sábado, 9 de julho de 2011

DEVASSA NA MÍDIA , MAS NO REINO UNIDO.

Devassa na mídia
Polícia detém dois ex-jornalistas do tabloide News of the World, acusados de corrupção e de envolvimento em grampos telefônicos. Agentes realizam buscas nos escritórios do jornal Daily Star
Rodrigo Craveiro-Adrian Dennis/AFP
Ativista fantasiado como o magnata Rupert Murdoch segura marionete do premiê David Cameron: relações entre imprensa e poder em xeque
No dia em que o premiê britânico, David Cameron, fez um duro discurso no qual cobrou uma nova regulação sobre a imprensa (leia trechos), o escândalo dos grampos telefônicos realizados pelo jornal News of the World motivou a detenção temporária de dois jornalistas e expôs mais um veículo. Um porta-voz da Polícia Metropolitana de
Londres, a Scotland Yard, confirmou à agência France-Presse que os escritórios do Daily Star foram alvo de buscas na noite de ontem. O tabloide sensacionalista, também suspeito de praticar a escuta ilegal, é o novo local de trabalho de Clive Goodman, ex-editor do News of the World para assuntos reais. Goodman e Andy Coulson, ex-diretor de comunicação de Cameron, foram detidos ontem e colocados em liberdade condicional pelos próximos três meses, após pagarem fiança. Ambos são acusados de “pagamentos inapropriados” à polícia, em troca de informações exclusivas, e de interceptação de comunicações. Ao deixar uma delegacia do sul de Londres, Coulson — redator-chefe do News of the World entre 2003 e 2007 — foi evasivo. “Há muitas coisas que gostaria de dizer, mas não posso agora”, afirmou, às 19h30 (16h30 em Brasília), após depor durante nove horas.
Menos de 24 horas após o anúncio do fechamento do News of the World a partir da próxima semana, Rebekah Brooks, braço-direito do magnata Rupert Murdoch e presidente do grupo News International, se afastou da chefia da investigação sobre os grampos. Por meio de uma nota, Rebekah garantiu que a empresa não vai interferir no inquérito policial e se disse “amargamente traída” pelos repórteres. Ela assegurou que “as piores revelações (sobre o caso) ainda estão por vir”. “Vocês verão dentro de um ano porque fechamos o News of the World”, avisou. No entanto, a Scotland Yard averigua se um alto executivo do mesmo grupo teria apagado milhares de e-mails que revelariam o contato diário entre repórteres, detetives e editores envolvidos no escândalo.
Para o britânico Julian Petley, professor de mídia televisiva de jornalismo da Brunel University (em Londres), as detenções de Goodman e de Coulson serviram para dar a impressão de que o problema das escutas foi resolvido. “Ficou claro que o grampo era endêmico no News of the World. Andy Coulson acabou jogado para os lobos e o tabloide, fechado”, explica ao Correio, por e-mail. “O inocente foi punido e a pessoa que carrega maior responsabilidade por essa situação parece ter saído ilesa”, acrescenta. Ele acredita que a justiça só será feita se a ex-editora do tabloide for pelo menos demitida. “Essa ação deve se estender para além do News of the World e incluir jornalistas de outros veículos, como o Daily Mail, e policiais corruptos”, alerta Petley.
O primeiro-ministro citou Rebekah e o ex-assessor Coulson em seu discurso em Downing Street. “Andy Coulson se demitiu do News of the World por causa das coisas que ocorreram sob seu comando. Eu decidi dar a ele uma segunda chance — e ninguém nunca levantou preocupações graves sobre como ele trabalhou para mim. Mas a segunda chance não funcionou e ele teve de se demitir novamente”, disse. “A decisão de contratá-lo foi minha — somente minha — e me responsabilizo totalmente por isso”, emendou. Em relação a Rebekah, Cameron admitiu que não cabe ao premiê escolher quem deveria ou não dirigir organizações da mídia. “Mas foi relatado que ela ofereceu sua demissão e, nesta situação, eu a teria aceito.”
Cameron ordenou a abertura de dois inquéritos, um policial e outro destinado a “descobrir a verdade” e “limpar a imprensa britânica”. “O segundo inquérito se focará em como nossos jornais são regulados e fará recomendações para o futuro”, explicou. O primeiro-ministro reconheceu que a Comissão de Queixas sobre a Imprensa fracassou no escândalo do tabloide. De acordo com ele, o governo tem duas opções. “Você pode minimizar e negar que o problema seja profundo ou aceitar a gravidade da situação e lidar com ela”, declarou. “Eu escolho lidar com ela.”
Mais um veículo na mira da lei
Em sua página na internet, o tabloide Daily Star noticiava ontem o escândalo dos grampos, enquanto se tornava alvo de investigação policial. Com uma circulação diária de pouco mais de 730 mil exemplares, o jornal pertence à empresa Express Newspapers, do executivo Richard Clive Desmond. Em 2008, o veículo foi processado por Kate e Gerry McCann, pais da menina desaparecida em Portugal aos três anos de idade. O tabloide publicou várias reportagens acusando o casal de envolvimento no sumiço da própria filha. Fundado em 20 de novembro de 1978, o Daily Star tem exibido uma inclinação ao governo de David Cameron.

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