segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ciência e preconceito

Considero de utilidade pública dois depoimentos de cientistas brasileiros sobre os textos publicados ontem na Folha de São Paulo, sob título geral “Fuga de cérebros tem via na contramão” http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1807201001.htm :
1. José Antonio Spinelli, cientista político, professor, pesquisador da UFRN, assim viu:
“É incrível, nos textos não há uma palavra sobre as ciências humanas: o que fica implícito é que ciência mesmo só as das áreas de exatas, tecnológicas e biomédicas (as chamadas ciências "duras"). Mas há outro preconceito praticamente explícito: contra o brasileiro; nenhum cientista brasileiro foi ouvido.
É verdade: em todos os depoimentos vislumbra-se um preconceito contra o brasileiro. Então, por que esses caras vieram pra cá? Engraçado que nos depoimentos eles ressaltam virtudes nossas, mas são duros quando avaliam explicitamente: casam-se com brasileiras (casar é uma decisão crucial na vida de qualquer pessoa, afeta tudo na vida, inclusive a carreira profissional, as escolhas, quase tudo; provavelmente é a decisão de vida que afeta todos os aspecto vitais de um ser humano), elogiam a disposição do brasileiro para fazer amizades (outra questão vital, que influi na qualidade de vida) e reconhecem que a ciência brasileira (ou o que eles consideram ciência) está avançando, já seria a melhor da América Latina etc. etc.
Não estou negando nossos defeitos (ou supostos defeitos?): o descaso com horários, a dificuldade para tomar decisões "duras". O que é uma decisão "dura": demitir uma pessoa, por exemplo. Não acredito que isso seja defeito; é um cuidado com a preservação das pessoas; talvez exageremos um pouco, mas acho que traços apontados como defeitos devem ser vistos por outro lado (toda moeda tem dois lados). Os caras dos depoimentos à FSP demonstram essa incapacidade de ver "dois lados", de perceber virtudes onde aparentemente só há defeitos ou de apreender o caráter multifacetado das coisas humanas..”.
2. Otaciel de Oliveira Melo, geólogo, Doutor em Petrologia, professor da UFC:
“Durante o governo FHC a Universidade Pública foi totalmente sucateada. Você enviava um projeto de Pesquisa para o CNPq e o comitê que escolhia os melhores respondia: ‘a sua proposta de trabalho é boa, mas não temos recursos para financiá-la’. Era assim, projeto após projeto. Isso para não falar nas informações privilegiadas, ou seja:
Os grupos emergentes de pesquisa, das universidades nordestinas, por exemplo, nunca eram beneficiados. Quando os editais chegavam à Universidade Federal do Ceará, os professores tinham 72 horas para elaborar todo o projeto, preencher uma quantidade enorme de formulários, essa coisa toda. Todos os anos a coisa se repetia dessa maneira. Ao longo desse tempo, muitos professores desistiram de ser pesquisadores e muitos dos que gostariam de ser, também. Agora, no segundo mandato do Lula, as coisas são muito mais transparentes. Não quero dizer que todos os projetos sejam aprovados. Mas todo o mundo tem acesso ao edital na hora em que ele é lançado no site de qualquer órgão de fomento à pesquisa. Portanto, a coisa esta muito mais transparente e com muito mais recursos financeiros.
As Universidades Públicas contam agora com muito, mas muito mais recursos.”

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