Análise: José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Dilma Rousseff (PT) virou no Sudeste. A petista lidera na região que é o maior colégio eleitoral do país por 41% a 32%. Na pesquisa anterior do Ibope, há menos de 10 dias, ela estava empatada em 35% com José Serra (PSDB) na região. E, no final de junho, estava cinco pontos atrás do tucano.
A despeito das margens de erro maiores (porque a amostra regional é menor que a nacional), a tendência de evolução das intenções de voto no Sudeste é consistente. E surpreendente. No primeiro turno de 2006, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu para Geraldo Alckmin (PSDB) por 820 mil votos de diferença na região.
Essa virada de Dilma deve-se ao aumento da vantagem da petista no Rio de Janeiro, à manutenção de uma pequena margem em Minas Gerais e a um surpreendente empate em São Paulo, onde Serra era governador até abril.
Como as margens de erro são grandes, esses resultados devem ser vistos com cautela, mas a sua repetição e intensificação a cada pesquisa são um sinal de que o tucano tem um problema grande a resolver.
O Sudeste e o Nordeste (onde Dilma ampliou a vantagem de 19 para 29 pontos em pouco mais de uma semana) são os locais onde Serra mais fez campanha nos últimos meses e semanas.
Soma-se a isso o fato de que os dois candidatos foram vistos por cerca de um quarto dos eleitores em suas entrevistas ao Jornal Nacional da TV Globo. E que, na avaliação dos eleitores, o desempenho de Dilma não foi superior (23% de ótimo/bom, contra 20% do tucano) a ponto de justificar o crescimento tão agudo da sua vantagem.
Uma hipótese que parece cada vez mais consistente é que o aumento da exposição de Serra, via eventos de campanha e em debates e entrevistas na TV, faz aumentar o contingente de eleitores que o vê como candidato de oposição. E ele perde votos com isso, porque 78% acham o governo ótimo ou bom.
Essa hipótese ganha força ao se notar o perfil dos eleitores que trocaram o tucano pela petista: são principalmente mulheres e eleitores de baixa renda e pouca escolaridade, que provavelmente aumentaram seu grau de informação sobre a disputa após os debates e entrevistas na TV.
Antes disso, é possível que uma parte desses eleitores não soubesse que Lula apoia Dilma.
Outro indicador: Dilma só ganha de Serra entre os que dão nota 8, 9 ou 10 ao governo. Só que estes são 68% do eleitorado, e a vantagem da petista entre eles é cada vez maior.
Resta ao tucano olhar para a história recente da sucessão presidencial e torcer para que ela se repita. Em 2006, Lula tinha 55% dos votos válidos antes de começar o horário eleitoral na TV e no rádio. Acabou com 48,6% dos válidos e precisou disputar o segundo turno contra o tucano.
Mas Lula tinha menos tempo de propaganda que Alckmin, e a avaliação de seu governo não era tão positiva quanto é hoje. Desta vez, Dilma tem quase uma vez e meia o tempo do candidato tucano. Serra ainda terá contra ele as expectativas do próprio eleitorado. A maioria absoluta, 51%, acredita que Dilma será eleita presidente. Seus eleitores estão mais confiantes do que o do tucano. Essa percepção costuma se desdobrar em maiores dificuldades para obter financiamento de campanha.
É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM ESTATÍSTICAS
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