sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vivam a várzea e o socialismo


Walter Venturini


O modismo dos anos 1980 ainda persiste na imaginação de muita gente

Entre 1980 e 2000 se tornou moda falar do fracasso do socialismo. A primeira golfada era a queda do muro de Berlim, como se os burocratas da antiga Alemanha Oriental ou da ex-URSS fossem os autênticos representantes da luta dos trabalhadores. Ou por ignorância (o que duvido na maior parte dos casos) ou por má fé, esqueciam que a Revolução Russa faz parte da evolução política e social da humanidade assim como a Revolução Francesa ou o Renascimento. Talvez a diferença seja que a classe dominante que foi golpeada em 1917, a burguesia, tenha conseguido um sobrefôlego. Sim, quando falamos em tempo histórico, um sobrefôlego pode durar décadas. É só lembrar que o Império Romano teve um sobrefôlego de mais alguns séculos após a rebelião de Espartaco, que questionava a sociedade de classes da época.

Essa talvez seja a maior maldade do comentário de Marcelo Moreira, aparentemente sobre a Copa do Mundo, mas que preparou a alfinetada no final do texto que o leitor pode acessar no blog do acima citado, disponível em nosso site.

Em matéria de futebol ou mesmo esporte, estou com o professor Luiz Roberto Alves, que também (e felizmente) costuma frenquentar este site e já escreveu sobre a comercialização desse esporte, que implica na perda da espontaneidade do ser humano. É só ir a algum jogo do campeonato amador em São Bernardo para ver o que é esporte e vida, muito distante do teatro comercial promovido pelas grandes corporações.

Voltando à maldade de Moreira sobre o socialismo, fico pensando na situação dos aposentados gregos, dos assalariados espanhóis, portugueses, franceses, irlandeses e de outros países europeus. Será que o capitalismo pode oferecer esperança para essas pessoas? Entendo que não. Os pragmáticos de curto prazo vão dizer: o que propõe então?

Proponho que seja feito o que o governo brasileiro praticou desde 2003. Acho que é um bom começo. Valorizar o mercado interno, aumentar o salário dos trabalhadores (e aí destaco o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, que formulou a recuperação do poder de compra do salário mínio quando era ministro do Trabalho), procurar novos parceiros comerciais, a começar pelos países do Mercosul, condomínio econômico achincalhado pelo tucano José Serra. Talvez os que malham o Mercusul se esqueçam que as exportações brasileiras para esses países têm maior valor agregado do que as celebradas com os países desenvolvidos. Em outras palavras, o Brasil vende equipamentos, veículos, aviões pra o Mercosul, enquanto exporta minério de ferro e soja para china e Estados Unidos. Resumo da ópera: exportar para o Mercosul gera mais emprego no Brasil do que vender suco de laranja para os Estados Unidos ou carne para a China ou a Europa.

Proponho que o governante invista nos mais carentes, faça coisas como o Bolsa-Família, chamado de forma debochada pelos tucanos como Bolsa-Esmola. Sabemos agora que algumas dezenas de milhões de pessoas saíram da pobreza por causa de programas como o Bolsa-Família. Gostaria que o Brasil continuasse a criar universidades federais, gratuitas, como a UFABC, que abre para nossa Região oportunidades humanas e tecnológicas inimagináveis. Gostaria que o poder público investisse muito mais em habitação popular, transporte coletivo, sistema gratuito de saúde, e outras coisas que foram esquecidas durante séculos pelos governantes.

Se isso é socialismo, sou socialista e quero que o capitalismo acabe o mais rápido possível. Quanto ao futebol. Só posso dizer que pretende assistir mais os jogos da várzea, porque é lá que está a alegria.

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