conversar", disse, completando que Ahmadinejad concordou em negociar com ele e o primeiro-ministro turco.
O presidente brasileiro chamou os países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) para dialogar com o Irã e insinuou que as seis nações não estão querendo negociar, apenas aplicar sanções. Foi a primeira manifestação pública de Lula desde que os Estados Unidos mobilizaram os países do Grupo 5+1 para aprovar uma nova resolução da ONU, prevendo punições comerciais e econômicas ao país do Oriente Médio.
"Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar, porque se sentar sem querer negociar, vai voltar tudo à estaca zero", afirmou o presidente.
Lula defendeu o direito de o Brasil continuar atuando como mediador na questão iraniana, mesmo que não tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Conforme análise de Lula, nem o Brasil nem a Turquia possuem poder para negociar o acordo nuclear em si, mas podem viabilizar as discussões que os países do Grupo 5+1 não parecem, no seu entender, dispostos a realizar.
"A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que ele deveria assumir um compromisso com a gente, deveria negociar e deveria depositar seu urânio na Turquia. Tudo isso foi concordado".
O presidente aproveitou para criticar a ONU, que representaria um mundo político da geração pós-guerra, e não o de 2010. "Não concordamos com a atual governança global", reclamou o petista, que durante o discurso de 45 minutos abordou o tema em pelo menos três ocasiões. "É preciso mais atores, mais negociadores e mais disposição política. E acho que o mundo caminha para isso: uma nova governança global, com a ONU bem fortalecida". Para ele, também os conflitos no Oriente Médio, como o israelo-palestino, não vão encontrar uma solução enquanto os negociadores forem sempre os mesmos.
O presidente ainda advertiu para o risco de as divergências internacionais se acentuarem a longo prazo. "Se a ONU continuar assim, nós vamos ter problemas sérios envolvendo a sua diplomacia".

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