terça-feira, 27 de julho de 2010

Serra faz campanha com “figurino de direita” e discurso do medo

“O comando da campanha de José Serra (PSDB) colocou o medo no centro da disputa presidencial”, com o intuito de “criar fantasmas na cabeça do eleitor para tirar votos da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff”. Assim começa a matéria de capa da revista IstoÉ desta semana, em denúncia sobre os “velhos fantasmas” a que a campanha tucana recorre para ganhar a eleição.
Por André Cintra
O texto, assinado por Alan Rodrigues e Sérgio Pardellas, dá dicas preciosas de como o PSDB quer vencer a eleição na baixaria. Consciente de que não é mais o candidato favorito à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra subverteu sua campanha com uma guinada à direita. A fase “Serrinha paz e amor” — que incluía até elogios descaradamente oportunistas ao “presidente que está acima do bem e do mal” — ficou para trás.
A escalada reacionária da campanha da oposição vai se consolidando, dia após dia, nas ações e nos discursos do próprio presidenciável tucano. Na verdade, “a tentativa do PSDB de criar uma atmosfera de satanização do PT e de sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff, é inteiramente planejada, ao contrário do que poderia parecer”, afirma a IstoÉ.
Agressão e calúnia
Os disparates contra a candidata Dilma Rousseff, o PT e o governo Lula já existiam desde a pré-campanha, bem como a hostilidade ao Mercosul, o repúdio à entrada na Venezuela no bloco, críticas gerais a Cuba e a acusação leviana de que o presidente boliviano, Evo Morales, é cúmplice do narcotráfico. Agora, no entanto, Serra deu vazão a uma postura ainda mais agressiva e, por vezes, caluniosa. Os alvos: os movimentos sociais — sobretudo o MST — e os governos progressistas da América Latina.
“Tudo começou com a surpreendente entrevista do vice de Serra, Indio da Costa (DEM), dizendo a um site do partido que o PT é ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao narcotráfico”, lembra IstoÉ. “Num primeiro momento, lideranças partidárias passaram a ideia de que Indio era apenas uma voz isolada – além de descontrolada e inconsequente. Aos poucos, porém, foi ficando claro que ele cumpria um script previamente combinado. Muito bem orientado pelos caciques do PSDB e DEM, o vice de Serra servia de ponta de lança para uma estratégia de campanha: o uso da velha e surrada tática do medo.”
Indio da Costa, dias depois, associou o PT ao Comando Vermelho. Serra, ele próprio, entrou na parada e retomou o suposto elo PT-Farc. “Há evidências mais do que suficientes do que são as Farc. São sequestradores, cortam as cabeças de gente, são terroristas. E foram abrigados aqui no Brasil. A Dilma até nomeou a mulher de um deles”, disse o inconsequente candidato à Presidência.
Preconceito com a América Latina
A revista ainda previu que o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, seria o próximo alvo da artilharia serrista. Não deu outra. Nesta segunda-feira (26), num almoço em São Paulo com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Serra deixou claro que, num eventual governo seu, o Itamaraty vai atropelar os vizinhos sul-americanos e inviabilizar a integração da América Latina. Será uma inflexão nos esforços brasileiros para fortalecer a ascensão de governos progressistas e soberanos na região.
Chamando Chávez de “partidário do espetáculo”, Serra recorreu à grosseria para dizer que o líder da Revolução Bolivariana “vai criando fatos que ameaçam a estabilidade da América do Sul, da Latina e do Brasil”. Era uma referência ao conflito Colômbia-Venezuela, desencadeado, na realidade, por uma declaração arrogante do presidente colombiano em fim de mandato, o ultradireitista Álvaro Uribe.
Numa demarcação ideológica cínica e inconfundível, Serra responsabiliza apenas Chávez pelo impasse, mas não dá uma única palavra sobre a figura desestabilizadora que é Uribe — o chefe de Estado sul-americano que mais se aliou aos Estados Unidos nesta década. O tucano demonstra que nada teria a se opor à submissão de um país como a Colômbia (e talvez o próprio Brasil) à Casa Branca, ao controle norte-americano sobre bases militares instaladas no continente e à reativação da 4ª Frota. A histórica atuação da política externa do Brasil na questão nuclear iraniana também é relativizada por Serra — que prefere pensar unilateralmente em como esvaziar a liderança de Chávez. “É inegável que, se (o governo Lula) tivesse gasto o tempo que gastou no Oriente Médio na América do Sul, poderia ter evitado situações como essas (o conflito Colômbia-Venezuela).” A resposta a tamanho despautério foi dada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, ao jornal O Estado de S.Paulo. Segundo o petista, “Serra está caindo no ridículo. Esse figurino de direita troglodita não assenta bem nele”. Para Dutra, o tucano ficou refém dos “falcões do DEM”. De candidato DA direita, José Serra passou a se assumir também um candidato DE direita.
MST
Já ao discorrer sobre os movimentos sociais, Serra revela que não terá pudor em criminalizar e perseguir as entidades. Diálogo com lideranças sociais? Em hipótese alguma! Aos empresários do Lide, Serra reafirmou sua tese conspiratória segundo a qual o Brasil está “numa era de exacerbação de um patrimonialismo sindicalista” — seja lá o que isso queira dizer na prática. Respeito ao sindicalismo certamente não é. O preconceito se eleva contra o MST. Serra declara que, com Dilma na Presidência, os sem-terra “vão poder fazer mais invasões, mais agitação. É isso. Postura de governo em relação ao MST é que se trata de um movimento político e tem de viver pelas próprias pernas e não pode subverter a ordem democrática”. É a versão moderna de um dos lemas mais conhecidos da República Velha — “a questão social é caso de polícia”.
Jaime Amorim, coordenador regional do MST, resumiu bem o rumo que Serra tomou em sua campanha: “Ele tem postura conservadora, de extrema direita”. Já o MST, em nota emitida ainda na segunda-feira, disparou que a coalizão pró-Serra “pretende implantar em nível nacional suas políticas repressoras, tal como fez no estado de São Paulo em relação aos professores, sem-teto, sem-terra”. A candidatura demo-tucana simboliza “retrocessos sociais”, agrega o movimento. “José Serra tenta criar um clima de terrorismo eleitoral, se vale de ameças e tenta criar um clima de raiva contra o MST porque não possui um projeto que de fato possa garantir a vida digna dos trabalhadores rurais e urbanos.” Portal Vermelho.

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