Parece que a novela do vice de José Serra chegou ao seu capítulo final nesta quarta-feira (30). O candidato tucano à Presidência decidiu rifar o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e teve de engolir a exigência dos “democratas”, que indicaram o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) para a vaga. Serra queria evitar tal desfecho, já que o DEM (ex-PFL) ficou mal afamado após os escândalos do ex-governador Arruda, do Distrito Federal, filiado à legenda. O candidato a vice se apresenta como o relator do projeto da ficha limpa, mas também possui um currículo pouco recomendável.
Genro de Cacciola
O parlamentar carioca é casado com Rafaela Cacciola, filha do banqueiro ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola, proprietário do falido Banco Marka, que se meteu numa operação criminosa durante a crise cambial de 1999 (quando o real foi desvalorizado), foi condenado, fugiu para a Itália e hoje está encarcerado. O sogro cumpre pena por corrupção. Costa também é empresário, sócio cotista da Baqueta Participações LTDA, ligada à 3X, empresa de licenciamento de produtos. Antes de se eleger deputado, foi vereador e administrador regional do bairro de Copacabana e do parque do Flamengo. É indicação pessoal do ex-prefeito do Rio e cacique do DEM, César Maia, com quem mantém algumas relações perigosas.
Ligações perigosas
Maia e Costa são suspeitos de envolvimento no episódio de licitação viciada para fornecimento de merenda escolar na capital carioca em 2005. O fato ocorreu quando o genro de Cacciola era secretário Municipal de Administração e responsável pela licitação. O prefeito era César Maia. Segundo apurou o relatório da CPI criada pela Câmara Municipal para investigar a concoorência, que agora é objeto de inquérito policial na Delegacia Fazendária, o esquema de fraude na licitação se procedeu da seguinte forma: O edital da licitação tinha entre as regras atrair um número expressivo de participantes. Duas empresas, Milano e Ermar, agiram em jogo combinado para vencer. A Ermar apresentou recursos de impugnação contra todos os concorrentes, exceto contra a Milano, deixando caminho livre. Com isso, as regras do edital não foram atendidas. O secretário (nosso personagem Índio da Costa) tinha a obrigação de cancelar o processo e providenciar outra licitação. Mas ele fez o contrário, e a Milano acabou vencendo a licitação e ficando com 99% do fornecimento de gêneros alimentícios para a merenda.
Prejuízo milionário
Índio da Costa ainda levantou mais suspeitas ao insistir na contratação centralizada de fornecimento de merenda escolar quando, desde 2001, estudo da Controladoria Geral do Município CGM) recomendava a descentralização do sistema. Os cofres públicos municipais sofreram uma sangria de R$ 11 milhões quando houve a nova licitação, estendendo a participação a nove empresas fornecedoras de gêneros alimentícios.
Cabeça vazia e bolsos cheios
O ex-secretário nacional de Segurança Luiz Eduardo Soares traçou um breve e sugestivo perfil de Índio da Costa em seu twitter: “Jovem, bonitão, do Rio, rico, ligado a obras,empreiteiras e caixa de campanha, sem nada na cabeça ou nas mãos, mas muito nos bolsos: eis o vice!” A indicação do vice não pacificou as fileiras da candidatura tucana. Descartado, o senador Álvaro Dias disse que se sentiu usado. Seu irmão, Osmar Dias, também senador (PDT-PN), frustrou o plano dos tucanos ao sair candidato a governador do Paraná em coligação com o PT e garantir um bom palanque para Dilma Rousseff no Estado. A novela ajudou a evidenciar a precariedade das alianças costuradas por Serra. O martelo sobre o vice foi batido na casa do ex-governador, onde ele se reuniu com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o presidente dos “democratas”, Rodrigo Maia. A candidatura de Índio da Costa deve ser anunciada no final da Convenção do DEM, que está sendo realizada nesta quarta (30) em Brasília. Da redação Vermelho, Umberto Martins e Gustavo Álvares
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