quinta-feira, 2 de junho de 2011

O latifúndio está indo longe demais no País

Jornalista Messias Pontes - membro do Barão de Itararé Núcleo Ceará
Encorajados pela impunidade, os latifundiários e madeireiros brasileiros, notadamente no Norte do País, continuam tingindo de vermelho o solo daquela região. E o pior é que vem crescendo assustadoramente a barbárie ali praticada sem que nada ou praticamente nada seja feito para impedir que isso aconteça. No Norte do País as mortes são anunciadas com muita antecedência pelos camponeses, líderes sindicais, Comissão Pastoral da Terra e diversas entidades de defesa dos direitos humanos.
Somente na semana passada os pistoleiros, a serviço dos latifundiários e madeireiros, tiraram a vida de quatro trabalhadores: o casal de extrativista José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher Maria do Espírito Santo, em Nova Ipixuna, no Pará. Logo em seguida, na mesma localidade, o também agricultor Eremilton Pereira dos Santos, testemunha dos crimes, foi assassinado como queima de arquivo. O quarto trabalhador rural covardemente assassinato foi o líder sindical Adelino Ramos, carinhosamente chamado de Dinho, em Rondônia. Todos lutavam contra o latifúndio e em defesa da mata.
Em abril do ano passado, no município cearense de Limoeiro do Norte, na localidade de Tomé, na Chapada do Apodi, o ambientalista José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, foi barbaramente assassinado com nada menos de 25 tiros, mas até hoje os criminosos e os mandantes continuam impunes.
Respeitada liderança naquela região, o ambientalista já tinha sido ameaçado de morte por denunciar o uso abusivo de agrotóxico nas plantações de banana na Chapada do Apodi, fato pesquisado pelo Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará, coordenado pela médica e professora Raquel Rigotto, que constatou a presença de agrotóxico na água da região e doenças causadas pelo veneno usado. Ainda hoje a viúva Lucinda Xavier chora a morte do marido e a impunidade dos criminosos. O povo clama por justiça, mas esta não existe para os pobres.
Ontem, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará denunciaram que um sindicalista, um agricultor e dois vereadores de Nova Ipixuna seriam os próximos, de uma extensa lista, marcados para morrer. Em nota, a Fetagri afirma que madeireiros e fazendeiros disseminaram um clima de terror no assentamento Praialta/Piranheira, exatamente no local onde foram mortos José Cláudio Ribeiro da Silva , Maria do Espírito Santo no dia 24 e o Eremilton Pereira dos Santos quatro dias depois.
De acordo com a Fetagri, os quatro ameaçados de morte são o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Ipixuna, Eduardo Rodrigues da Silva; o presidente da Associação do Assentamento Praialta/Piranheira, Osmar Cruz Lima, além dos vereadores do município, João Batista Delmondes e Valdemir de Jesus Ferreira, ambos do PT. Eles passaram a integrar a lista por denunciarem grilagem de terras e extração ilegal de madeira. As famílias estão apavoradas e entram em pânico quando aparece alguém de carro ou motocicleta na comunidade. Por conta das ameaças, Eduardo Rodrigues foi aconselhado a sair por alguns tempos do assentamento. Ele estaria protegido por amigos no município paraense de Marabá.
Fiscais do IBAMA e agentes da Polícia Federal realizaram uma vistoria no último sábado no assentamento Praialta/Piranheira e comprovaram um cenário de devastação de espécies nobres de árvores, como Angelim, ipê roxo, ipê amarelo e castanheira, árvore cujo corte é proibido por lei em razão de correr risco de extinção.
Anteontem o governo federal anunciou a criação de um grupo interministerial para discutir quais medidas serão tomadas para conter a violência no campo. O anúncio foi feito após reunião comandada pelo presidente em exercício, Michel Temer, e representantes de alguns ministérios. Esse grupo será formado pelos Ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Geral da Presidência e Gabinete Institucional.
Segundo relato do advogado da Comissão Pastoral da Terra do Pará, José Batista Afonso, no ano passado a entidade havia entregue a lista ao ministro da Justiça. Informa ainda que, desde 1985, é feita a publicação de nomes das pessoas ameaçadas de morte e tudo isso é do conhecimento público. O que relata o advogado da CPT é alarmante: 1.588 pessoas foram assassinadas de 1985 até hoje, e que 91 mandantes dos crimes foram julgados, contudo, somente 21 foram condenados e apenas um cumpre pena, no caso Vitalmiro de Bastos, pela morte da missionária Dorothy Stang em fevereiro de 2005, em uma propriedade rural a cerca de 50 quilômetros do município de Anapu, no Pará.
O problema está na estrutura fundiária. Enquanto o governo federal não decidir realizar uma verdadeira reforma agrária, crimes semelhantes continuarão a acontecer. É inconcebível que o Brasil seja o único país das Américas a não realizar a reforma agrária.

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