Salutar o fato de o veto ao Morumbi como estádio para a Copa do Mundo de 2014 ter ocupado o segundo maior espaço de debate nos últimos dias, ficando atrás apenas da Copa da África, que atrai as atenções no momento. Isso porque se configurou em ótima oportunidade de discussão sobre a necessidade de investimento na infraestrutura no Estado de São Paulo, independentemente de seu poderio econômico.
O debate, no entanto, ficou enviesado. Uma avalanche de artigos nos jornais tentou, de todas as formas, responsabilizar o governo federal pela humilhação que, até agora, está posta ao maior e mais rico Estado do país.
Em um raro momento de franqueza de discurso (sem recorrer a articulistas encomendados ou correligionários menores), o governador paulista, Alberto Goldman (PSDB), disse com todas as letras: “Eles (governo federal) foram irresponsáveis em trazer a Copa do Mundo sem dar condições às cidades de sediá-la”.
Goldman só não disse como é possível que outros Estados e cidades com menos estrutura e poder de investimento que São Paulo não estejam enfrentando o mesmo problema. Pois o grande esforço demo-tucano, neste momento, é o de ocultar, a todo custo, que o fracasso do Morumbi pertence, na verdade, ao ex-governador e agora candidato a Presidência, José Serra (PSDB), bem como ao prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Os governos estadual e municipal estão absolutamente inertes: não se moveram de maneira eficiente para viabilizar a manutenção de São Paulo como sede da Copa —posto que ainda está assegurado, mas mais arriscado a cada dia. Aliás, diga-se, eles ainda não tratam a questão como de suma importância para o Estado, deixando que proliferem manifestações inclusive contrárias à ideia de São Paulo sediar jogos da Copa do Mundo. Parece até brincadeira!
Os erros das administrações demo-tucanas começaram pela discussão realizada em torno do Pacaembu —que é um ótimo estádio, charmoso e histórico, mas sem a menor condição de receber jogos do porte do mundial. Depois veio a insistência em um projeto de reforma do Morumbi que não era suficiente, mesmo diante das indicações da Fifa de que os remendos ao projeto não eram adequadas. Afinal, a decisão de vetar o estádio é da Fifa.
Quem tem boa memória se lembra de Serra, reunido com Joseph Blatter, e garantindo que a abertura da Copa ocorreria na cidade. Faltou planejar e deixar preparada uma alternativa ao Morumbi. Não falo de bancar um estádio com dinheiro público, mas de lideranças políticas que consigam atrair o investidor privado para evitar que São Paulo não fique fora de 2014.
Já aconteceram mobilizações público-privadas no passado para garantir a construção de centros esportivos, culturais, comerciais, residenciais e hoteleiros para eventos sazonais que, mais tarde, se provaram economicamente sustentáveis fora de qualquer calendário especial. Essa é, inclusive, a grande oportunidade aberta ao Brasil com a realização da Copa: usar o maior evento esportivo do mundo para alavancar o desenvolvimento.
Estudo da FGV divulgado nos últimos dias estimou em cerca de R$ 142,3 bilhões o valor a ser injetado na economia brasileira com a realização dos jogos. Só em 2014 o impacto direto no PIB brasileiro deverá ser de R$ 64,5 bilhões, 2% do PIB estimado para este ano (R$ 2,9 trilhões). Apenas na construção civil serão R$ 8,14 bilhões diretos no PIB brasileiro por conta do evento, valores que podem, e devem, ser convertidos em geração de emprego e renda para o povo brasileiro —esta a verdadeira tarefa do Poder Público.
Ainda de acordo com o estudo, o benefício maior virá para as cidades-sede, que deverão receber, só elas, R$ 14,5 bilhões —dos quais R$ 4,6 bilhões para os estádios, R$ 2,8 bilhões para reurbanização e modernização do urbanismo e R$ 3,2 bilhões para os complexos hoteleiros. São oportunidades de melhoria do transporte público de massa, uma das maiores carências da cidade de São Paulo e do Estado também.
São Paulo não pode perder essa oportunidade para se desenvolver. Para qualquer cidade envolvida, abrir mão de sediar a Copa é deixar para depois um futuro melhor. Todos torcemos e temos convicção de que São Paulo não será excluída da Copa, pois é a maior cidade e um importante centro para todo o país. Mas é preocupante ver que a má gestão dos governos estadual e municipal pode pôr isso a perder.
