Quem a manda ser aliada de Agripino Maia.
"Breve é a loucura, longo é o arrependimento". Atribuída ao filósofo alemão Friedrich Schiller (1759-1805), a frase traduz bem o sentimento predominante em Natal quando o assunto é a prefeita Micarla de Sousa (PV).
Eleita com folga há dois anos e meio, a carismática apresentadora de TV enfrenta agora o isolamento político e a rejeição popular, além de uma comissão de inquérito e o movimento “Fora, Micarla” — que quer vê-la fora do cargo antes da hora. Sem muitas opções, a prefeita busca na aproximação com antigos adversários uma forma de dar sobrevida à sua gestão.
No início deste mês, um grupo de manifestantes ocupou por dez dias a Câmara Municipal de Natal, de onde só saiu após a garantia de instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar os contratos firmados pela prefeitura. Há suspeitas de irregularidades em aluguéis pagos mensalmente pelo Executivo Municipal.
A ocupação do prédio, porém, é o estopim de um contínuo processo de desgaste da imagem de Micarla na capital potiguar. Os incontáveis buracos e a sujeira nas ruas e calçadas, bem como o atendimento precário no sistema municipal de saúde são as principais queixas dos muitos natalenses declaradamente arrependidos da prefeita que elegeram.
"Ela perdeu o respeito. Decepcionou muito, principalmente os mais humildes", avalia o ambulante Lizanildo Antonio da Silva, ex-eleitor de Micarla. O taxista João Diniz, que há 15 anos faz ponto em frente ao prédio da prefeitura, integra o mesmo grupo: "Ela não ganha nem pra líder comunitária. Foi uma decepção completa", queixa-se.
O primeiro grande ato organizado contra Micarla ocorreu em 25 maio deste ano, quando um grupo de estudantes, engrossado por sindicalistas e militantes partidários, fez um panelaço para reclamar do reajuste nas passagens de ônibus. O sucesso do protesto, segundo seus organizadores, se deveu ao poder das redes sociais, especialmente o Twitter, onde se multiplicou rapidamente o tópico #ForaMicarla.
"Ela se revelou uma administradora totalmente incompetente. A cidade está um caos, todos os serviços públicos pioraram, e essa insatisfação vai se acumulando. Somado às suspeitas de corrupção, o ambiente fica propício para esse tipo de movimento", avalia o cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Manuel Evangelista.
O ambiente também ficou propício para o PT local, derrotado por Micarla em 2008 e seu maior adversário. Disposto a evitar que os protestos ganhassem status político, como sustenta a prefeita, o partido negou qualquer interferência na formação e reprodução do #ForaMicarla.
"O protesto brotou de forma espontânea. Agora, uma vez criado, o PT participou. Foi um movimento belíssimo", afirmou a deputada federal Fátima Bezerra, principal concorrente de Micarla nas eleições de 2008. Segundo a parlamentar, a gestão da prefeita é "uma combinação de descontinuidade, ineficiência e falta de capacidade de gestão. Micarla não tem experiência nenhuma. Ela era do mundo da TV. Era uma boa apresentadora.”
Filha do senador Carlos Alberto de Sousa, morto em 1998, a prefeita de Natal se lançou na política após anos como apresentadora da TV Ponta Negra, retransmissora do SBT em Natal, da qual sua família é proprietária. "Diante de uma audiência de perfil bem popular, ela construiu a imagem de quem conhecia os problemas da cidade. Também fazia jornalismo com alguma isenção, o que deu a ela certa credibilidade", lembra Evangelista, da UFRN.
A primeira experiência política foi em 2004, quando Micarla foi eleita vice-prefeita na chapa de Carlos Eduardo Alves, à época no PSB. Não tardou, e ela rompeu com o prefeito. Dois anos mais tarde, foi eleita deputada estadual e começou a campanha para a prefeitura.
O sucesso da empreitada necessitava, porém, de uma aproximação com setores ligados ao empresariado e à elite potiguar. A tarefa que coube ao senador José Agripino Maia (DEM), que conhece a prefeita desde criança e que também acabou arrependido da escolha.
