O 'consumo formiga' movimentou R$ 21,4 bilhões nos primeiros quatro meses do ano e já há casos de falta de tijolo e cimento em algumas regiões
Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo
Faz oito meses que o pedreiro José Tertuliano da Silva cumpre dupla jornada. Entra às 7h na obra e sai às 17h. Depois segue para Paraisópolis, na periferia de São Paulo, onde constrói a terceira laje da sua casa. Lá, trabalha até meia-noite, dando o acabamento nos quatro cômodos. A família Silva é uma das 22 milhões de famílias que pretendem reformar ou construir casa até dezembro, revela pesquisa do instituto Data Popular.
Esse contingente equivale à soma da população de quatro países. É como se todos os argentinos, chilenos, paraguaios e uruguaios resolvessem reformar ou construir moradias até o fim deste ano, compara Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. A enquete, que ouviu 2 mil famílias em 11 regiões metropolitanas e no Distrito Federal em março, mostra que a maioria - 90% das famílias - são das classes de menor renda (C, D e E), resultado que ganha relevância no Nordeste, beneficiado pelos programas sociais.
"Com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para materiais de construção, a maior oferta de crédito e o aumento da renda, o consumo formiga de materiais de construção vai explodir", prevê Meirelles. O consumo formiga é como são chamadas as compras de pessoas físicas para construir ou reformar a própria casa.
Nos cálculos do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox, o consumo formiga hoje corresponde a 65% da receita de R$ 33,3 bilhões de janeiro a abril, ou R$ 21,4 bilhões. Já a receita total da indústria cresceu 20,3% no período em relação a 2009 e 5% ante 2008. Deve fechar o ano com alta de 15%, a maior desde o início da série, em 2004.
Um sinal dessa explosão de vendas já aparece na falta de tijolo e cimento em regiões como o Centro-Oeste. Faz três meses, por exemplo, que o depósito de cimento 13 de Maio, em Campo Grande (MS), trabalha praticamente sem estoque de tijolo e cimento, conta o gerente João Carlos Kohatsu.
Segundo ele, a demanda dos consumidores cresceu 10%. Mas, além do aumento do consumo formiga, estão em andamento na região obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também já começaram as obras da Copa de 2014.
Na Cerâmica Nobre, uma das maiores olarias do Centro-Oeste, há escassez de todo tipo de bloco, diz o diretor comercial, Jonas Borges. "Antes tínhamos para pronta-entrega. Hoje, pedimos dez dias úteis de prazo."
Na Olaria São Sebastião, que fica em Barra do Piraí (RJ) e abastece o sul do Estado do Rio, a situação é parecida. "A espera hoje é de 15 a 20 dias para tijolo de alvenaria ou laje pré-moldada", diz o diretor da empresa, Cesar Vergilio Oliveira Gonçalves.
Cimento.
Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo
Faz oito meses que o pedreiro José Tertuliano da Silva cumpre dupla jornada. Entra às 7h na obra e sai às 17h. Depois segue para Paraisópolis, na periferia de São Paulo, onde constrói a terceira laje da sua casa. Lá, trabalha até meia-noite, dando o acabamento nos quatro cômodos. A família Silva é uma das 22 milhões de famílias que pretendem reformar ou construir casa até dezembro, revela pesquisa do instituto Data Popular.
Esse contingente equivale à soma da população de quatro países. É como se todos os argentinos, chilenos, paraguaios e uruguaios resolvessem reformar ou construir moradias até o fim deste ano, compara Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. A enquete, que ouviu 2 mil famílias em 11 regiões metropolitanas e no Distrito Federal em março, mostra que a maioria - 90% das famílias - são das classes de menor renda (C, D e E), resultado que ganha relevância no Nordeste, beneficiado pelos programas sociais.
"Com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para materiais de construção, a maior oferta de crédito e o aumento da renda, o consumo formiga de materiais de construção vai explodir", prevê Meirelles. O consumo formiga é como são chamadas as compras de pessoas físicas para construir ou reformar a própria casa.
Nos cálculos do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox, o consumo formiga hoje corresponde a 65% da receita de R$ 33,3 bilhões de janeiro a abril, ou R$ 21,4 bilhões. Já a receita total da indústria cresceu 20,3% no período em relação a 2009 e 5% ante 2008. Deve fechar o ano com alta de 15%, a maior desde o início da série, em 2004.
Um sinal dessa explosão de vendas já aparece na falta de tijolo e cimento em regiões como o Centro-Oeste. Faz três meses, por exemplo, que o depósito de cimento 13 de Maio, em Campo Grande (MS), trabalha praticamente sem estoque de tijolo e cimento, conta o gerente João Carlos Kohatsu.
Segundo ele, a demanda dos consumidores cresceu 10%. Mas, além do aumento do consumo formiga, estão em andamento na região obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também já começaram as obras da Copa de 2014.
Na Cerâmica Nobre, uma das maiores olarias do Centro-Oeste, há escassez de todo tipo de bloco, diz o diretor comercial, Jonas Borges. "Antes tínhamos para pronta-entrega. Hoje, pedimos dez dias úteis de prazo."
Na Olaria São Sebastião, que fica em Barra do Piraí (RJ) e abastece o sul do Estado do Rio, a situação é parecida. "A espera hoje é de 15 a 20 dias para tijolo de alvenaria ou laje pré-moldada", diz o diretor da empresa, Cesar Vergilio Oliveira Gonçalves.
Cimento.
O crescimento das vendas é recorde, afirma o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), José Otavio Carvalho. De janeiro a maio, foram vendidas no mercado interno 22,9 milhões de toneladas de cimento, com alta de16,4% em relação a igual período de 2009.
"Pode haver falta de cimento em alguma região. Mas meus clientes não estão sofrendo desabastecimento", diz Humberto Farias, diretor-superintendente da Camargo Corrêa Cimentos, a terceira maior cimenteira do País. Ele atribui a escassez do produto ao crescimento desigual do consumo entre as regiões. De janeiro a maio, as vendas cresceram 26,5% no Nordeste e 6,2% no Sul, ante 2009.
Com a redução do IPI para os materiais (que vai até 31 de dezembro), os programas do governo para habitação e infraestrutura e o crédito farto, a indústria e o varejo de materiais de construção nunca tiveram um período tão vigoroso de crescimento.
"Este ano está sendo excepcional como poucos", ressalta o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Claudio Conz.
No mês passado, as vendas no varejo cresceram 12% na comparação com maio de 2009 e acumulam alta de 9,5% no ano. Em 2010, Conz não descarta crescer até 12%, superando a taxa registrada em 1995, o primeiro ano do Plano Real.
"Pode haver falta de cimento em alguma região. Mas meus clientes não estão sofrendo desabastecimento", diz Humberto Farias, diretor-superintendente da Camargo Corrêa Cimentos, a terceira maior cimenteira do País. Ele atribui a escassez do produto ao crescimento desigual do consumo entre as regiões. De janeiro a maio, as vendas cresceram 26,5% no Nordeste e 6,2% no Sul, ante 2009.
Com a redução do IPI para os materiais (que vai até 31 de dezembro), os programas do governo para habitação e infraestrutura e o crédito farto, a indústria e o varejo de materiais de construção nunca tiveram um período tão vigoroso de crescimento.
"Este ano está sendo excepcional como poucos", ressalta o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Claudio Conz.
No mês passado, as vendas no varejo cresceram 12% na comparação com maio de 2009 e acumulam alta de 9,5% no ano. Em 2010, Conz não descarta crescer até 12%, superando a taxa registrada em 1995, o primeiro ano do Plano Real.
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