Autor(es): Raymundo Costa e Raquel Ulhôa, de Salvador
Valor Econômico -
O tucano José Serra mal acabara de discursar quando começou a ser desmontado o palanque armado no Clube Espanhol, local da convenção para homologar o candidato do PSDB a Presidência da República. Havia pressa. Dos militantes, para pegar os ônibus de volta a seus municípios, dos convencionais em fechar a conta nos hotéis, e do Democratas em abrir uma discussão até então represada: a indicação do candidato a vice na chapa de Serra. O partido ameaça não formalizar a aliança entre as duas siglas, até o fim do mês, se o escolhido não for um nome do DEM.
Pano de fundo da convenção tucana para homologar a candidatura tucana, a discussão sobre o nome do vice ameaça o futuro da própria oposição. O DEM já reconhece que não tem condições de ficar mais quatro anos na oposição e vê como inevitável a adesão de alguns de seus principais líderes ao vitorioso, em caso de nova derrota de Serra. Na hipótese de vitória, a discussão ameaça a relação entre as duas siglas, no governo.
Em relação à pré-convenção de fevereiro, Serra perdeu substância nas pesquisas: chegou à convenção empatado com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Talvez por isso tenha aumentado o tom das críticas ao governo, mas a reação da plateia foi mais fria que a dos militantes e convidados do partido que fizeram o lançamento da pré-candidatura, em fevereiro (PSDB, DEM e PPS). O formato deu à campanha imagens limpas para o programa de televisão. O custo foi uma convenção sem emoção.
A discussão sobre o vice de Serra ficou congelada à espera de uma decisão do ex-governador mineiro Aécio Neves. Sem Aécio, o DEM só vê justificativa para a indicação de um nome não demista se ele for de um partido que possa contribuir com mais tempo de televisão para Serra. Este seria o caso do PP, atualmente mais inclinado a ficar "solto".
Para deixar claro que não se trata de blefe, o deputado Rodrigo Maia, presidente do Democratas, já redigiu o edital de convocação da convenção democrata. Tem dois itens: aprovar a coligação com o candidato a presidente do PSDB, José Serra, e indicar o nome do candidato a vice-presidente da chapa tucana. O DEM já avisou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que Serra pode escolher quem quiser.
O DEM considera que seria uma "humilhação" o veto ao partido, sem uma "argumentação lógica": alguém que some eleitoralmente. O Valor apurou, no entanto, que a extensão da represália demista divide a sigla: ACM Neto (BA), por exemplo, acha que o DEM não deve radicalizar para ter o direito de indicar o vice. Maia e o ex-presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), estão na posição contrária. A decisão será de Serra. A expectativa é de uma solução até dia 20.
O deputado José Carlos Aleluia (BA) e a candidata ao Senado pelo Pará, Valéria Pires Franco, são dois nomes considerados no DEM, além do líder José Agripino (RN). As dificuldades dos tucanos se localizam no próprio Serra, que não mostra entusiasmo com um demista na chapa, e do partido, que precisa da vaga para acomodar questões que julga mais urgentes. Uma hipótese é a indicação do senador Álvaro Dias (SC), numa tentativa de desmontar a candidatura de Osmar Dias, irmão de Álvaro, ao governo do Estado pelo PDT com o apoio do PT. O Dias pedetista poderia até apoiar Serra.
Os arranjos eleitorais do PSDB também se revelaram vulneráveis e atrasados, segundo avaliação de convencionais e convidados do PSDB. Em parte, porque Serra demorou para confirmar que era candidato, mas também porque o PSDB privilegia seus interesses nos Estados, ao contrário do que o presidente Lula da Silva, por exemplo, fez com o PT em relação ao PMDB. O caso paranaense é típico: bastaria que o PSDB apoiasse Osmar e desistisse da candidatura própria de Beto Richa para conseguir montar um palanque forte no Estado.
"O vice, eu já tenho. Agora quero resolver o problema de Santa Catarina, Pará, Goiás....", dizia o presidente do DEM, Rodrigo Maia, à saída da convenção. Apesar da ameaça de não formalizar a coligação, o mais provável é que, se o vice não for demista, não haja rompimento da aliança nacional. "Mas isso causará um mal estar desnecessário e será uma humilhação para um aliado que sempre foi fiel", segundo avaliação feita na cúpula demista. O assunto será discutido em reunião da Executiva Nacional amanhã ou depois. "A confusão vai começar", diz um dirigente.
Há demandas entre PSDB e DEM em vários Estados. No Pará, onde os dois partidos já governaram juntos, as siglas não conseguem conciliar seus interesses. Valéria, bem posicionada nas pesquisas, é a candidata do DEM, posto do qual não abre mão o senador Flexa Ribeiro. Em Goiás o DEM está dividido, com a direção demista local contrária ao apoio à candidatura favorita de Marconi Perillo (PSDB). No Rio Grande do Sul, o DEM está brigado com a governadora Yeda Crusius (PSDB).
A falta de empolgação na convenção reflete a sensação que toma conta dos aliados. Há queixa da centralização da campanha por Serra. Ninguém conhece a estratégia da candidatura ou as diretrizes do programa de governo. A agenda do candidato é um mistério. As decisões são tomadas por ele às vezes na última hora. Não há interlocutores com autoridade para tomar decisões em nome dele.
Na avaliação da tropa, a campanha está repetindo erros que levaram à derrota de Serra em 2002 e de Alckmin em 2006. Há desatenção com os aliados nos Estados. Falta pulso para dirimir confrontos entre os parceiros nos Estados. Serra é apontado como alguém que "só se preocupa com o macro", sem levar em conta que campanha é feita de contatos, afagos, conversas.
