As ligações perigosas de Paulo Souto, candidato do DEM ao governo da Bahia, com José Serra, candidato do PSDB à presidência, vêm de longe. O elo de ligação é o espanhol Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra, suspeito de representar os interesses de Daniel Dantas em negociatas e ser o caixa 2 das privatizações da era FHC. O livro “Os porões da privataria”, de Amaury Ribeiro Jr. revela tudo. Paulo Souto (DEM) vai ter muito o que explicar nestas eleições...
Segue abaixo conteúdo completo sobre as ligações perigosas de Paulo Souto:LIGAÇÕES PERIGOSAS ENTRE PAULO SOUTO E JOSÉ SERRA
(Para compreender a Ilha do Urubu e todo o seu entorno)
Há algum tempo atrás denunciei na Câmara Federal o nebuloso e escandaloso caso da Ilha do Urubu, ocorrido na Bahia, em novembro de 2006, quando estava em fim de governo o Sr. Paulo Souto, do DEM. O ex-governador da Bahia e provável candidato ao governo do Estado, Paulo Souto, era acusado de ilegalidade, por Rubens Luis Freiberger e seu advogado José César Oliveira, através de uma ação popular que tramita no Tribunal de Justiça da Bahia, acerca do processo que envolveu a doação de terras da “Ilha do Urubu”, localizada no município de Porto Seguro, área da Costa do Descobrimento, no Extremo Sul da Bahia.
De acordo com as informações fornecidas à imprensa pelo advogado César Oliveira, no Processo nº. 359.983-3, ao final do seu governo, Paulo Souto doou a Ilha do Urubu aos herdeiros da família Martins, posseiros da área em questão. Quatro meses depois, os herdeiros venderam essas terras ilegalmente (pois teriam que preservá-las por cinco anos) por R$ 1 milhão ao empresário Gregório Marin Preciado. Ainda segundo Oliveira, “mais ou menos um ano depois, Gregório Preciado revendeu o terreno a um mega-especulador belga, Philippe Meeus, por R$ 12 milhões”. Uma negociata como essa, com um lucro desse tamanho, não se encontra a qualquer hora, e menos ainda um governador que a propicie, como o ex-governador Paulo Souto o fez.
Gregório Marin Preciado, espanhol, naturalizado brasileiro, é casado com a prima de José Serra, governador de São Paulo e pré-candidato à presidência da República. Para o advogado César Oliveira: “No mínimo, houve leniência por parte do Estado. O terreno vale, hoje, R$ 50 milhões, pois se trata de uma das áreas mais valorizadas da América Latina”.
A mídia hegemônica, concentrada no Centro-Sul do País, repercute intensamente manobra da campanha do Sr. José Serra acusando o PT de preparar dossiê para atingi-lo. Conta com pistoleiros de aluguel distribuídos por vários órgãos. Conta especialmente com uma excrescência chamada Veja, acostumada a mentir, a caluniar, um veículo que de há muito se distanciou daquilo que se conhece como jornalismo, e que está de um lado só, o do candidato Serra. Ou de quaisquer outros que se coloquem a favor de projetos reformistas para o País. Para isso, para se opor a quaisquer transformações progressistas, Veja está disposta a fazer qualquer coisa.
Veja é o extremo, a direita mais raivosa, a mais escancarada, sempre pronta ao jogo sujo. Ela é o lado mais torpe do Instituto Millenium, organização que reuniu em São Paulo, em março deste ano, os dirigentes dos principais órgãos de comunicação da mídia hegemônica para traçar a estratégia de combate ao PT e à nossa candidata, Dilma Rousseff. Envergonha o jornalismo brasileiro, embora, como se sabe, não esteja sozinha nisso. Funciona como pauteira do resto da imprensa, que repercute com todo estardalhaço as matérias que ela constrói, não importando qual o grau de apuração de tais matérias, se estão fundadas em fatos ou não, se ouviu todos os lados, essas lições triviais do jornalismo, de há muito flagrantemente desrespeitada por ela e seus parceiros.
