Se tem alguém na oposição que não deve ter se surpreendido com os números do novo Datafolha, que colocam Dilma Rousseff oito pontos à frente na corrida presidencial, e a três de vencer no primeiro turno, certamente é o candidato José Serra. Político que bota a maior fé nas pesquisas, principalmente nas qualitativas, que indicam tendências, o ex-governador trabalha com levantamentos quase diários sobre o humor dos eleitores. Este Datafolha divulgado na noite de sexta-feira, afinal, apenas confirma o que os outros institutos vêm apontando já faz algumas semanas: a candidata de Lula pode vencer as eleições de 2010 no primeiro turno.
Foi exatamente por sempre trabalhar baseado nas pesquisas que José Serra demorou tanto para assumir a sua candidatura a presidente da República. Aquela história toda de que precisava governar São Paulo até o último dia para não ser acusado de fazer campanha antecipada, como a sua concorrente petista, escondia na verdade uma profunda indecisão, o temor de entrar num barco furado antes de começar a navegar. Em conversas com amigos do ninho demotucano de São Paulo, ficava sabendo do dilema de Serra ser ou não ser candidato, mesmo quando as pesquisas do começo do ano lhe eram favoráveis. Mais do que ninguém, ele dispunha de projeções sobre o que aconteceria no cenário eleitoral à medida em que mais eleitores identificassem Dilma como a candidata de Lula, um presidente que chegava a quase 80% de aprovação.
Por mais que ser presidente fosse o seu grande projeto de vida e tenha se preparado para isso durante tantos anos e mandatos, como sempre fez questão de proclamar, no íntimo Serra sabia que esta seria uma batalha inglória e ficou numa dúvida cruel. Mais seguro seria disputar outro mandato de governador em São Paulo, com a reeleição praticamente assegurada. O problema é que antes mesmo de 2009 acabar, Aécio Neves havia jogado a toalha da candidatura presidencial e deixou claro que não aceitava ser vice na chapa de Serra em hipótese alguma. A oposição ficou sem alternativa _ era Serra ou Serra. Desistir de concorrer e abrir mão da candidatura a presidente para ficar como governador poderia parecer um ato de fraqueza que mancharia para sempre sua biografia.
A partir daí, Serra ficou naquela situação de se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. Pela segunda vez, ele entraria numa campanha presidencial na contra-mão do sentimento popular. Em 2002, a maioria queria mudança, e Serra foi o candidato da continuidade do governo FHC; agora, satisfeita com a situação do país, a maioria da população quer a continuidade do governo Lula, e ele surge como o candidato da mudança.
Para completar, logo no começo da campanha, aconteceu aquela lambança no episódio da indicação do vice, com a chapa puro-sangue que Serra queria sendo implodida pelo principal aliado, o DEM, que ameaçou abandonar o barco. Já no fim do prazo para a inscrição da chapa, acabaram substituindo o senador tucano Álvaro Dias pelo deputado federal Índio da Costa, do DEM do Rio de Janeiro,que nem Serra conhecia direito. A jogada marqueteira também não deu certo e, depois das suas primeiras declarações destrambelhadas, o jovem vice sumiu de cena. A esperança foi então depositada nos debates e entrevistas na televisão em que José Serra tem mais experiência do que os concorrentes e poderia levar vantagem. Também não funcionou até agora.
A 50 dias das eleições, só resta aos líderes da oposição jogar todos os seus trunfos na propaganda no rádio e na televisão, que começa na próxima terça-feira, para ainda sonhar com uma virada. A idéia inicial de chegar a esta etapa decisiva da campanha abrindo uma boa vantagem sobre Dilma, com gorduras para queimar quando Lula fosse aparecer com sua candidata na TV, foi sepultada pela pesquisa Datafolha. Aconteceu o contrário. Agora, o mais provável é que a “boca do jacaré” das pesquisas abra ainda mais, com Dilma subindo e Serra caindo, como as curvas de todos os institutos estão demonstrando. Em todas as campanhas presidenciais pós-democratização até agora, quem estava na frente na estréia do horário de propaganda política acabou vencendo no final.
Na semana passada, após a divulgação do Ibope, com Dilma cinco pontos na frente, escrevi aqui: a pergunta que resta fazer é se haverá ou não segundo turno. E é isto que estará em discussão nas próximas semanas até a abertura das urnas eletrônicas. Os piores pressentimentos de Serra no começo do ano estão se confirmando. Só um tsunami político pode reverter este quadro. O jogo está jogado. Ricardo Kotscho
Por mais que ser presidente fosse o seu grande projeto de vida e tenha se preparado para isso durante tantos anos e mandatos, como sempre fez questão de proclamar, no íntimo Serra sabia que esta seria uma batalha inglória e ficou numa dúvida cruel. Mais seguro seria disputar outro mandato de governador em São Paulo, com a reeleição praticamente assegurada. O problema é que antes mesmo de 2009 acabar, Aécio Neves havia jogado a toalha da candidatura presidencial e deixou claro que não aceitava ser vice na chapa de Serra em hipótese alguma. A oposição ficou sem alternativa _ era Serra ou Serra. Desistir de concorrer e abrir mão da candidatura a presidente para ficar como governador poderia parecer um ato de fraqueza que mancharia para sempre sua biografia.
A partir daí, Serra ficou naquela situação de se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. Pela segunda vez, ele entraria numa campanha presidencial na contra-mão do sentimento popular. Em 2002, a maioria queria mudança, e Serra foi o candidato da continuidade do governo FHC; agora, satisfeita com a situação do país, a maioria da população quer a continuidade do governo Lula, e ele surge como o candidato da mudança.
Para completar, logo no começo da campanha, aconteceu aquela lambança no episódio da indicação do vice, com a chapa puro-sangue que Serra queria sendo implodida pelo principal aliado, o DEM, que ameaçou abandonar o barco. Já no fim do prazo para a inscrição da chapa, acabaram substituindo o senador tucano Álvaro Dias pelo deputado federal Índio da Costa, do DEM do Rio de Janeiro,que nem Serra conhecia direito. A jogada marqueteira também não deu certo e, depois das suas primeiras declarações destrambelhadas, o jovem vice sumiu de cena. A esperança foi então depositada nos debates e entrevistas na televisão em que José Serra tem mais experiência do que os concorrentes e poderia levar vantagem. Também não funcionou até agora.
A 50 dias das eleições, só resta aos líderes da oposição jogar todos os seus trunfos na propaganda no rádio e na televisão, que começa na próxima terça-feira, para ainda sonhar com uma virada. A idéia inicial de chegar a esta etapa decisiva da campanha abrindo uma boa vantagem sobre Dilma, com gorduras para queimar quando Lula fosse aparecer com sua candidata na TV, foi sepultada pela pesquisa Datafolha. Aconteceu o contrário. Agora, o mais provável é que a “boca do jacaré” das pesquisas abra ainda mais, com Dilma subindo e Serra caindo, como as curvas de todos os institutos estão demonstrando. Em todas as campanhas presidenciais pós-democratização até agora, quem estava na frente na estréia do horário de propaganda política acabou vencendo no final.
Na semana passada, após a divulgação do Ibope, com Dilma cinco pontos na frente, escrevi aqui: a pergunta que resta fazer é se haverá ou não segundo turno. E é isto que estará em discussão nas próximas semanas até a abertura das urnas eletrônicas. Os piores pressentimentos de Serra no começo do ano estão se confirmando. Só um tsunami político pode reverter este quadro. O jogo está jogado. Ricardo Kotscho
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