Valor Econômico -
O tucano José Serra mal acabara de discursar quando começou a ser desmontado o palanque armado no Clube Espanhol, local da convenção para homologar o candidato do PSDB a Presidência da República. Havia pressa. Dos militantes, para pegar os ônibus de volta a seus municípios, dos convencionais em fechar a conta nos hotéis, e do Democratas em abrir uma discussão até então represada: a indicação do candidato a vice na chapa de Serra. O partido ameaça não formalizar a aliança entre as duas siglas, até o fim do mês, se o escolhido não for um nome do DEM.
Pano de fundo da convenção tucana para homologar a candidatura tucana, a discussão sobre o nome do vice ameaça o futuro da própria oposição. O DEM já reconhece que não tem condições de ficar mais quatro anos na oposição e vê como inevitável a adesão de alguns de seus principais líderes ao vitorioso, em caso de nova derrota de Serra. Na hipótese de vitória, a discussão ameaça a relação entre as duas siglas, no governo.
Em relação à pré-convenção de fevereiro, Serra perdeu substância nas pesquisas: chegou à convenção empatado com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Talvez por isso tenha aumentado o tom das críticas ao governo, mas a reação da plateia foi mais fria que a dos militantes e convidados do partido que fizeram o lançamento da pré-candidatura, em fevereiro (PSDB, DEM e PPS). O formato deu à campanha imagens limpas para o programa de televisão. O custo foi uma convenção sem emoção.
A discussão sobre o vice de Serra ficou congelada à espera de uma decisão do ex-governador mineiro Aécio Neves. Sem Aécio, o DEM só vê justificativa para a indicação de um nome não demista se ele for de um partido que possa contribuir com mais tempo de televisão para Serra. Este seria o caso do PP, atualmente mais inclinado a ficar "solto".
Para deixar claro que não se trata de blefe, o deputado Rodrigo Maia, presidente do Democratas, já redigiu o edital de convocação da convenção democrata. Tem dois itens: aprovar a coligação com o candidato a presidente do PSDB, José Serra, e indicar o nome do candidato a vice-presidente da chapa tucana. O DEM já avisou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que Serra pode escolher quem quiser.
O DEM considera que seria uma "humilhação" o veto ao partido, sem uma "argumentação lógica": alguém que some eleitoralmente. O Valor apurou, no entanto, que a extensão da represália demista divide a sigla: ACM Neto (BA), por exemplo, acha que o DEM não deve radicalizar para ter o direito de indicar o vice. Maia e o ex-presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), estão na posição contrária. A decisão será de Serra. A expectativa é de uma solução até dia 20.
O deputado José Carlos Aleluia (BA) e a candidata ao Senado pelo Pará, Valéria Pires Franco, são dois nomes considerados no DEM, além do líder José Agripino (RN). As dificuldades dos tucanos se localizam no próprio Serra, que não mostra entusiasmo com um demista na chapa, e do partido, que precisa da vaga para acomodar questões que julga mais urgentes. Uma hipótese é a indicação do senador Álvaro Dias (SC), numa tentativa de desmontar a candidatura de Osmar Dias, irmão de Álvaro, ao governo do Estado pelo PDT com o apoio do PT. O Dias pedetista poderia até apoiar Serra.
Os arranjos eleitorais do PSDB também se revelaram vulneráveis e atrasados, segundo avaliação de convencionais e convidados do PSDB. Em parte, porque Serra demorou para confirmar que era candidato, mas também porque o PSDB privilegia seus interesses nos Estados, ao contrário do que o presidente Lula da Silva, por exemplo, fez com o PT em relação ao PMDB. O caso paranaense é típico: bastaria que o PSDB apoiasse Osmar e desistisse da candidatura própria de Beto Richa para conseguir montar um palanque forte no Estado.
"O vice, eu já tenho. Agora quero resolver o problema de Santa Catarina, Pará, Goiás....", dizia o presidente do DEM, Rodrigo Maia, à saída da convenção. Apesar da ameaça de não formalizar a coligação, o mais provável é que, se o vice não for demista, não haja rompimento da aliança nacional. "Mas isso causará um mal estar desnecessário e será uma humilhação para um aliado que sempre foi fiel", segundo avaliação feita na cúpula demista. O assunto será discutido em reunião da Executiva Nacional amanhã ou depois. "A confusão vai começar", diz um dirigente.
Há demandas entre PSDB e DEM em vários Estados. No Pará, onde os dois partidos já governaram juntos, as siglas não conseguem conciliar seus interesses. Valéria, bem posicionada nas pesquisas, é a candidata do DEM, posto do qual não abre mão o senador Flexa Ribeiro. Em Goiás o DEM está dividido, com a direção demista local contrária ao apoio à candidatura favorita de Marconi Perillo (PSDB). No Rio Grande do Sul, o DEM está brigado com a governadora Yeda Crusius (PSDB).
A falta de empolgação na convenção reflete a sensação que toma conta dos aliados. Há queixa da centralização da campanha por Serra. Ninguém conhece a estratégia da candidatura ou as diretrizes do programa de governo. A agenda do candidato é um mistério. As decisões são tomadas por ele às vezes na última hora. Não há interlocutores com autoridade para tomar decisões em nome dele.
Na avaliação da tropa, a campanha está repetindo erros que levaram à derrota de Serra em 2002 e de Alckmin em 2006. Há desatenção com os aliados nos Estados. Falta pulso para dirimir confrontos entre os parceiros nos Estados. Serra é apontado como alguém que "só se preocupa com o macro", sem levar em conta que campanha é feita de contatos, afagos, conversas.
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