Em clima de grande otimismo, Micarla foi eleita no primeiro turno em 2008, com o apoio maciço de importantes líderes da direita potiguar, como a atual governadora, Rosalba Ciarlini (DEM), o atual vice-governador, Robinson Faria (PSD), e o deputado federal João Maia (PR), além do próprio Agripino. Hoje todos estão afastados da prefeita, que botou para correr a maioria dos secretários indicados pelos então aliados.
A dança das cadeiras na equipe de Micarla salta aos olhos. Em dois anos e meio de gestão já foram mais de 50 secretários. "Essa rotatividade é péssima para ela, eu já disse isso várias vezes. Mas o problema é que muitos pediram para sair", conta o líder do governo na Câmara, Enildo Alves (sem partido). "Com todo esse rodízio, ela acabou se isolando, infelizmente", admitiu o vereador.
Apesar de todos os problemas, as conveniências da política permitiram que a prefeita mantivesse na Câmara a maioria conquistada depois que venceu as eleições. Maior partido da Casa, com seis vereadores, o PSB apoiou a candidata do PT em 2008, mas aderiu ao bloco governista nos primeiros dias de gestão Micarla, com exceção da vereadora Julia Arruda.
O desgaste, ainda assim, só aumentou — e pôde ser percebido claramente nas eleições do ano passado, quando Micarla amargou derrotas acachapantes do marido, Miguel Weber, e da irmã, Rosy de Sousa, que disputaram os cargos de deputado estadual e federal, respectivamente. Ela também foi "escondida" por Agripino e Rosalba Ciarlini, então candidatos. "Ninguém a queria no palanque. Era vaia na certa", contou uma pessoa influente no governo estadual.
Em sua defesa, a prefeita alega falta de recursos e perseguição política. Em coletiva de imprensa concedida durante a ocupação da Câmara, ela negou irregularidades na gestão e afirmou que o #ForaMicarla não tem pauta de reivindicações. No seu entender, o movimento é uma estratégia de antecipação do debate eleitoral de 2012 por parte da oposição.
Recentemente, Micarla também reclamou da bancada potiguar na Câmara dos Deputados que, "salvo algumas exceções", não estaria trabalhando por Natal. A resposta foi imediata. O tucano Rogério Marinho, outro ex-aliado, disse ao Diário de Natal que o município está perdendo a oportunidade de atrair recursos federais pois está inadimplente com o Cadastro Único dos Convênios.
Micarla acredita que a entrada de recursos do PAC, prometida para os próximos meses, poderá lhe devolver alguma credibilidade. Esse seria um dos motivos, segundo um aliado da prefeita, para a aproximação com o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB), que nas eleições de 2008 apoiou a adversária de Micarla.
Influente em Brasília, o parlamentar estaria trabalhando para agilizar a liberação dos recursos para a capital potiguar, especialmente os referentes ao PAC de Mobilidade. Em troca, indicou os secretários de Obras e Mobilidade Urbana, pastas nas quais será despejada boa parte do dinheiro federal. "Na atual conjuntura, é conveniente para os dois", afirmou o aliado.
Micarla também estaria buscando uma aproximação com a ex-governadora Wilma de Faria (PSB), outra que apoiou o PT na última eleição municipal. Recentemente, duas pessoas próximas à Wilma assumiram as secretarias de Gestão de Pessoas e de Serviços Urbanos, gerando especulações sobre uma possível aliança com o PSB.
Pelo menos oficialmente, a ex-governadora tem dito que segue como oposição à prefeita. Wilma, aliás, é uma provável candidata à prefeitura em 2012, ao lado do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT) e do deputado estadual Fernando Mineiro (PT).
Estratégias de sobrevivência à parte, Micarla já é considerada peça excluída do tabuleiro político potiguar. "Ela está tão arrasada que bater nela seria oportunismo", afirmou uma importante liderança política do Rio Grande do Norte. Considerado o cenário atual, a tendência é de que a prefeita desista da reeleição. Além da rejeição popular e do isolamento, a família estaria pressionando Micarla, que tem um problema cardíaco, a retomar as atividades na televisão.
