O recente acidente nuclear na usina japonesa de Fukushima trouxe à tona o debate sobre as vantagens e os riscos da energia nuclear
Chernobyl, Three Mile Island e agora Fukushima são três fantasmas que nos assombram sempre que o assunto é energia nuclear. Em comum, todos trazem no rastro destruição e mortes, o que inviabiliza, a princípio, qualquer discussão ou avaliação positiva sobre o tema. Ao contrário de muitos acidentes naturais ao redor do mundo, sequer podemos dar de ombros, pois também temos nosso calcanhar de Aquiles representado pelas usinas de Angra I e Angra II, com uma produção de apenas 13 GWh. Embora não estejamos no clube dos grandes produtores, possuímos uma das maiores reservas de urânio do mundo, o que representa um imenso potencial para energia nuclear.
Instaladas estrategicamente à beira-mar, entre três grandes centros consumidores – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais –, as usinas brasileiras não representam grandes riscos, em tese. Por sua localização, utilizam água do mar, em abundância, no processo de resfriamento dos reatores, conforme o engenheiro nuclear Rubens Teixeira. “Cabe ressaltar que, por uma diferença de projeto em relação à usina japonesa de Fukushima, as brasileiras não contaminam a água usada no resfriamento e troca de calor do reator”, destaca. Ele garante que a questão da segurança nuclear é levada muito a sério pelo governo brasileiro. Ela está nas bases da pesquisa em Engenharia Nuclear, nos programas de pós-graduação sobre este tema no País.
No entanto, para muitas pessoas, energia nuclear continua sendo um mistério, ao contrário das demais, elétrica, solar ou eólica. Um dos modos de produzi-la, é por meio da quebra do núcleo de átomos, bombardeando-os com nêutrons, reação conhecida como fissão nuclear. Por ser muito concentrada, exige cuidados especiais para que não seja liberada em grandes quantidades e cause danos. “Esta quebra libera energia que, sendo controlada, como no caso dos reatores, é bastante benéfica para a sociedade. Esta energia também aparece, naturalmente, em átomos cujos núcleos estão tão densos que espontaneamente emitem energia na tentativa de se equilibrar, é o que chamamos de decaimento radioativo”, explica o especialista.
Medicina
À exceção dos fins bélicos, o Brasil utiliza energia nuclear em todas as aplicações possíveis. Por exemplo: para verificação da integridade das cintas de aço na radiografia de pneus; e na indústria alimentícia, para eliminação de micro-organismos em especiarias. Além disso, é usada na medicina em diagnósticos (raios X e tomografia por emissão de pósitrons), tratamentos (radioterapia) e na esterilização de instrumentos cirúrgicos. Segundo Teixeira, os átomos têm esta propriedade, por isso são comumente indicados em tratamentos médicos, como os de tireóide e próstata.
Aliás, a energia nuclear utilizada sob a forma de radiações ou em pesquisas, é de fundamental importância para o avanço na luta contra o câncer e outras doenças. A radiação nuclear permite o diagnóstico precoce com elevada precisão, no caso de diversos cânceres ou mesmo no combate a eles, conforme Teixeira. Por meio da radioterapia, consegue-se destruir células malignas com muita precisão sem afetar outras partes do corpo. As radiações e seus efeitos são também comuns nos casos de transplante de medula. Antes dele, irradia-se o paciente de corpo inteiro para que seu sistema imunológico enfraqueça e não combata o novo material biológico a ser transplantado.
Além dos ambientes científicos ou hospitalares, a radiação nuclear também está presente na atmosfera, nos mares, e em toda a superfície terrestre. “A radiação natural ocorre em doses que o ser humano já está naturalmente adaptado e não exige cuidados especiais. É o que se denomina radiação de fundo natural”, diz o engenheiro. Já nos casos de exames radiológicos, mesmo em níveis baixos, são necessários alguns cuidados. Caso a dose seja aumentada, crescem também os riscos e a possibilidade de alguns danos à saúde, como queimaduras e náuseas.
Energia limpa
Embora deixe restos radioativos, a energia nuclear é considerada limpa, pois não provoca gases poluentes e danos ao meio ambiente. Além disso, Teixeira garante que, nos dias atuais, há tecnologia para reaproveitamento desses rejeitos de mais alta intensidade. “Quando há rejeitos que não se pretende utilizar, pode-se construir reservatórios e deixá-los confinados, sem riscos para o ambiente, enquanto não se desenvolve tecnologia que os aproveite.”
Em comparação com outras energias, a nuclear leva algumas vantagens. A eólica, por exemplo, gerada pelo vento, também é limpa, mas traz a desvantagem da oscilação dos ventos. “Quando não há vento, não há energia ou há limitação na produção”, confirma o cientista. A energia solar, por sua vez, tem um custo muito elevado. Ela é inviável para uso em larga escala, em função da grande área de contato e da limitação de recursos, como luminosidade da área de instalação que também é função do clima. Segundo ele, tanto uma quanto a outra dependem de sistemas de baterias para armazenamento de energia, o que pode gerar danos ambientais.
Atualmente, a energia nuclear compete com a energia térmica derivada de carvão, que é altamente poluente, porque libera gases de efeito estufa. “Ainda que haja tecnologia para reduzir os efeitos nocivos, a eficiência de uma usina a carvão é milhares de vezes menor que a de uma termonuclear”, afirma Teixeira.
Produtores
O Brasil é privilegiado por dispor de diversas alternativas energéticas. “A matriz energética de um país é uma escolha estratégica do governo, com base no que há disponível e no que se entende por melhor. Como temos potencial para a energia nuclear, temos tecnologia, não vejo porque desprezá-la e deixar de considerá-la como uma forma de energia vertente na matriz energética brasileira”, observa o engenheiro. E sem riscos, pois a França tem cerca de 75% da sua energia de origem nuclear, nem por isso Paris deixou de ser um dos maiores polos turísticos do mundo.
França, Estados Unidos e Japão são atualmente os maiores produtores de energia nuclear e também os maiores consumidores. Conforme Teixeira, os riscos ambientais de uma usina são compatíveis com diversas atividades, como a de dirigir um carro, voar em aviões de carreira e operação de uma fábrica, entre outras. “A maioria dessas atividades agride o meio ambiente mais do que uma usina nuclear em função de diversos fatores, como cotas de emissão de carbono, lixo orgânico humano, dejetos etc.”
França, Estados Unidos e Japão são atualmente os maiores produtores de energia nuclear e também os maiores consumidores. Conforme Teixeira, os riscos ambientais de uma usina são compatíveis com diversas atividades, como a de dirigir um carro, voar em aviões de carreira e operação de uma fábrica, entre outras. “A maioria dessas atividades agride o meio ambiente mais do que uma usina nuclear em função de diversos fatores, como cotas de emissão de carbono, lixo orgânico humano, dejetos etc.”
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