José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil
O debate, no entanto, ficou enviesado. Uma avalanche de artigos nos jornais tentou, de todas as formas, responsabilizar o governo federal pela humilhação que, até agora, está posta ao maior e mais rico Estado do país.
Em um raro momento de franqueza de discurso (sem recorrer a articulistas encomendados ou correligionários menores), o governador paulista, Alberto Goldman (PSDB), disse com todas as letras: “Eles (governo federal) foram irresponsáveis em trazer a Copa do Mundo sem dar condições às cidades de sediá-la”.
Goldman só não disse como é possível que outros Estados e cidades com menos estrutura e poder de investimento que São Paulo não estejam enfrentando o mesmo problema. Pois o grande esforço demo-tucano, neste momento, é o de ocultar, a todo custo, que o fracasso do Morumbi pertence, na verdade, ao ex-governador e agora candidato a Presidência, José Serra (PSDB), bem como ao prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Os governos estadual e municipal estão absolutamente inertes: não se moveram de maneira eficiente para viabilizar a manutenção de São Paulo como sede da Copa —posto que ainda está assegurado, mas mais arriscado a cada dia. Aliás, diga-se, eles ainda não tratam a questão como de suma importância para o Estado, deixando que proliferem manifestações inclusive contrárias à ideia de São Paulo sediar jogos da Copa do Mundo. Parece até brincadeira!
Os erros das administrações demo-tucanas começaram pela discussão realizada em torno do Pacaembu —que é um ótimo estádio, charmoso e histórico, mas sem a menor condição de receber jogos do porte do mundial. Depois veio a insistência em um projeto de reforma do Morumbi que não era suficiente, mesmo diante das indicações da Fifa de que os remendos ao projeto não eram adequadas. Afinal, a decisão de vetar o estádio é da Fifa.
Quem tem boa memória se lembra de Serra, reunido com Joseph Blatter, e garantindo que a abertura da Copa ocorreria na cidade. Faltou planejar e deixar preparada uma alternativa ao Morumbi. Não falo de bancar um estádio com dinheiro público, mas de lideranças políticas que consigam atrair o investidor privado para evitar que São Paulo não fique fora de 2014.
Já aconteceram mobilizações público-privadas no passado para garantir a construção de centros esportivos, culturais, comerciais, residenciais e hoteleiros para eventos sazonais que, mais tarde, se provaram economicamente sustentáveis fora de qualquer calendário especial. Essa é, inclusive, a grande oportunidade aberta ao Brasil com a realização da Copa: usar o maior evento esportivo do mundo para alavancar o desenvolvimento.
Estudo da FGV divulgado nos últimos dias estimou em cerca de R$ 142,3 bilhões o valor a ser injetado na economia brasileira com a realização dos jogos. Só em 2014 o impacto direto no PIB brasileiro deverá ser de R$ 64,5 bilhões, 2% do PIB estimado para este ano (R$ 2,9 trilhões). Apenas na construção civil serão R$ 8,14 bilhões diretos no PIB brasileiro por conta do evento, valores que podem, e devem, ser convertidos em geração de emprego e renda para o povo brasileiro —esta a verdadeira tarefa do Poder Público.
Ainda de acordo com o estudo, o benefício maior virá para as cidades-sede, que deverão receber, só elas, R$ 14,5 bilhões —dos quais R$ 4,6 bilhões para os estádios, R$ 2,8 bilhões para reurbanização e modernização do urbanismo e R$ 3,2 bilhões para os complexos hoteleiros. São oportunidades de melhoria do transporte público de massa, uma das maiores carências da cidade de São Paulo e do Estado também.
São Paulo não pode perder essa oportunidade para se desenvolver. Para qualquer cidade envolvida, abrir mão de sediar a Copa é deixar para depois um futuro melhor. Todos torcemos e temos convicção de que São Paulo não será excluída da Copa, pois é a maior cidade e um importante centro para todo o país. Mas é preocupante ver que a má gestão dos governos estadual e municipal pode pôr isso a perder.
José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil
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