É o que espera a empresária Françoise Medeiros, dona da ótica que fica em frente à maltratada fachada da Prefeitura de Natal. Após dar nota zero para a gestão municipal, ela reclamou dos buracos e da sujeira em frente ao seu estabelecimento. "Se na rua da prefeitura é assim, imagine na periferia. Micarla bem que podia botar a cabecinha na janela, né?"
Da Redação, com informações do Valor Econômico
No início deste mês, um grupo de manifestantes ocupou por dez dias a Câmara Municipal de Natal, de onde só saiu após a garantia de instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar os contratos firmados pela prefeitura. Há suspeitas de irregularidades em aluguéis pagos mensalmente pelo Executivo Municipal.
A ocupação do prédio, porém, é o estopim de um contínuo processo de desgaste da imagem de Micarla na capital potiguar. Os incontáveis buracos e a sujeira nas ruas e calçadas, bem como o atendimento precário no sistema municipal de saúde são as principais queixas dos muitos natalenses declaradamente arrependidos da prefeita que elegeram.
"Ela perdeu o respeito. Decepcionou muito, principalmente os mais humildes", avalia o ambulante Lizanildo Antonio da Silva, ex-eleitor de Micarla. O taxista João Diniz, que há 15 anos faz ponto em frente ao prédio da prefeitura, integra o mesmo grupo: "Ela não ganha nem pra líder comunitária. Foi uma decepção completa", queixa-se.
O primeiro grande ato organizado contra Micarla ocorreu em 25 maio deste ano, quando um grupo de estudantes, engrossado por sindicalistas e militantes partidários, fez um panelaço para reclamar do reajuste nas passagens de ônibus. O sucesso do protesto, segundo seus organizadores, se deveu ao poder das redes sociais, especialmente o Twitter, onde se multiplicou rapidamente o tópico #ForaMicarla.
"Ela se revelou uma administradora totalmente incompetente. A cidade está um caos, todos os serviços públicos pioraram, e essa insatisfação vai se acumulando. Somado às suspeitas de corrupção, o ambiente fica propício para esse tipo de movimento", avalia o cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Manuel Evangelista.
O ambiente também ficou propício para o PT local, derrotado por Micarla em 2008 e seu maior adversário. Disposto a evitar que os protestos ganhassem status político, como sustenta a prefeita, o partido negou qualquer interferência na formação e reprodução do #ForaMicarla.
"O protesto brotou de forma espontânea. Agora, uma vez criado, o PT participou. Foi um movimento belíssimo", afirmou a deputada federal Fátima Bezerra, principal concorrente de Micarla nas eleições de 2008. Segundo a parlamentar, a gestão da prefeita é "uma combinação de descontinuidade, ineficiência e falta de capacidade de gestão. Micarla não tem experiência nenhuma. Ela era do mundo da TV. Era uma boa apresentadora.”
Filha do senador Carlos Alberto de Sousa, morto em 1998, a prefeita de Natal se lançou na política após anos como apresentadora da TV Ponta Negra, retransmissora do SBT em Natal, da qual sua família é proprietária. "Diante de uma audiência de perfil bem popular, ela construiu a imagem de quem conhecia os problemas da cidade. Também fazia jornalismo com alguma isenção, o que deu a ela certa credibilidade", lembra Evangelista, da UFRN.
A primeira experiência política foi em 2004, quando Micarla foi eleita vice-prefeita na chapa de Carlos Eduardo Alves, à época no PSB. Não tardou, e ela rompeu com o prefeito. Dois anos mais tarde, foi eleita deputada estadual e começou a campanha para a prefeitura.
O sucesso da empreitada necessitava, porém, de uma aproximação com setores ligados ao empresariado e à elite potiguar. A tarefa que coube ao senador José Agripino Maia (DEM), que conhece a prefeita desde criança e que também acabou arrependido da escolha.
Em clima de grande otimismo, Micarla foi eleita no primeiro turno em 2008, com o apoio maciço de importantes líderes da direita potiguar, como a atual governadora, Rosalba Ciarlini (DEM), o atual vice-governador, Robinson Faria (PSD), e o deputado federal João Maia (PR), além do próprio Agripino. Hoje todos estão afastados da prefeita, que botou para correr a maioria dos secretários indicados pelos então aliados.