Em sua coluna “Tempo Presente” de 06/06/2010, no jornal A Tarde, o jornalista Levi Vasconcelos afirma no artigo “Os ensaios do jogo sujo”, entre outras coisas, que “ainda sem saber que estratégia usar contra um governo de alta popularidade...” o marketing do PSDB finalmente parece ter encontrado a luz do caminho. De uma tacada só jogou na mídia uma vacina e um ataque contra o PT ao levantar suspeitas de um dossiê fabricado (ou em fabricação) para atingir José Serra. A vacina é para desacreditar uma possível denúncia contra seu candidato. E o ataque é para tentar atribuir ao PT o “jogo sujo”.
Desmontando arapucas
Os jornalistas Luiz Carlos Azedo, titular da coluna Brasília-DF do Correio Braziliense, e Luís Nassif, editor de blog, revelaram que ao invés de um dossiê, o que existe é um livro “sobre os bastidores das privatizações”, originário da guerra travada entre José Serra e Aécio Neves, de acordo com Nassif, quando os então governadores tucanos de São Paulo e Minas Gerais disputavam a pré-candidatura do PSDB à Presidência.
Com o título “O caso do dossiê”, o texto publicado por Nassif em seu blog, em 04/06, desacredita a produção ou existência de novo dossiê contra Serra e afirma que “a história é outra”: “Quando começou a disputa dentro do PSDB, pela indicação do candidato às eleições presidenciais, correram rumores de que Serra havia preparado um dossiê sobre a vida pessoal de seu adversário (no partido) Aécio Neves”.
A banda mineira do PSDB resolveu se precaver. E recorreu ao (jornal) Estado de Minas para que juntasse munição dissuasória contra Serra. O jornal incumbiu, então, seu jornalista Amaury Ribeiro Jr. de levantar dados sobre Serra. Durante quase um ano Amaury se dedicou ao trabalho, inclusive com viagens à Europa, atrás de pistas. Amaury é repórter experiente, farejador, que já passou pelos principais órgãos de imprensa do País. Passou pelo O Globo, pela Isto É, tem acesso ao mundo da polícia e é bem visto pelos colegas em Brasília.
Nesse ínterim, cessou a guerra interna no PSDB e Amaury saiu do Estado de Minas e ficou com um vasto material na mão. Passou a trabalhar, então, em um livro, que já tem 14 capítulos. Quando a notícia começou a correr em Brasília, acendeu a luz amarela na campanha de Serra. O Conversa Afiada, blog do jornalista Paulo Henrique Amorim, divulgou que: “recebeu de amigo navegante mineiro o texto que serve de introdução ao livro “Os porões da privataria” de Amaury Ribeiro Jr., que será lançado logo depois da Copa, em capítulos, na internet. Vai desembarcar bem na época da eleição.
É um trabalho de dez anos de Amaury Ribeiro Jr, que começou quando ele era do Globo e se aprofundou com uma reportagem na Isto É sobre a CPI do Banestado. Não são documentos obtidos com espionagem – como quer fazer crer a feroz defesa de Serra. É o resultado de um trabalho minucioso, em cima de documentos oficiais e de fé pública. Um dos documentos, Amaury Ribeiro obteve depois de a Justiça lhe conceder “exceção da verdade”, num processo que Ricardo Sérgio de Oliveira move contra ele. E perdeu.
Amaury mostra, pela primeira vez, a prova concreta de como, quanto e aonde Ricardo Sérgio recebeu pela privatização. Num outro documento, aparece o ex-sócio de Serra e primo de Serra, Gregório Marin Preciado, no ato de pagar mais de US$ 10 milhões a uma empresa de Ricardo Sérgio. As relações entre o genro de Serra e o banqueiro Daniel Dantas estão esmiuçadas de forma exaustiva nos documentos a que Amaury teve acesso. O escritório de lavagem de dinheiro Citco Building, nas Ilhas Virgens britânicas, um paraíso fiscal, abrigava a conta de todo o alto tucanato que participou da privataria.
