domingo, 24 de abril de 2011

LULA E FHC

Érico Firmo - ericofirmo@opovo.com.br - O Povo
Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em suas convergências e contradições, explicam o que é hoje o Brasil. Suas escolhas políticas construíram o País atual.
Do ponto de vista administrativo, representam escolas antagônicas. FHC, o saber autorizado, a excelência gerencial. Lula é a intuição, a experiência prática. E a crença de que a política é feita por escolhas, que não são apontadas por um conhecimento técnico distanciado, mas pelo calor do contato com o cotidiano da vida brasileira. Ambos narcisistas, como regra em políticos de tal expressão, assim, têm suas ações pautadas tanto pela vaidade quanto pelas perspectivas que têm sobre governar.
Lula jogou, manobrou e, em parte, conseguiu transformar a eleição do ano passado no que se denominou de campanha “plebiscitária”. Ou seja, uma disputa pautada no debate sobre o governo que se encerrava. A estratégia foi bem-sucedida apenas em parte porque, no meio do caminho, entrou Marina Silva (PV).
Seja como for, a tese fazia todo sentido. Em praticamente qualquer indicador, Lula leva vantagem sobre FHC. Na comparação direta, o governo petista se mostra muito melhor que o tucano. Eleitoralmente, portanto, tal caminho estava corretíssimo. Do ponto de vista do julgamento histórico, tal método de análise, todavia, é injusto.
É natural e deveria ser o mínimo a se esperar que cada governo fizesse mais que o do antecessor. Claro que a realidade não é tão simples. A história está cheia de retrocessos. No entanto, para ser justo na avaliação de um governante, é necessário avaliar o que existia antes e o que foi feito a partir da base que foi deixada. Para além da mera comparação entre quem fez mais, simplesmente, o ideal é que se analise quem avançou mais em relação ao que havia antes. Sob esse ponto de vista, a comparação entre Lula e FHC torna-se mais complexa.

FHC, ao chegar ao poder, encontrou a institucionalidade do País em frangalhos. Após os atribulados anos de José Sarney, Collor de Mello e do mandato tampão de Itamar Franco, a democracia brasileira não conseguira, até então, reorganizar sua vida política ou consolidar instituições. Bem ou mal, correto politicamente ou não, foi FHC quem reorganizou essa infraestrutura – quem criou a base sobre a qual Lula governou.
O maior símbolo disso – mas não o único – talvez seja a Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, há outros grandes legados, alguns dos quais – longe de apagar os diversos equívocos – não encontram realizações à altura no governo de Lula.
Ou algum feito do último governo teve a dimensão do alcance social da drástica redução da mortalidade infantil? Ou da universalização do ensino fundamental? É fato que essa expansão ocorreu comprometendo a qualidade da educação. Mas essa qualificação está longe de ser simples – tanto que, oito anos depois, tampouco Lula conseguiu avançar significativamente. Outra inegável contribuição da administração tucana foi a criação do Fundef – aperfeiçoado pelo governo petista, que criou o Fundeb.
Pouco para oito anos? Sem dúvida. Aquém do conjunto do que Lula realizou? Fato. Mas são contribuições sem as quais muito do que o governo passado deixou para a história não poderia ter sido feito.

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