A dança das cadeiras na equipe de Micarla salta aos olhos. Em dois anos e meio de gestão já foram mais de 50 secretários. "Essa rotatividade é péssima para ela, eu já disse isso várias vezes. Mas o problema é que muitos pediram para sair", conta o líder do governo na Câmara, Enildo Alves (sem partido). "Com todo esse rodízio, ela acabou se isolando, infelizmente", admitiu o vereador.
Apesar de todos os problemas, as conveniências da política permitiram que a prefeita mantivesse na Câmara a maioria conquistada depois que venceu as eleições. Maior partido da Casa, com seis vereadores, o PSB apoiou a candidata do PT em 2008, mas aderiu ao bloco governista nos primeiros dias de gestão Micarla, com exceção da vereadora Julia Arruda.
O desgaste, ainda assim, só aumentou — e pôde ser percebido claramente nas eleições do ano passado, quando Micarla amargou derrotas acachapantes do marido, Miguel Weber, e da irmã, Rosy de Sousa, que disputaram os cargos de deputado estadual e federal, respectivamente. Ela também foi "escondida" por Agripino e Rosalba Ciarlini, então candidatos. "Ninguém a queria no palanque. Era vaia na certa", contou uma pessoa influente no governo estadual.
Em sua defesa, a prefeita alega falta de recursos e perseguição política. Em coletiva de imprensa concedida durante a ocupação da Câmara, ela negou irregularidades na gestão e afirmou que o #ForaMicarla não tem pauta de reivindicações. No seu entender, o movimento é uma estratégia de antecipação do debate eleitoral de 2012 por parte da oposição.
Recentemente, Micarla também reclamou da bancada potiguar na Câmara dos Deputados que, "salvo algumas exceções", não estaria trabalhando por Natal. A resposta foi imediata. O tucano Rogério Marinho, outro ex-aliado, disse ao Diário de Natal que o município está perdendo a oportunidade de atrair recursos federais pois está inadimplente com o Cadastro Único dos Convênios.
Micarla acredita que a entrada de recursos do PAC, prometida para os próximos meses, poderá lhe devolver alguma credibilidade. Esse seria um dos motivos, segundo um aliado da prefeita, para a aproximação com o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB), que nas eleições de 2008 apoiou a adversária de Micarla.
Influente em Brasília, o parlamentar estaria trabalhando para agilizar a liberação dos recursos para a capital potiguar, especialmente os referentes ao PAC de Mobilidade. Em troca, indicou os secretários de Obras e Mobilidade Urbana, pastas nas quais será despejada boa parte do dinheiro federal. "Na atual conjuntura, é conveniente para os dois", afirmou o aliado.
Micarla também estaria buscando uma aproximação com a ex-governadora Wilma de Faria (PSB), outra que apoiou o PT na última eleição municipal. Recentemente, duas pessoas próximas à Wilma assumiram as secretarias de Gestão de Pessoas e de Serviços Urbanos, gerando especulações sobre uma possível aliança com o PSB.
Pelo menos oficialmente, a ex-governadora tem dito que segue como oposição à prefeita. Wilma, aliás, é uma provável candidata à prefeitura em 2012, ao lado do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT) e do deputado estadual Fernando Mineiro (PT).
Estratégias de sobrevivência à parte, Micarla já é considerada peça excluída do tabuleiro político potiguar. "Ela está tão arrasada que bater nela seria oportunismo", afirmou uma importante liderança política do Rio Grande do Norte. Considerado o cenário atual, a tendência é de que a prefeita desista da reeleição. Além da rejeição popular e do isolamento, a família estaria pressionando Micarla, que tem um problema cardíaco, a retomar as atividades na televisão.
É o que espera a empresária Françoise Medeiros, dona da ótica que fica em frente à maltratada fachada da Prefeitura de Natal. Após dar nota zero para a gestão municipal, ela reclamou dos buracos e da sujeira em frente ao seu estabelecimento. "Se na rua da prefeitura é assim, imagine na periferia. Micarla bem que podia botar a cabecinha na janela, né?"
Da Redação, com informações do Valor Econômico
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