Cito a seguir alguns trechos da matéria de Paulo Henrique Amorim:
“Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais.
Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.
Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marin Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marin. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra, e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil…
A trajetória do empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC. Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola, da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico.
Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br, em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.
Os urubus e os benefícios
Nas denúncias aqui na Bahia, apresentadas pelo advogado César Oliveira, informa-se que: “O senhor Gregório Marin Preciado responde a uma ação penal do Ministério Público Federal por uma dívida de R$ 55 milhões, que foi perdoada irregularmente pelo Banco do Brasil. Ele tomou também um empréstimo de R$ 5 milhões no Banco do Brasil e deu a Ilha do Urubu como garantia, enquanto litigava com a família Martins, disputando a posse da Ilha”.
Ainda segundo o advogado, no ano de 1993, Gregório Marin Preciado havia contraído empréstimos no Banco do Brasil para duas empresas de sua propriedade – a Gremafer e a Acetato. Como Preciado não conseguiu pagar o débito, no ano de 1995, entrou em cena o Sr. Ricardo Sérgio, que, na época, era diretor do Banco do Brasil e ficou conhecido por ser caixa das campanhas de José Serra e FHC. Ele conseguiu para Gregório Preciado um gracioso desconto de 16 milhões de reais na tal divida.
Mas a coisa não parou por aí. Mesmo inadimplente, Gregorio Preciado arrancou outro empréstimo de 2,8 milhões de dólares no mesmo Banco do Brasil. Reportagem de maio de 2002, da Folha de São Paulo, destacou que documentos internos do Banco tratavam aquelas negociações como heterodoxas e atípicas e, por isso, o agente financeiro começou a listar os bens do Sr. Preciado para arrestá-los. Foi assim que se descobriu a propriedade de um terreno valiosíssimo no bairro do Morumbi, onde José Serra era dono de metade e Gregório Preciado da outra parte. O terreno foi vendido rapidamente antes de o Banco do Brasil fazer o arresto e ambos foram beneficiados.
No ano de 1996, Ricardo Sérgio (diretor do Banco do Brasil com influência na Previ) montou com Preciado o consórcio Guaraniana S/A. Segundo notícias da época, o mencionado consórcio foi composto pela Previ, Banco do Brasil e por fundos administrados pela instituição, e tem como sócia a Iberdrola, empresa gigante do setor energético. Ainda de acordo com o advogado Dr. José César Oliveira, esta deu a representação da Guaraniana a Gregório Marin Preciado.
Com o processo de privatização ocorrido no governo Fernando Henrique, o consórcio montado pelos dois, o tesoureiro e o parente de José Serra, entre 1997 e 2000, arrematou a baiana Coelba, a pernambucana Celpe e a potiguar Cosern, e Gregório Marin Preciado, de inadimplente do Banco do Brasil, passou a ser o todo poderoso representante da Iberdrola no consórcio montado.
O aprofundamento das relações de Paulo Souto, então governador, com Gregório Marin Preciado, parente de José Serra, cujo nome aparece amplamente nas denúncias que estão circulando, passou pela privatização da Coelba e pela doação da Ilha do Urubu. Esta, ocorrida no dia 20 de novembro de 2006, ao apagar das luzes de seu governo, isso no bojo de centenas de outros fatos irregulares, cometidos após a sua derrota nas eleições. Derrota que levou Jaques Wagner ao governo da Bahia.
Ou seja, já há muito tempo que na Bahia as turmas de Paulo Souto e José Serra são aliadas, não só politicamente, nem só nas eleições de 2010, mas em várias operações, digamos, heterodoxas, como revelamos ao longo desse texto. Durante a campanha, se não for antes, Paulo Souto e Serra terão que explicar muitas coisas. A farra do urubu, uma delas. Aí, é só puxar o fio de Ariadne.
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