domingo, 17 de abril de 2011

Dilma conquista avanços na China

Gabriel Bueno da Costa - Agência Estado: São Paulo - A visita de Estado protagonizada pela presidente Dilma Rousseff à China, bastante concentrada na área comercial e em investimentos, pode marcar uma nova fase nas relações bilaterais, segundo analistas consultados pela Agência Estado. Eles consideram que a iniciativa foi em geral bem-sucedida, com anúncios de investimentos de empresas chinesas no Brasil e a aproximação com um dos mais importantes parceiros do País. “A viagem pode estar marcando uma nova fase entre Brasil e China, porque até agora o grande crescimento havia sido no campo comercial, mas na área de investimentos não era tão relevante”, afirma, em entrevista por telefone, o professor de Relações Internacionais Alexandre Uehara, das Faculdades Integradas Rio Branco.
Uehara diz que, em 2004, quando o presidente chinês, Hu Jintao, visitou o Brasil, houve algumas promessas de investimento, “mas neste momento (atual) se percebe que empresas chinesas estão anunciando investimentos de fato”. “Há uma trajetória crescente no intercâmbio entre os dois países”, avalia outro professor consultado, Marcos Cordeiro, especialista em História Econômica e Economia Política da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
“Se olharmos para a questão comercial, ou para os acordos que foram firmados, é possível ver que ocorreram avanços não só de incremento e tentativa de diversificação do comércio, mas também uma certa boa vontade dos chineses”, diz Cordeiro, citando o caso da Embraer.
A empresa brasileira anunciou esta semana a venda de 20 aviões à China Southern, além de conseguir a garantia de que manterá sua fábrica em Harbin, após conseguir licença do governo chinês para produzir jatos executivos Legacy. Cordeiro cita ainda os protocolos para se buscar uma diversificação dos investimentos chineses no País. Um dos objetivos declarados da viagem de Dilma era trazer também investimentos em setores de tecnologia, não apenas em commodities. Foi anunciado um aporte da Foxconn de US$ 12 bilhões no Brasil, em seis anos, na área de tecnologia da informação. O investimento deve ser para a instalação de uma fábrica para produzir telas para celulares de última geração e iPads.
“O Brasil quer elevar a relação com a China para um novo patamar, e sinalizou isso”, diz a professora de Relações Internacionais Danielly Ramos Becard, da Universidade de Brasília (UnB). A intenção brasileira, segundo ela, é não exportar apenas commodities, mostrar mais rigor com dumpings e atrair investimentos em setores mais sofisticados, como os anunciados em nanotecnologia. Um dos acordos bilaterais prevê a criação de um Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia.
Cabe ao Brasil fazer o dever de casa, diz analista
A professora Danielly Ramos Becard, lembra que o Brasil quer exportar produtos de maior valor agregado. Cabe ao País, para tanto, diz ela, fazer seu “dever de casa”, com melhorias em infraestrutura e no sistema tributário, por exemplo. Conforme o Brasil avançar nesses aspectos, Becard acredita que as relações passarão a ser mais competitivas. Becard lembra que as relações diplomáticas entre Brasil e China foram estabelecidas oficialmente em 1974. Nos anos 1990, essa relação floresceu, com o fim da Guerra Fria e maior abertura comercial. Na década seguinte, a China se fortalece como ator global, e a relação ganha importância crescente, prossegue a professora. A China já tem bastante interesse em setores como energia, minérios e em produtos agropecuários para exportação, cita a professora. Mas, além disso, o Brasil também almeja investimentos em áreas como o pré-sal, o desenvolvimento de alta tecnologia e em pesquisas, enumera Becard. Dilma também participou, durante a visita ao país asiático, de uma cúpula dos BRICS, grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No encontro, essas nações anunciaram a intenção de financiar investimentos com as moedas locais, evitando o dólar. Um grande avanço nas transações em moedas locais, porém, ainda é um cenário distante, segundo os pesquisadores consultados. Cordeiro lembra que, na história econômica, “uma mudança de padrão monetário é muito difícil e demanda muito tempo”. Segundo ele, o anúncio dos BRICS tem um caráter político, sinalizando que o G-20 “deve fazer algo mais por uma ordem monetária estável”. “Do ponto de vista prático, é pouco provável que num espaço de cinco anos haja alguma grande modificação no sentido de suplantar o dólar”, avalia Cordeiro, citando também a própria força que os EUA ainda têm. Uehara diz que a conversão das moedas para o dólar gera um custo extra para as empresas, mas no curto prazo é difícil haver uma mudança nesse cenário. Mesmo porque, na opinião dele, a China não parece disposta no momento a liderar um movimento para deixar o dólar em segundo plano.

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